Entenda por que a maçonaria desperta tantas teorias da conspiração

Uma hora é um livro novo, outra hora uma declaração política. Teorias e conspirações envolvendo a maçonaria, uma sociedade que sempre teve sua aura de mistério, povoam desde ficções best-sellers como O Símbolo Perdido, de Dan Brown, até a campanha eleitoral brasileira de 2018.

Mas o que é a maçonaria, afinal? Com cerca de 170 mil membros no Brasil, trata-se de uma sociedade outrora secreta, de caráter filosófico e filantrópico. Seus integrantes defendem os princípios da liberdade, da democracia, da igualdade e da fraternidade, além de serem entusiastas do aperfeiçoamento intelectual. Calcula-se que haja 3,6 milhões de maçons no mundo.

Sua origem remonta à Idade Média, quando as profissões se agrupavam em corporações de ofício – as chamadas guildas. Os pedreiros ou construtores, com o conhecimento herdado das técnicas romanas e gregas, se organizavam em um desses grupos. E, por uma questão de sobrevivência frente a uma possível concorrência, eles guardavam os segredos da construção civil, temerosos de que as técnicas caíssem em domínio público.

O grupo, então, nasceu assim: como um maneira de garantir a hegemonia do conhecimento e, ao mesmo tempo, possibilitar um intercâmbio de informações entre essa confraria de construtores. Aos poucos, outros temas foram introduzidos nas conversas. O que eram apenas convescotes laborais, portanto, foram ganhando importância em termos de debate.

Como sociedade filosófica e filantrópica, a maçonaria foi fundada em 24 de junho de 1717, na Inglaterra. Foi ideia de dois pastores protestantes, James Anderson e J. T. Desaguliers, alinhados com os princípios do livre pensamento que nortearam o movimento conhecido como iluminismo.

Historicamente, a sociedade só aceita homens. De acordo com eles, é uma questão de tradição: como a maçonaria teve origem nas corporações de ofício dos pedreiros medievais – e eles eram estritamente masculinos -, a regra foi mantida.

O poder veio nos Estados Unidos. Ali, os maçons tiveram participação importante na Independência americana e, não à toa, dos 55 signatários da Declaração de Independência, nove vinham da maçonaria. Dos 39 que aprovaram a Constituição, 13 eram maçons. Benjamin Franklin era maçom. George Washington, o primeiro presidente americano, também. Na virada do século 18 para o século 19, a maçonaria era um ‘clube’ que reunia as mentes mais influentes e antenadas do planeta.

Os maçons também influenciaram a Revolução Francesa – conta-se que a Marselhesa, hino da França, foi composta na loja maçônica de Marselha.

Influência nas independências sul-americanas

Na América do Sul, não foi diferente. Conforme estudos do pesquisador inglês Andrew Prescott, autor de A História da Maçonaria da Marca, a sociedade participou dos processos de independência de todos os países sul-americanos. Na lista dos ilustres maçons libertadores, estão o venezuelano Simon Bolívar, o argentino José de San Martín e o chileno Bernardo O’Higgins. Além, é claro, de D. Pedro 1º.

“A maçonaria influenciou o processo de independência e, depois do Sete de Setembro, reuniões em lojas maçônicas pediam ajuda aos irmãos para que D. Pedro fosse reconhecido como imperador constitucional do Brasil”, afirma o historiador Paulo Rezzutti, autor da biografia D. Pedro – A História Não Contada.

A maçonaria brasileira nomeou Pedro 1º grão-mestre da sociedade. E ele assumiu a alcunha de Guatimozin – nome dado pelos cronistas espanhóis ao último imperador asteca.

Não foi só a Independência. A República também veio por meio de um maçom, marechal Deodoro da Fonseca.

Estima-se que existam 3,6 milhões de maçons no mundo (Divulgação)

Conspirações

O terreno fértil para conspirações tem dois motivos: o fato de a maçonaria ser uma sociedade exclusiva, ou seja, um clube onde só entram convidados e cujas reuniões são a portas fechadas; e por causa do alto número de celebridades da História que já fizeram parte da sociedade.

Dessa junção de fatores veio também a conhecida teoria conspiratória sobre a suposta “Nova Ordem Mundial”. De acordo com essa lenda, seria um plano para que o mundo tivesse um governo único, planejado e comandado por maçons. Na prática, não faz sentido: nem as lojas maçônicas são únicas, do ponto de vista organizacional; cada casa é independente e abriga confrades com pontos de vista diferentes.

Ingresso

Para se tornar um maçom é preciso receber um convite ou se candidatar – hoje em dia, as associações maçônicas costumam disponibilizar formulários de interesse nos seus sites. A sociedade só permite homens maiores de idade, com endereço fixo e renda própria. Ter religião não é obrigatório, mas é preciso acreditar em Deus. Se o sujeito for casado, tem de contar com a anuência da família.

O iniciante passa por uma avaliação que pode durar até um ano.

“Tenha paciência. Esse processo pode demorar algum tempo e nós precisamos ter certeza de que você será um elemento útil à nossa Instituição, assim como você também deverá ter certeza de que sua decisão será benéfica para você e sua família”, informa a Grande Loja Maçônica do Estado do Rio de Janeiro, em recado aos interessados.

Tudo pode ser investigado: vida financeira, ficha policial, círculo de amizades, relações de trabalho. O nome é submetido aos outros membros e o candidato precisa ser aprovado por unanimidade.

Uma vez dentro, o novato precisa fazer o pacto de silêncio. Ou seja: nada do que é conversado ali dentro pode ser divulgado. Os maçons costumam fazer trabalhos voluntários em instituições filantrópicas e também se ajudam uns aos outros em caso de necessidade.

Historiadora da Universidade de São Paulo, Solange Ferraz de Lima conta que se surpreendeu com a rede maçom quando estudou a vida e a obra do pintor e decorador italiano Oreste Sercelli. Ela percebeu que ele conseguiu rapidamente destaque nos círculos sociais brasileiros, tão logo chegou ao país. Logo, encontrou a explicação: ele era ligado à maçonaria – e, portanto, contava com o apoio dos confrades.

“A história da maçonaria é bem interessante. É impressionante como eles estão presentes em tudo”, afirma a historiadora. “Eles têm essa capacidade de articular, é uma rede muito poderosa. Mas, curiosamente, não é muito estudada – porque eles são muito fechados.”

É uma irmandade. E exclusivamente masculina. Mulheres e filhos são bem-vindos nos trabalhos sociais e eventos festivos – nunca nas reuniões ordinárias.

Segundo os maçons, o veto às mulheres é uma questão de tradição: como a maçonaria teve origem nas corporações de ofício dos pedreiros medievais – e eles eram estritamente masculinos -, a determinação foi mantida.

Apesar de todas essas regras e esse imaginário, acredita-se que a sociedade esteja muito mais aberta do que no passado. Crítico da ordem, o ex-maçom britânico Martin Short escreveu, no livro Inside The Brotherhood, que a maçonaria passa por essa transição.

Segundo ele, o que era uma sociedade secreta, hoje é uma sociedade discreta. Mas, em breve, o autor acredita, a maçonaria será uma sociedade civil aberta.

As informações são do Yahoo.

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