bZ4X, e:Ny1, ID.4: por que carros elétricos têm ‘sopas de letrinhas’ e siglas estranhas no nome?

Na corrida pela eletrificação, montadoras nomeiam seus lançamentos com letras e números que, para o consumidor comum, não fazem sentido

nomes dos carros eletricos

A Subaru finalmente entrou na corrida dos carros elétricos com o seu Solterra. A empresa economizou algum dinheiro ao desenvolver a máquina com a Toyota, de modo que o Solterra é basicamente o irmão do bZ4X. Preço a partir de R$ 218 mil — Foto: Divulgação

A oportunidade de dar nome a um novo modelo de carro é um negócio de bilhões, com investimentos e pesquisas robustas de marketing pelas montadoras para garantir que a marca vai brilhar.

Dos quase 300 modelos de carro à venda hoje nos Estados Unidos, cerca de 25% têm nomes longevos, que existem há mais de duas décadas – ainda que o design e as funcionalidades do automóvel tenham mudado significativamente ao longo do tempo.

O Corolla, marca clássica da Toyota, foi lançado em 1964. O Porsche, em 1965.

Mas, com a corrida do carro elétrico, o jogo mudou. E a velocidade recente de lançamento de novos modelos – ritmo não visto há décadas – veio junto com uma aparente falta de criatividade das montadoras.

Para tentar emular as qualidades de menos poluente, silencioso e moderno que um carro elétrico propõe, as empresas criaram nomes que mais parecem sopas de letrinhas.

Esqueça o Corolla. A Toyota, maior fabricante de carros do mundo, tem investido para desenvolver o elétrico perfeito desde o fim dos anos 1990. No ano passado, finalmente revelou seu modelo voltado para o grande público. O nome do carro? bZ4X

E o que significa isso?

bZ representa “beyond zero” (abaixo de zero, numa tradução livre), para mostrar como o carro não emite poluentes. O número 4 indica a tração nas quatro rodas. E o X simboliza o formato de crossover.

A Honda não ficou para trás. Recentemente, a montadora anunciou que o seu segundo modelo elétrico será chamado de e:Ny1, apostando no apelo dos “dois pontos” no nome.

Na Jaguar, o modelo com bateria elétrica ganhou o nome de I-PACE. Na Volkswagen, a SUV elétrica ID.4 ficou quase homônima a sua irmã mais poluente, a van ID.Buzz, versão repaginada da antiga Kombi.

– Honestamente, muitos desses nomes estão se esforçando bastante. Todos estão batalhando – afirma David Placek, fundador da Lexicon Branding, empresa especializada em criação de nomes, que batizou o Outback, da japonesa Subaru, e o Ridgeline, da Honda.

Placek lista os três atributos indispensáveis a um bom nome: memorável, notável e distinto dentro da sua categoria. Também ajuda quando a marca tem uma leitura fluida (o que não parece ser o caso no modismo recente de siglas e números).

– Quando a mente diz “ok, eu consigo falar isso”, ajuda – afirma o consultor.

O nome de um carro pode importar menos para o consumidor do que seu preço, estilo ou funcionalidades. Mas a ascensão dos carros elétricos parece uma oportunidade perdida. Em alguns casos, os nomes parecem desconectados do futuro.

Quase todas as montadoras estabeleceram metas ambiciosas para migrar por completo para veículos elétricos. E alguns executivos parece que não estão atentos a isso. Na Kia, por exemplo, há o Kia EV6. (EV é a sigla mais usada para carros elétricos, ou electric vehicles em inglês). Há também o GMC Hummer EV.

– Estão apenas deixando os seus produtos datados. Em cinco anos, quase todos os motoristas dirigindo um carro novo estarão em veículos híbridos ou elétricos – resume Placek.

Há ainda nomes que, se já são complicados agora, ficam ainda mais confusos a medida que suas variantes proliferam. A Audi lançou seu primeiro carro elétrico como e-tron. E agora já tem uma variante, o e-tron GT.

A Mercedes fez trajetória similar. Seus modelos elétricos incluem o EQS, EQA e o EQE. Mas não para por aí. Há ainda o EQS SUV, o EQB SUV e o EQE SUV. E, no modelo mais sofisticado, mais uma sigla: AMG. Será que os motoristas estão dispostos a dirigir uma sopa de letrinhas?

A Polestar, holding da Volvo no Reino Unido, adotou por sua vez uma abordagem ‘iPhone’. Seu primeiro elétrico, que não está mais em produção, foi o 1. Agora, há o 2 e o 3 está chegando em breve.

Mas certamente os melhores nomes não são estes acrônimos ou números. E sim palavras simples e divertidas de dizer. A General Motor avançou nessa frente, com o seu Bolt da Chevrolet e o Lyric, da Cadillac. O Ionic da Hyundai também soa agradável. A Lucid, montadora especializada em elétricos, tem o Air. A Subaru, o Solterra.

A Nissan usou o Ariya, que alega ser uma palavra em sânscrito para nobre ou admirável. O Taycan, da Porsche, faz alusão a feras selvagens.

Mas quem sabe, a próxima safra de nomes para elétricos não vem mais criativa? Afinal, oportunidades não faltarão: serão pelo menos 30 novos modelos de elétricos só nos Estados Unidos no ano que vem, segundo estimativas da Bloomberg.

Com informações da Bloomberg.

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