A Malásia empossou, nesta quarta-feira, um novo rei numa cerimônia elaborada e impregnada de séculos de tradição, com o bilionário determinado a desempenhar um papel fundamental na garantia da estabilidade política. Casado e com seis filhos, ele já fez viagens anuais por Johor em uma motocicleta Harley-Davidson, com ações de caridade aos pobres.
De ascendência malaio-britânica, Sultão Ibrahim Sultan Iskandar pertence à rica e poderosa família real de Johor, cujo chefe comanda um pequeno exército privado.
A nova posição de Ibrahim é em grande parte cerimonial, mas nos últimos anos tem-se destacado fortemente no cenário político fragmentado do país. Além de supervisionar as principais nomeações políticas, o rei serve como chefe oficial do Islã no país de maioria muçulmana e comandante-chefe das suas forças armadas.
Conhecido também por sua excentricidade, o rei entende de redes sociais, tem uma vasta coleção de carros esportivos e de luxo, bem como jatos particulares. Ele também joga polo e é oficial do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, e estudou no exterior, nos Estados Unidos. Em seu palácio, o novo rei da Malásia abriga também uma vasta coleção de mais de 60 mil unidades de gibis da Marvel, cerca de 300 carros de luxo, entre outros. Ele também é dono de 25% de uma das maiores companhias de telefonia da Malásia.
A Bloomberg estima que o sultão Ibrahim e a sua família, governantes do estado de Johor, no sul, têm propriedades avaliadas em pelo menos US$ 5,7 bilhões de dólares, incluindo terras em Singapura e investimentos em várias empresas, com óleo de palma, ramo imobiliário e telecomunicações. Sua fortuna particular é aproximada em 750 milhões de euros.
Vestindo um traje cerimonial azul royal, o homem de 65 anos prestou juramento, nesta quarta-feira, em uma cerimônia tradicional no palácio nacional na capital Kuala Lumpur.
Em uma entrevista à uma emissora de TV local, em 2013, Ibrahim disse que o carro de Hitler foi enviado para a Inglaterra antes de ter como destino final o país asiático. O veículo seria um presente do nazista ao bisavô do herdeiro.
— Com este juramento, professo solenemente e verdadeiramente ser fiel, governar de forma justa para a Malásia, de acordo com as leis e a constituição —, disse o sultão Ibrahim durante um evento transmitido pela televisão nacional com a presença do primeiro-ministro Anwar Ibrahim e outra elite governante.
O Sultão Ibrahim foi escolhido no ano passado pela realeza do país para ser o próximo chefe de Estado, e uma cerimónia de coroação será realizada dentro de vários meses.
A Malásia é uma monarquia constitucional, com um arranjo único em que o trono muda de mãos a cada cinco anos entre os governantes de nove estados malaios liderados pela centenária realeza islâmica.
Mas embora seja principalmente cerimonial, a posição de rei tem desempenhado nos últimos anos um papel cada vez mais importante.
A intervenção real foi necessária três vezes para nomear primeiros-ministros, após o colapso dos governos e um parlamento suspenso pós-eleitoral nos últimos anos. Numa entrevista ao The Straits Times de Singapura, em dezembro, Ibrahim disse que não estava interessado em se tornar um “rei fantoche”.
“Há 222 de vocês (legisladores) no Parlamento. Há mais de 30 milhões (população) lá fora. Não estou com vocês, estou com eles”, disse ele, segundo o jornal. “Apoiarei o governo, mas se achar que estão a fazer algo impróprio, direi.”
O rei também exerce o poder de perdoar. Em 2018, o sultão Muhammad V, um dos antecessores de Ibrahim, perdoou Anwar, que cumpriu pena de prisão por sodomia.
Religioso moderado
O papel do rei na Malásia traz um prestígio considerável, especialmente entre a maioria muçulmana malaia do país. As críticas consideradas como incitando ao desprezo pelo rei podem resultar em pena de prisão.
Ele tem um relacionamento próximo com Anwar e tem falado abertamente sobre a política e a corrupção na Malásia.
O Sultão Ibrahim é visto como um religioso moderado. Em 2017, ele ordenou que o proprietário de uma lavanderia se desculpasse por supostamente discriminar não-muçulmanos.
Ele também tem interesses comerciais significativos, incluindo uma participação na Forest City, um projeto de desenvolvimento de US$ 100 bilhões na costa de Johor.
A última vez que um sultão de Johor se tornou rei foi há 39 anos, quando o pai do sultão Ibrahim, o sultão Iskandar, foi proclamado o oitavo rei da Malásia em 1984.
Com informações do Jornal O GLOBO.