Aplicativo ajuda transexuais em mudança de gênero

Uma plataforma on-line na qual os usuários podem acompanhar o uso de medicamentos, agendar consultas, avaliar o humor diariamente, registrar fotos da transição, entre outras funcionalidades. Esse é o aplicativo Queely, desenvolvido por cinco estudantes da Universidade Católica de Brasília (UCB) para auxiliar pessoas transexuais no processo de transição de gênero.

O reconhecimento e a aceitação da transexualidade aumentaram de maneira considerável em muitos países. Apesar disso, em muitas regiões, há falta de aceitação cultural, estigma e discriminação, fazendo com que indivíduos transgênero escondam sua identidade de gênero.

Por esse motivo e, com o objetivo de trazer conforto e ser útil durante o processo de transição, alunos dos cursos de engenharia de software, ciências da computação e design visual aceitaram o desafio de desenvolver um aplicativo que se encaixasse na temática de bem social.

“Nós participamos do projeto Developer Academy da Universidade Católica de Brasília e acabamos chegando à certeza de que faríamos algo para a comunidade LGBTQIA+. Com isso, pesquisando mais, percebemos que pessoas trans, até mesmo dentro da comunidade, eram negligenciadas, e encontramos uma parte pouco assistida no processo de transição de gênero. Por isso, decidimos criar o Queely para auxiliar as pessoas nesse processo”, comentou um dos desenvolvedores do programa, o estudante de engenharia de software João Victor Alves da Silva, 19 anos.

plataforma Queely é gratuita e está disponível no sistema iOS. Aplicativo funciona desde 30 de outubro de 2021 e tem 66 downloads (Foto: Divulgação)

Além de João, participam da iniciativa Arthur Rodrigues Amorim, 27, Felipe Souza Marra, 20, Vitor Gledison Oliveira de Souza, 21, e Isabella Matiuzzo Vargas, 19.

Juntos, eles desenvolveram o aplicativo em um mês e disponibilizaram o serviço gratuito no sistema iOS em 30 de outubro de 2021. Em cerca de 15 dias, o software chegou à marca de 66 downloads.

Morgana iniciou a transição há 3 anos (Foto: Divulgação)

Como usar

Segundo João Victor, a ideia principal do aplicativo é funcionar como uma espécie de diário, oferecendo ao usuário a possibilidade de registrar e acompanhar o progresso da transformação em um ambiente seguro.

“Para esse propósito, fornecemos um diário em que a pessoa pode registrar o seu dia a dia, informando humor, possíveis sintomas colaterais do uso de uma medicação, escrever um comentário sobre aquele dia, assim como registrar uma foto para que seja possível visualizar a evolução corpórea durante a transição. Outros recursos que auxiliam esse processo de transição são os registros de medicamentos, nos quais criamos notificações para que a pessoa não se esqueça de tomá-los, e o registro de consultas, que notifica o usuário uma hora antes do atendimento ocorrer”, explicou.

“O nome Queely é a junção da palavra ‘queer’, termo dentro da comunidade LGBTQIA+ para identificar um leque de várias possibilidades de gênero e sexualidade, com a palavra ‘weekly’, em inglês traduzida como semanalmente, para dar a ideia de diário, ou rotina”, detalhou João Victor.
Público

A estudante de arquitetura e urbanismo Morgana Manbavaran Ferreira França, 18, começou a transição há cerca de três anos. Ela participou da criação da plataforma e opinou com os desenvolvedores sobre funcionalidades importantes e úteis para o processo de mulheres e homens trans.

“Foi algo que eu sempre sonhei. Queria chegar nesse objetivo de começar o meu tratamento. No início, eu me automedicava e sei que isso era errado. Eu corria risco. Hoje, vejo o aplicativo como algo muito necessário e seguro”, opinou.

Segundo ela, com a plataforma, é possível ter o controle completo das atividades e dos medicamentos. “Além de ser um diário pessoal, auxilia os especialistas que acompanham a gente facilitando as informações para as consultas. É uma iniciativa muito bonita. Falta muito esse conceito de humanidade e sobra preconceito sobre nós. Esse aplicativo demonstra um gesto de carinho e visibilidade”, completou.

Olivier Queiroz (Foto: Divulgação)

Olivier de Oliveira Carvalho Queiroz tem 19 anos e também usa o Queely. “Eu utilizo o diário e a parte de lembretes para medicação. No diário, costumo salvar informações de humor, sintomas colaterais dos remédios (como aumento de acne e dor de garganta). Nos medicamentos, existe uma função de apertar um botão na página principal e mostrar que o remédio já foi introduzido”, comentou.

Olivier definiu a iniciativa como segura e prática. “Sinto que o aplicativo me poupou bastante tempo. Antes, eu tinha de fazer todo o controle da transição em um caderninho. Agora, é só abrir o celular, além de ser superlegal poder ver as fotos antigas e perceber a mudança visual acontecendo aos poucos. Quanto mais pessoas pensarem nas necessidades da comunidade LGBTQIA+, melhor. Significa que estamos sendo vistos, que importamos e fazemos parte da sociedade. Sinto-me validado com esse tipo de iniciativa”, pontuou.

As informações são do Portal Metrópoles.

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