Causou celeuma nas redes sociais, na última terça-feira (4), um vídeo em que Jair Bolsonaro fazia uma palestra em uma loja maçônica.
No vídeo, o presidente discursa logo abaixo de um desenho de Baphomet, símbolo desenvolvido no século 19 por um ocultista chamado Éliphas Lévi. Esse símbolo representa (ou deveria representar) processos de autoconhecimento condensados. Para muitos, trata-se apenas do Diabo.
A imagem de Baphomet que aparece no vídeo é uma montagem, embora a palestra seja verdadeira – e antiga.
O clipe chegou até Leandro Lousada, especialista com pós-graduação em ciências da religião e fundador do canal Conhecimentos da Humanidade, há quase cinco anos. “O Bolsonaro realmente já foi em várias lojas maçônicas. Recebi este vídeo em 2017, mas ele está sendo ressuscitado na campanha.”
Lousada explica que o símbolo inserido maliciosamente no vídeo original não deveria ser ligado ao diabo. Mas, ao longo do tempo, tanto um quanto o outro passaram a ser associados à maçonaria. “Tanto é que os próprios maçons, brincando com essa associação feita pelos religiosos, se assumiram como bodes. Baphomet também é conhecido como bode.”
A histeria provocada pelo vídeo é resultado do desconhecimento sobre a própria maçonaria, uma ordem filosófica discreta, e não secreta, como explica Lousada, que nasceu oficialmente em 1717 com sob os lemas da liberdade, igualdade e fraternidade. “São lemas muito parecidos com os da Revolução Francesa. Só que dentro deste ideal de liberdade está a liberdade religiosa. A maçonaria admite em suas fileiras qualquer pessoa que acredite em alguma crença superior. Pode ser Deus, pode ser universo, o grande arquiteto do universo, que é como eles chamam Deus dentro da maçonaria. A pessoa só não pode ser atéia.”
Um dos mitos relacionados à maçonaria é justamente o de que se trata de uma ordem secreta. Isso está errado, segundo o especialista, porque todo mundo sabe onde ficam os templos maçônicos, que tem CNPJ, presta contas e são umas das maiores benfeitoras sociais do planeta.
Apenas os ritos maçônicos são secretos, já que apenas quem é da maçonaria pode participar. Até aí, explica Lousada, tudo é muito parecido com alguns ritos da Igreja Católica, na qual encontros entre cardeais e bispos são muitas vezes fechados.
Outra fonte de desconhecimento, e consequentemente de preconceito, se deve a séculos de campanha promovida pelo clero contra a maçonaria. “A Igreja Católica nunca admitiu que alguém pregasse uma liberdade religiosa, porque a igreja detém o poder circular de Deus na terra. Então, qualquer pessoa de fora da igreja que fale isso está cometendo um pecado. E a igreja publicou proibições para que seus fiéis não façam parte da maçonaria.”
O especialista lembra que quem faz parte da ordem não pode comungar e está cometendo, segundo a Igreja, um pecado mortal.
Historicamente, não deveria haver razões para que pessoas evangélicas se mostrem decepcionadas com o fato de seu candidato frequentar templos do tipo –como muitos demonstraram nas redes.
Isso porque, quando surge o protestantismo, a maçonaria se associa aos novos líderes religiosos. “Era uma briga contra a Igreja em razão do desejo de uma liberdade maior dentro de alguns dogmas católicos”.
Mas como, normalmente, os evangélicos vêm de famílias cristãs e católicas, eles, ao se converter, levaram para as igrejas batistas ou neopentecostais o antigo ranço contra a maçonaria. “Os católicos construíram a ideia de que a maçonaria era uma seita ligada ao diabo e que lá se destruía imagens de santo, mas isso não é verdade, não acontece nada disso lá dentro. Inclusive, uma das regras da maçonaria é respeitar todas as crenças. Então, o maçom que destruísse uma imagem de santo, por exemplo, seria provavelmente expulso da maçonaria.”
O estudioso lembra ainda que hoje a maçonaria é majoritariamente conservadora e que a maior parte de seus frequentadores é, por ironia, católica. “Isso, para os católicos, nem é um grande problema, apesar de o Vaticano proibir, mas dentro das religiões evangélicas isso se tornou uma maneira de se criar um medo tão grande, tão terrível, que eles não podem ser aproximar da maçonaria.”
Para os católicos, avalia Lousada, a associação da imagem de Bolsonaro à maçonaria não deve causar impacto junto ao eleitor.
Mas, para o meio evangélico –e principalmente para aqueles que são mais fanáticos e que passaram a vida inteira sendo doutrinados a se afastar da maçonaria porque ela é do diabo – vídeos como o que está circulando nas redes certamente podem levar seus eleitores a repensar suas escolhas. Mesmo que este vídeo tenha sido manipulado para associar o presidente não apenas à maçonaria, mas à própria imagem do demônio.
As informações são do Yahoo.