O que você faz quando discorda ou simplesmente não gosta de uma liderança política?
No Japão, um homem supostamente “frustrado e insatisfeito” com o ex-primeiro ministro Shinzo Abe decidiu atirar contra o alvo de sua fúria pelas costas.
O mais longevo premier japonês, que disputaria o Senado neste ano e participava de um evento de campanha na região de Nara, chegou a ser socorrido, mas morreu pouco depois.
Abe ficou conhecido no Brasil em 2016, quando participou da festa de encerramento das Olimpíadas do Rio. Ele surgiu no Maracanã vestido de Mario Bros.
Em um vídeo promocional dos Jogos em Tóquio, dos quais era um dos maiores entusiastas, ele se transformava no personagem da Nintendo para poder fugir do trânsito em sua cidade, entrar num túnel como os dos videogame, e sair do outro lado do mundo, mais exatamente no gramado do estádio carioca, a tempo de participar da festa.
Como num túnel simbólico, a cidade que estava em festa há exatos seis anos por pouco não assistiu a uma tragédia similar à que deixou em choque o Japão e o mundo todo.
Perto do local onde o ex-presidente Lula participou de um comício na capital fluminense, na quinta-feira (5/7) um criminoso explodiu uma bomba caseira contendo fezes. Dessa vez ninguém se feriu.
É a segunda vez que apoiadores petistas são alvo da fúria de quem pretende eliminá-los fisicamente, e não no voto. Em Uberlândia (MG), um homem suspeito de lançar veneno com cheiro de fezes e urina com um drone foi preso nesta semana por porte ilegal de armas. Ele já havia sido condenado por roubo e estelionato.
Também na quinta-feira, fezes foram arremessadas contra o carro de um juiz responsável por ordenar a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro.
A bronca, por enquanto, está no campo da escatologia. Mas não é mais apenas alegoria.
Em 2018, um ônibus da caravana do ex-presidente Lula foi alvejado a tiros em uma estrada do interior do Paraná.
Meses depois, Jair Bolsonaro foi esfaqueado em um ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
A violência política é uma contradição em termos, embora as duas palavras andem juntas desde que o mundo é mundo.
A primeira, em tese, é a capacidade de buscar consensos, pelo diálogo, e impedir que a segunda se sobreponha entre governados e governantes. A história do Brasil, no entanto, é escrita com gotas de sangue e golpes de todo tipo, inclusive físicos.
O contexto atual se agrava com o nível de intolerância que marca qualquer debate político e a facilidade de qualquer revoltado online conseguir uma arma e descarregar sua revolta nos alvos de carne e osso.
Esse revoltado é quase sempre estimulada e alimentada por forças políticas aparentemente cientes da própria irresponsabilidade.
Basta ver o papel central, agora devidamente exposto por ex-auxiliares, do ex-presidente Donald Trump na invasão do Capitólio. Segundo as investigações, ele não apenas sabia que seus apoiadores portavam armas como queria, ele mesmo, participar da carnificina para impedir a posse de seu rival Joe Biden.
Cinco pessoas morreram durante a invasão.
E se algo parecido acontecesse por aqui?
Quem foi dormir tranquilo na quinta-feira com a notícia de que ninguém se feriu na explosão da bomba caseira no Rio provavelmente acordou em choque com os relatos sobre o assassinato do ex-premier japonês.
O choque é ainda maior levando-se em conta que a tragédia ocorreu num território que, no imaginário brasileiro, é pautado pela ordem e a disciplina –um imaginário igualmente alvejado quando alguém decide atirar em um candidato pelas costas.
As informações são do Yahoo.