George Santos, deputado filho de brasileiros que ganhou os holofotes após mentir no currículo, se entregou à Justiça americana nesta quarta-feira acusado de 13 crimes diferentes. As ações apontam suspeitas de fraude, lavagem de dinheiro, desvio de verbas públicas e falsificação de declarações financeiras ao Congresso. Ele alegou inocência e responderá ao processo em liberdade após três pessoas não identificadas pagarem sua fiança, no valor de US$ 500 mil (R$ 2,4 milhões).
Primeiro parlamentar abertamente gay a vencer pelo Partido Republicano nas eleições do ano passado, Santos tornou-se alvo de escrutínio após o New York Times revelar em dezembro uma série mentiras em sua biografia. Eleito sob a narrativa do “sonho americano”, o republicano conquistou os eleitores de Nova York dizendo ser filho de imigrantes brasileiros e neto de judeus que escaparam do Holocausto, que teria se formado em duas universidades públicas até, enfim, se tornar um financista de sucesso em Wall Street. Exceto a filiação brasileira, tudo não passou de invenção.
As “floreadas” no currículo — como ele mesmo depois assumiu ter feito — ganharam contornos de história policial quando suspeitas de irregularidades no financiamento da sua campanha vieram à tona. A Comissão de Ética do Congresso abriu uma investigação contra o parlamentar após surgirem indícios de que ele teria omitido informações sobre o seu patrimônio.
Na terça-feira, promotores do tribunal de Long Island, em Nova York, apresentaram sete denúncias de fraude, três de lavagem de dinheiro, uma relacionada a desvio de recursos públicos e duas por mentir perante o Congresso sobre suas finanças. De acordo com o processo de 20 páginas, Santos orquestrou “esquemas fraudulentos e [deu] declarações falsas” com o objetivo de enganar doadores de campanha, enriquecer ilicitamente e vencer as eleições.
Direto ao ponto: entenda as acusações contra George Santos
Fraude na campanha: as principais acusações contra o deputado, cinco no total, referem-se a um esquema durante as eleições de 2022 no qual ele e um consultor político angariaram US$ 50 mil (R$ 247 mil) com doadores de campanha para “despesas independentes”, que seriam usadas para publicidade e anúncios de TV. A quantia, porém, foi transferida para uma conta pessoal de Santos, que gastou em artigos de luxo e pagamentos de cartões de crédito;
Lavagem de dinheiro: o plano para enganar seus doadores de campanha também renderam três acusações de lavagem de dinheiro decorrentes de cada uma das transferências ilegais que, juntas, somam US$ 74 mil (R$ 366 mil);
Fraude eletrônica: Santos também é alvo de outras duas acusações de fraude por ter recebido ilegalmente auxílio desemprego do governo de Nova York durante a pandemia de Covid-19, obtendo mais de US$ 24 mil (R$ 118 mil) em recursos no mesmo período em que ganhava US$ 120 mil por ano trabalhando para uma financeira da Flórida;
Desvio de dinheiro público: a fraude do sistema que permitiu que Santos recebesse o benefício do governo destinado a desempregados também lhe rendeu uma acusação por desvio de verba pública;
Declarações falsas: o deputado de origem brasileira ainda foi alvo de duas acusações por omitir seus ganhos do Congresso nas duas vezes em que disputou as eleições, em 2020 e 2022 — mesmo motivo pelo qual Santos é investigado pelo Comitê de Ética da Casa.
Apesar do escândalo ter mobilizado pedidos de renúncia até mesmo dentro do Partido Republicano, ele poderá continuar suas funções como parlamentar enquanto aguarda julgamento. O presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy, declarou nesta quarta-feira que não pedirá que o deputado deixe o cargo.
George Santos ainda enfrenta um processo criminal no Brasil por suposta fraude de cheques em um episódio ocorrido em 2008. Os registos do tribunal mostram que Santos gastou quase US$ 700 (cerca de R$ 3,4 mil) utilizando um bloco de cheques roubado e um nome falso numa loja em Niterói, no Rio de Janeiro.
Ele confessou o roubo em 2010, mas as investigações foram paralisadas quando a polícia e o Ministério Público não conseguiram localizá-lo após sua mudança para os Estados Unidos. Na quinta-feira, mesmo dia em que enfrentará a Justiça americana, uma audiência está marcada na 2ª Vara Criminal de Niterói pelo caso de estelionato.
Com informações do Jornal O GLOBO.