Na ONU, A Ucrânia acusou a Rússia nesta segunda-feira (10) de ser um “estado terrorista”, por ter matado civis ao atacar massivamente Kiev e outras grandes cidades, com atentados a bomba denunciados pelas Nações Unidas e pelo Ocidente.
Os países membros da ONU se reuniram na tarde de segunda-feira no tradicional anfiteatro da Assembleia Geral, em Nova York, para debater com urgência uma resolução condenando a anexação de regiões ucranianas por Moscou.
Com este texto co-redigido pela União Europeia, apresentado pela Ucrânia, e que poderá ser votado nesta quarta-feira (12), os países ocidentais esperam demonstrar que a Rússia do presidente Vladimir Putin está isolada no cenário internacional.
Mas foram os ataques mortais de segunda-feira de manhã que monopolizaram a sessão em que os dois países em conflito se enfrentaram em uma atmosfera tensa. “A Rússia provou mais uma vez que é um estado terrorista que deve ser dissuadido da maneira mais forte possível”, insistiu o embaixador ucraniano na ONU, Sergiy Kyslytsya.
Seu correspondente russo, Vassili Nebenzia, respondeu comparando o regime de Kiev com a “mais escandalosa das organizações terroristas”, dois dias após a explosão – uma “sabotagem”, de acordo com Moscou – que danificou seriamente a ponte russa na Crimeia.
“Profundamente chocado”
Antes da Assembleia Geral, o secretário-geral da ONU, António Guterres, que se disse “profundamente chocado”, denunciou os bombardeios russos: “Uma nova escalada inaceitável da guerra” pela qual os civis “estão pagando o preço mais alto”.
Mais pessoas serão forçadas a fugir de suas casas na Ucrânia, alertou o alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi. “O horror do que aconteceu hoje [segunda-feira] na Ucrânia (…) é indesculpável”, sublinhou o diplomata italiano aos jornalistas, afirmando ter “medo (…) de novos deslocamentos” de populações.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, protestou contra a “brutalidade absoluta” do líder russo, enquanto a diplomacia europeia denunciou “ataques bárbaros”.
Dias antes dos bombardeios, a ONU havia decidido levar o dossiê das anexações de regiões ucranianas à sua Assembleia Geral – em que cada um dos 193 membros tem direito a voto, sem veto – depois que a Rússia bloqueou um texto semelhante no Conselho, em 30 de setembro.
O projeto de texto, visto pela AFP, condena as anexações “ilegais” das regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson após “os chamados referendos” e enfatiza que essas ações “não têm validade” sob o direito internacional. O texto também pede que ninguém reconheça essas anexações e solicita a retirada imediata das tropas russas da Ucrânia.
Direito internacional
Em declaração na ONU, o encarregado de negócios da missão da UE em Nova York, Silvio Gonzato, afirmou que os 27 estados-membros “nunca reconhecerão os chamados ‘referendos’ imaginados pela Rússia como pretexto para uma violação da independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia”.
A Rússia retaliou neste fim de semana em uma carta amarga a todos os estados-membros, atacando “delegações ocidentais” cujas ações “não têm nada a ver com a defesa do direito internacional”.
Sob tensão, a sessão da Assembleia Geral foi interrompida por uma batalha processual lançada por Moscou para obter, em vão, a votação da resolução por voto secreto, procedimento muito incomum.
Guterres também denunciou as anexações de territórios ucranianos no final de setembro: “Isso desrespeita os objetivos e princípios das Nações Unidas. É uma escalada perigosa. Não tem lugar no mundo moderno. Não deve ser aceita”.
Para um funcionário americano em Nova York, as declarações do chefe da ONU “provam que não é uma questão do Ocidente contra a Rússia”. Durante a votação no Conselho de Segurança, nenhum país ficou do lado da Rússia, mas quatro (China, Índia, Brasil e Gabão) se abstiveram.
Enquanto alguns países em desenvolvimento se ressentem do foco do Ocidente na Ucrânia, outros podem seguir o exemplo nesta semana.
África
A votação permitirá avaliar o grau de isolamento da Rússia. Os esforços dos defensores do texto para convencer os potenciais abstêmios estão, portanto, indo bem. Ao visitar a África, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kouleba, disse “exortar a África a não permanecer neutra” durante a votação, de acordo com um comunicado da Embaixada da Ucrânia em Dakar. Um funcionário europeu espera 100 a 140 votos a favor.
As duas primeiras resoluções da Assembleia Geral contra a invasão russa em março receberam 141 e 140 votos a favor, cinco contra (Rússia, Belarus, Síria, Coreia do Norte e Eritreia) e entre 35 e 38 abstenções. A terceira resolução, no final de abril, que suspendeu a Rússia do Conselho de Direitos Humanos, resultou em uma erosão da unidade internacional contra Moscou, com muito mais abstenções (58) e votos contra (24) em oposição a 93 votos a favor.
Mortos e feridos
Dezenove pessoas morreram e 105 ficaram feridas nos ataques russos de segunda-feira na Ucrânia, de acordo com um novo número anunciado pelas autoridades nesta terça-feira (11). “De acordo com dados preliminares, 19 pessoas morreram e 105 ficaram feridas”, informou o serviço de emergência estadual no Telegram.
O relatório anterior publicado na noite de segunda-feira relatava 14 mortos nesta onda de graves ataques de uma escala sem precedentes por diversos meses, que afetou principalmente Kiev pela primeira vez desde o final de junho.
Mais de 300 localidades ficaram sem eletricidade em todo o país na sequência destes ataques que afetaram centrais elétricas, de acordo com a mesma fonte. Na manhã desta terça-feira, um novo ataque russo visou a cidade de Zaporíjia (sul), já atingida por bombardeios russos nas últimas semanas.
Doze mísseis do tipo S-300 caíram na infraestrutura “civil”, matando uma pessoa, informou o serviço de emergência do estado.
Energia
O presidente russo, Vladimir Putin, justificou esses “maciços” bombardeios pelo ataque “terrorista”, em sua opinião, cometido no sábado por Kiev contra a ponte que liga o território russo à Crimeia (sul), península ucraniana anexada por Moscou em 2014.
O primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmygal, relatou que 11 grandes infraestruturas foram danificadas em oito regiões, além da capital. A Ucrânia anunciou que interromperá suas exportações de eletricidade para a Europa após esses ataques, enquanto os cortes de energia afetaram muitas regiões.
(Com informações da AFP)