Como funciona o chip cerebral que Elon Musk diz ter sido implantado em uma pessoa

chip cerebral neuralink

(Divulgação)

O bilionário Elon Musk disse na segunda-feira (29/1) que sua empresa Neuralink implantou com sucesso um chip cerebral sem fio em um ser humano pela primeira vez.

Em uma postagem na rede social X, Musk disse que foi detectada uma atividade cerebral “promissora” após o procedimento e que o paciente está “se recuperando bem”.

O objetivo da empresa é conectar cérebros humanos a computadores. Musk disse que quer ajudar a tratar condições neurológicas complexas.

A BBC News entrou em contato com a Neuralink e o órgão regulador de assuntos médicos dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), para obter mais informações.

Isso abriu caminho para o início do estudo que já dura seis anos para desenvolver o novo dispositivo, que se chama Telepathy, segundo Musk.

Como funciona o Telepathy

O chip do Telepathy está conectado a 1.024 eletrodos diminutos por meio de fios flexíveis mais finos do que um fio de cabelo.

Um robô é usado para colocar esses fios e eletrodos em uma parte do cérebro que controla a “intenção de movimento”, de acordo com a Neuralink.

A empresa afirma que esses fios permitem que seu implante experimental, alimentado por uma bateria que pode ser carregada sem fio, registre e transmita sinais cerebrais sem fio para um aplicativo que decodifica como a pessoa pretende se mover.

O Telepathy, segundo Musk, permitiria “o controle do seu telefone ou computador e, através deles, quase qualquer dispositivo, apenas com o pensamento”.

“Os primeiros usuários serão aqueles que perderam o uso dos membros”, continuou ele.

“Imagine se Stephen Hawking pudesse se comunicar mais rápido do que um datilógrafo. Esse é o objetivo”, disse Musk, em referência ao falecido cientista britânico que sofria de uma doença neurológica.

A professora Tara Spires-Jones, presidente da Associação Britânica de Neurociências, diz que o implante anunciado por Musk “tem um grande potencial para ajudar pessoas com distúrbios neurológicos no futuro”.

“É um excelente exemplo de como a pesquisa fundamental em neurociência está sendo aproveitada para avanços médicos”, disse ela.

“No entanto, a maioria dessas interfaces requer neurocirurgia invasiva e ainda está em fase experimental, portanto, provavelmente levará muitos anos até que estejam disponíveis.”

O que significa o anúncio de Musk

A Neuralink foi criticada no passado por ter realizado testes que resultaram na morte de aproximadamente 1,5 mil animais, incluindo ovelhas, macacos e porcos.

No entanto, o Departamento de Agricultura americano disse em julho do ano passado não ter encontrado até aquele momento quaisquer violações ao bem-estar animal pela empresa.

No entanto, a investigação ainda está em andamento.

A empresa de Musk recebeu permissão da FDA para testar o chip em humanos em maio de 2023.

A professora Anne Vanhoestenberghe, do King’s College London, avalia que, “para qualquer empresa que produza dispositivos médicos, o primeiro teste em humanos é um marco significativo”.

“Embora existam muitas empresas trabalhando em produtos interessantes, existem apenas algumas outras empresas que implantaram seus dispositivos em humanos, então a Neuralink se juntou a um grupo bem pequeno.”

No entanto, ela também sugeriu cautela em relação ao anúncio, uma vez que o sucesso da iniciativa só poderá ser avaliado a longo prazo.

“Sabemos que Elon Musk é muito hábil em gerar publicidade para a sua empresa”, acrescentou Vanhoestenberghe.

Outros dispositivos

Outras empresas rivais já implantaram dispositivos semelhantes ao da Neuralink, algumas das quais têm um histórico de atuação de duas décadas neste campo.

A Blackrock Neurotech, com sede em Utah, implantou sua primeira de muitas interfaces cérebro-computador em 2004.

A Precision Neuroscience, formada por um cofundador da Neuralink, também visa a ajudar pessoas com paralisia.

Seu implante se assemelha a um pedaço muito fino de fita que fica na superfície do cérebro e pode ser implantado por meio de uma “microfenda craniana”.

A empresa alega que este é um procedimento muito mais simples. Os dispositivos existentes também já produziram resultados.

Em dois estudos científicos recentes nos Estados Unidos, implantes foram usados para monitorar a atividade cerebral quando uma pessoa tentava falar, o que poderia então ser decodificado para ajudá-la a se comunicar.

Outro avanço foi obtido pela École Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL), na Suíça, que possibilitou que uma pessoa paralítica andasse apenas com a força do pensamento.

Isto foi conseguido através da colocação de implantes eletrônicos em seu cérebro e coluna que comunicam pensamentos às pernas e pés.

A descoberta foi detalhada em um estudo publicado na revista científica Nature em maio de 2023.

 

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