É hora de usar máscara novamente, afirmam especialistas em saúde

As máscaras estão de volta, e, dessa vez, não são apenas para a Covid-19. A “tripledemia” de coronavírus, influenza e vírus respiratório sincicial (VSR), responsável pela bronquiolite em bebês, tem acendido o alerta de autoridades como a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço regional da Organização Mundial da Saúde (OMS).

— O aumento de uma única infecção respiratória é motivo de preocupação. Quando dois ou três começam a impactar uma população simultaneamente, isso deve nos colocar em alerta — disse a diretora da Opas Carissa Etienne, em coletiva de imprensa recente.

Nos Estados Unidos, o aumento de casos tem levado cidades como Nova York e Los Angeles a encorajarem a população para o uso de máscaras nos espaços públicos. No país, as internações e casos de Covid-19 tiveram um pico de 24% e 56% respectivamente, em relação às duas últimas semanas.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estimam que há 13 milhões de doentes e 7.300 mortes por gripe nessa nova onda, sendo que a expectativa é de aumento para esses números nos próximos meses.

Além disso, na última década, as mortes por gripe cresceram de 12 mil para 52 mil pessoas, com maior ocorrência entre janeiro e fevereiro. Já os casos de VSR que pareciam diminuir, mantiveram-se altos em muitos lugares do país.

No Brasil, o último boletim InfoGripe, da Fiocruz, destaca que os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), provocados por vírus respiratórios como o influenza, o VSR e o da Covid-19, continuam em alta na maior parte do país. Diversos estados retomaram a recomendação do uso de máscaras. Em São Paulo, o item voltou a ser obrigatório no transporte público.

— Esse impacto em formas graves é majoritariamente em três populações: os não vacinados, ou vacinados parcialmente; os extremos de idade, como idosos e bebês, e os imunossuprimidos. Nesse contexto, o uso de máscara fica recomendado principalmente para essas populações mais vulneráveis e para aqueles que têm contato com esses grupos — orienta o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alexandre Naime Barbosa, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).

Nos EUA, o CDC aconselha oficialmente o uso de máscara a depender dos níveis de Covid-19 da comunidade, que levam em consideração internações hospitalares relacionadas ao vírus, capacidade de leitos e taxas de casos. No entanto, Rochelle Walensky, diretora da instituição reforça que a utlização pode ser feita por qualquer pessoa e em qualquer contexto.

— Os dados sobre Covid-19, gripe e VSR podem ser mais graves ou menos intensos em algumas partes do país, mas, na verdade, todo esse está sendo afetado — afirma William Schaffner, professor de medicina preventiva da Escola de Medicina da Universidade Vanderbilt, nos EUA. Como resultado, ele pede para que as pessoas que moram em áreas de risco voltem a usar máscaras nos espaços públicos.

Os riscos são maiores nos lugares onde moram adultos com mais de 65 anos, mulheres grávidas, pessoas com comorbidades, como problemas no coração, diabetes ou imunossuprimidas. Helen Chu, professora de alergia e doenças infecciosas da UW Medicine, em Seattle, recomenda o uso de máscaras enquanto as infecções e hospitalizações estiverem altas.

— Eu acho que é um ótimo momento para o uso de máscaras. Dado o cenário atual, onde os hospitais estão quase superlotados, especialmente os pediátricos com casos de VSR e gripe, qualquer coisa que você possa fazer para diminuir a transmissão será útil — explica Chu.

Há uma forte evidência de que as máscaras ajudam a reduzir a transmissão de muitos vírus respiratórios. Um estudo publicado em 2020 por pesquisadores de Hong Kong, por exemplo, mostra que pessoas com Covid-19 e gripe exalavam menos partículas virais quando usavam máscara cirúrgica.

Um estudo sobre as políticas contra a Covid-19 nas escolas de Boston descobriu que a remoção da obrigatoriedade do uso de máscara, em 2022, estava ligada a quase 12 mil casos adicionais entre alunos e funcionários.

As taxas de influenza e outros vírus respiratórios diminuíram essencialmente durante as temporadas de inverno de 2020 e 2021, o que foi amplamente atribuído às proteções que o país adotou para impedir a propagação da Covid-19.

— O que a Covid nos mostrou foi que o distanciamento social e o uso de máscaras ajudam a diminuir a contaminação pela gripe, pelo vírus do resfriado comum e do VSR — afirma Schaffner.

As máscaras funcionam filtrando as minúsculas partículas de aerossol através das quais o coronavírus se espalha, além das gotículas maiores que, aparentemente, são responsáveis ​​pela maioria das infecções por influenza e VSR. Elas também impedem que você toque em seu rosto caso pegue partículas de vírus em suas mãos de uma maçaneta ou do poste do metrô.

— A verdade básica é que as máscaras funcionam. Se você está falando sobre Covid-19 ou outros vírus respiratórios como VSR e gripe, usar uma máscara ajudará a protegê-lo contra todas essas doenças virais respiratórias — explica Syra Madad, diretora sênior do programa de patógenos especiais em todo o sistema do New York City Health + Hospitals.

Outras medidas de saúde pública, como lavar as mãos, limpar superfícies e filtrar o ar, também são importantes para limitar a propagação dos vírus respiratórios. Ênfase especial foi colocada na vacinação, especialmente pela Casa Branca e CDC, e você deve absolutamente tomar uma vacina contra a gripe e o último reforço do Covid-19, se ainda não o fez. Mas as vacinas são melhor pensadas como proteção contra doenças graves se você for infectado por um vírus. As máscaras são a primeira linha de defesa contra a transmissão.

— Francamente, para prevenir a transmissão, nem os antivirais nem as vacinas fizeram um bom trabalho, diz Abraar Karan, pesquisador de doenças infecciosas e pós-doutorado da Stanford Medicine. Segundo ele, o que impede a transmissão é, na verdade, — o uso de máscaras e a provável filtragem do ar.

Ao avaliar quando e onde usar máscara, Madad recomenda prestar atenção ao distanciamento entre as pessoas, à lotação dos espaços e se há pouca ventilação. Os especialistas recomendam o uso de máscaras ao viajar de avião e nos transportes públicos, e sugerem enfaticamente que a usem ao fazer compras em supermercados.

Para as festas de fim de ano feitas só com pessoas que você conhece, não há problema em abrir mão das máscaras se os convidados testarem com antecedência e ficar em casa se estiverem se sentindo exaustos.

Realisticamente, nem todos nos Estados Unidos – ou em uma determinada cidade – usarão máscara. Na verdade, você pode ser a única pessoa em uma loja ou avião que está usando um. Não deixe que isso o desencoraje. Por um lado, lembre-se de que ninguém está pensando em você tanto quanto você pensa. Em psicologia social, isso é chamado de ilusão do holofote, afirma Gretchen Chapman, professora de ciências sociais e de decisão na Carnegie Mellon University.

— Posso sentir que todos estão olhando para mim porque estou usando uma máscara, mas é provável que essa seja a coisa menos importante com que eu deva me preocupar — reforça ela.

As informações são do Jornal O GLOBO.

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