Experimento de implantes cerebrais em macacos é nova esperança para cegos

Implantes cerebrais em macacos

Cientistas estão mais próximos de restaurar a visão de pessoas cegas usando implantes cerebrais (foto: divulgação)

Cientistas estão mais próximos de restaurar a visão de pessoas cegas usando implantes cerebrais, segundo disseram pesquisadores do Instituto Holandês de Neurociências, baseados em uma série de experimentos bem-sucedidos em macacos.

Os pesquisadores desenvolveram implantes contendo 1.024 eletrodos (condutores que carregam correntes elétricas para dentro e para fora do cérebro) e os implantaram em dois macacos em seu córtex visual, a parte do cérebro que processa as informações visuais.

Ao enviar sinais elétricos aos cérebros dos macacos, os pesquisadores criaram “fosfenos”, pontos de luz que podiam ser “vistos” ou percebidos pelo cérebro e podem ser usados para criar a ilusão de formas e objetos.

O pesquisador-chefe Pieter Roelfsema disse à CNN que a equipe queria mostrar que era possível induzir a “visão de objetos” por meio da estimulação elétrica direta do cérebro, explicando que o córtex visual tem “uma espécie de mapa visual do espaço”.

“Podemos trabalhar com ele como uma placa de matriz ao longo de uma estrada. Se estimularmos ou acendermos várias placas, poderemos ver padrões”, explicou.

Os macacos executaram uma série de tarefas e, usando sua visão artificial, foram capazes de reconhecer formas e “percepções”, incluindo linhas, pontos em movimento e letras, como relataram os pesquisadores na sexta-feira (4) em resultados publicados na revista “Science”.

Implicações mais amplas
A equipe acredita que essa tecnologia poderá um dia ser usada para simular a visão em pessoas cegas que foram capazes de enxergar em algum momento de suas vidas.

Roelfsema disse à CNN que, quando os olhos param de funcionar normalmente e a pessoa perde a visão, seu córtex fica privado de informações.

“O que fazemos aqui é contornar os olhos comprometidos e conectar as imagens que normalmente vemos diretamente ao córtex visual”, afirmou.

“Se estimularmos com um eletrodo, teremos um ponto de luz. Se estimularmos com um padrão de eletrodos, podemos criar um padrão desses pontos, e a partir desses padrões de pontos podemos reproduzir imagens com significado”, contou o pesquisador, explicando que os pontos poderiam ser usados para criar as letras do alfabeto.

No futuro, uma pessoa poderia carregar uma câmera em seus óculos, que poderia traduzir as imagens em padrões de estimulação elétrica para o cérebro e enviá-las aos eletrodos.

“Os eletrodos então ativariam as células apropriadas e a pessoa seria capaz de ver talvez um carro que está passando, ou uma pessoa andando na rua. Isso dará origem a uma forma de visão”, disse Roelfsema, acrescentando que espera que a tecnologia esteja pronta para ser testada em humanos até 2023.

“Santo Graal” da pesquisa
Pesquisadores de todo o mundo estão estudando o córtex para chegar a uma forma de restaurar a visão. Neste ano, uma equipe da Universidade Miguel Hernández da Espanha revelou que foi capaz de usar implantes cerebrais para restaurar temporariamente a visão rudimentar em pacientes cegos.

“A capacidade de impor artificialmente padrões de atividade neural que se assemelham aos do cérebro é o Santo Graal da pesquisa neuroprotética”, escreveu Tom Mrsic-Flogel, diretor do Sainsbury Wellcome Center para Circuitos Neurais e Comportamento da University College London, em um email para a CNN.

Mrsic-Flogel, que não estava envolvido na pesquisa, disse que a equipe de Amsterdã “demonstra que os primatas não humanos podem reagir a padrões complexos de estimulação no córtex visual de uma maneira semelhante à visualização de formas normais.

“Embora nunca possamos saber o que outro animal percebe, é tentador especular que a estimulação elétrica resultou em percepção visual. Este estudo transformador se soma ao crescente corpo de evidências que conectam a atividade neural e a sensação”, continuou.

“Pesquisas como essas abrirão o caminho para implantes cerebrais que aumentam a função do cérebro quando ele fica comprometido, como por exemplo quando perdemos a visão periférica ou a audição”, acrescentou.

 

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