Brasileiro vai poder comprar carro elétrico por R$ 100 mil, estima presidente da BYD

Em entrevista a Época NEGÓCIOS, Tyler Li fala sobre os planos da BYD para o Brasil logo após a montadora lançar seu carro mais barato no país

carros elétricos da byd no brasil

Tyler Li, presidente da BYD no Brasil — Foto: Divulgação/BYD

Se o que separa o brasileiro do carro elétrico atualmente é o preço, essa distância pode ficar um pouco menor a partir do ano que vem. Segundo Tyler Li, presidente da BYD Brasil (lê-se Bi-Uai-Di, do inglês Build Your Dreams), a montadora espera colocar no mercado nacional seu veículo de entrada por um valor “entre R$ 100 mil e R$ 200 mil” – segundo a assessoria de imprensa da companhia, o preço pode ficar até um pouco abaixo dos R$ 100 mil.

Li conversou com Época NEGÓCIOS poucos dias após a chinesa ter anunciado um investimento de R$ 3 bilhões em três fábricas na Bahia – o endereço ainda está em negociação, podendo ser o local onde ficava a antiga Ford, em Camaçari.

Dias antes da entrevista, a BYD também havia lançado no mercado brasileiro seu elétrico mais em conta por aqui até agora: o Dolphin. Por R$ 149.800, o modelo vem com um pacote tecnológico robusto – conta com internet, assistente pessoal, karaokê e videogame a bordo. Este é seu quinto carro no país, depois dos modelos Tan, Han, Yuan Plus e Song Plus DM-i.

O hatch tem tido bom desempenho de vendas: segundo a empresa, só nas primeiras horas foi adquirida uma unidade a cada 2,5 minutos. O lançamento acirrou a disputa pelo elétrico mais barato do mercado: as também chinesas Jac e Caoa Chery baixaram os preços dos seus elétricos de entrada em até R$ 10 mil, colocando seus modelos na faixa dos R$ 140 mil.

Segundo Tyler Li, a ideia de produzir no Brasil tem como objetivo conseguir puxar estes valores ainda mais para baixo. “Estamos tentando criar uma cadeia de suprimentos no Brasil para tornar o preço do veículo mais competitivo. E assim poderemos também exportar carros para outros países da América Latina”, conta ele.

Questionado sobre o anúncio de investimento num momento em que diversas montadoras confirmam layoffs e férias coletivas no país, Li afirma que é uma situação que vem se repetindo em diferentes mercados, mas com empresas focadas em veículos a combustão. “Acredito que este seja um bom momento para fazer a transição dos carros movidos a gasolina para os carros elétricos”, diz o executivo, em respostas curtas em inglês – ele vive no Brasil há cerca de dez anos, desde quando assumiu o comando da empresa no país, mas prefere não arriscar nenhuma palavra em português durante a entrevista.

Li diz que “realmente gosta de viver no Brasil, mas que, para trabalhar aqui, há ainda muitos desafios”. Entre eles, cita o sistema tributário, mas logo emenda que está “contente” com a aprovação da reforma pelo Congresso. “Podemos ver, passo a passo, pouco a pouco, que o Brasil está melhorando.”

A BYD começou no Brasil em 2015, quando inaugurou uma fábrica de montagem de ônibus 100% elétricos em Campinas (SP). Desde então, vem expandindo seus tentáculos. Em 2017, também em Campinas, abriu uma unidade para a produção de módulos fotovoltaicos. Em 2020, iniciou a operação de sua terceira planta, em Manaus, dedicada à fabricação de baterias de fosfato de ferro-lítio.

A montadora desbancou a Tesla de Elon Musk em julho de 2022, tornando-se a maior fabricante de veículos elétricos do mundo. Segundo a gestora Kinea, em seu relatório mais recente, nessa disputa entre americanos e chineses, levam a melhor os últimos. “No momento, estamos apostando na alta das ações da BYD. Observamos um número de vantagens competitivas nessa empresa”, escreveu a gestora. “Em primeiro lugar, é uma empresa integrada na produção dos automóveis e baterias, com sinergias e ganhos de escala durante todo o processo, o que permite que traga produtos de qualidade a preços competitivos.”

A empresa chinesa é dada a números superlativos. Em 2022, superou a marca de 1,8 milhão de unidades de veículos vendidas globalmente, crescimento de mais de 150% em relação ao ano anterior, e faturou U$ 61,7 bilhões. Tem mais de 600 mil funcionários e está presente em 70 países, em mais de 400 cidades.

Importação de know-how da China

Segundo Tyler Li, podemos esperar a importação de know-how da companhia para o país. “Não temos problema algum em trazer essa tecnologia da China para o Brasil. Além disso, quando anunciamos a fábrica na Bahia, a prefeitura de Shenzhen, onde está localizada nossa sede, assinou um acordo com o governo baiano para trazer todas as empresas chinesas que possam apoiar a BYD na construção da cadeia de fornecimento no estado. Portanto, não apenas a BYD, mas também o governo chinês está disposto a trazer tecnologia da China para o Brasil”, afirma o executivo.

Também está nos planos da companhia levar alguns profissionais para serem treinados na matriz e, depois, repassarem o conhecimento aos demais, como foi feito com a fábrica de painéis solares em Campinas. “Levamos 30 brasileiros para a China para treinamento de seis meses, e depois os trouxemos de volta ao Brasil para ensinarem os outros funcionários”, conta. “Faremos o mesmo para a fábrica na Bahia.”

Produção brasileira e híbrido a etanol
Para a fábrica brasileira, a estratégia da BYD é produzir tanto veículos híbridos plug-in (PHEV) quanto elétricos (EV). “Com certeza iremos produzir o Dolphin aqui e também estamos considerando o modelo Song”, afirma Li.

Questionado se a BYD deve começar a produzir antes da conterrânea Great Wall Motors (GWM), Li desconversa. “Temos nosso próprio cronograma. Eu não conheço o cronograma deles, mas faremos o nosso melhor para produzir o mais rápido possível.” Em agosto de 2021, a GWM comprou as instalações da Mercedes-Benz em Iracemápolis, no interior de São Paulo, e o início de sua produção está previsto para maio de 2024.

Segundo Li, o objetivo é começar a produção no final de 2024 ou início de 2025: “Este é o nosso objetivo, mas tentaremos antecipar.” Ainda de acordo com o executivo, a empresa considera fabricar um modelo híbrido que use etanol, para aproveitar o potencial do combustível brasileiro.

Sobre o preconceito que ainda possa existir no Brasil em relação aos carros chineses, o executivo se diz otimista e cita conterrâneas como Realme, Oppo e Xiaomi. “Acredito que essa percepção é de antes. Nos últimos 15 anos, a China evoluiu muito”, diz. “As pessoas já podem ver a melhoria na qualidade dos produtos chineses.”

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