A antropóloga Adriana Dias, da Unicamp, alertou: em 2021, ao menos 900 mil pessoas baixaram no Brasil materiais com conteúdos neonazistas disponibilizados em páginas administradas por grupos neonazistas no Brasil. Era um saldo em relação aos downloads registrados entre 2002 e 2018.
Os números, explicava a especialista, indicavam um interesse crescente pelo assunto no país. O acesso era facilitado por grupos de mensagem instantânea como o Telegram.
O Brasil, segundo ela, possui ao menos 530 células neonazistas atualmente.
O acesso ao material não significava conhecimento do que foi a experiência nazista na Alemanha. Pelo contrário.
“Pelos comentários e reações que monitoramos nas redes, é impressionante que as pessoas não tenham ideia do que foi o nazismo. Acham que foi uma coisa restrita à Alemanha. Muitos não sabem, por exemplo, que o Japão participou da guerra. Que ela envolveu a Europa inteira e os países da África. Ou que foi uma guerra contra o mundo e contra o povo judeu”, me disse ela, em janeiro de 2022.
Corta a cena.
Em novembro do mesmo ano, um grupo de manifestantes que bloqueava estradas em Santa Catarina para protestar contra a eleição de Lula (PT) foi flagrado fazendo uma saudação nazista durante o ato.
O estado tem como vice-governadora uma pessoa incapaz de condenar em público, para não ficar mal com a família, a simpatia de seu pai por Adolf Hitler.
Perto dali, em Ponta Grossa (PR), uma professora foi demitida por fazer a saudação nazista na frente dos alunos.
E, ao fim das eleições, estudantes de um colégio de elite em Valinhos (SP) criaram um grupo no WhastApp intitulado “Fundação Anti Petismo”, para protestar contra o resultado das urnas e divulgar ideias neonazistas.
Discursos de ódio contra nordestinos e defesa da escravização, além de comentários racistas, foram difundidos no grupo. Um jovem negro de pais progressistas foi incluído no grupo, não se sabe se por engano ou coação.
Mas o caso parou na direção da escola, que nada fez, e virou caso de polícia.
Racismo no Brasil é crime, mas ninguém tem imagina que um estudante rico e branco possa sofrer qualquer tipo de punição, como suspensão ou expulsão do colégio, “só porque” defende extermínio de opositores por aí.
Foi perto dali, na mesma cidade, que o morador de um condomínio humilhou com ofensas racistas um motoboy negro após um desentendimento. O episódio causou escândalo por escancarar o que, na ordem subentendida da branquitude, deveria permanecer velado.
Se alguém ainda acha que neonazismo é brincadeira de criança, sem consequência prática além da curiosidade mórbida, é bom repensar.
Aqueles jovens defendendo a morte de opositores não fizeram nada do que já não ouviram dentro de casa. Não falta a essa gente nem o ódio, nem o discurso, nem as armas.
A transformação de grupos sociais em inimigos na Alemanha sob Hitler exigia que eles passassem por um processo de desumanização, tendo sido retratados como rato muito antes de serem eliminados em campos de concentração.
No Brasil, não faltam por aí quem defenda extermínio de eleitores petistas, nordestinos ou minorias abraçadas por grupos progressistas porque eles não são compreendidos como gente, mas como uma ameaça que precisa ser detida.
A propaganda e destilação de ódio funcionou na Europa do século 20 e está em curso por aqui desde pelo menos 2013.
Autoridades (as que ainda não foram cooptadas), instituições e a consciência histórica precisam agir a tempo.
Caso contrário, ninguém poderá se dizer surpreso quando herdeiros das mais trágicas experiências do último século decidirem fazer, por sua conta e risco, a sua solução final contra quem elegeu como inimigo.
As informações são do Yahoo.