Sobrinho de socialite revela herança de 500 milhões de dólares

Álvaro O’hara questiona decisão da Justiça que manteve a tutela provisória de Regina Gonçalves com o marido, que a teria roubado, além de violentá-la física e psicologicamente.

SOCIALITE REGINA GONÇALVES HERANÇA

A socialite Regina Gonçalves - Divulgação

De volta à sua casa no icônico edifício Chopin, na Praia de Copacabana, após quatro meses, a socialite Regina Gonçalves, de 88 anos, estava feliz e aliviada. De acordo com um dos seus sobrinhos, Álvaro O’hara, “foi um momento emocionante e ao mesmo tempo de descoberta”. Viúva do empresário Nestor Gonçalves, fundador da Copag, fabricante das famosas cartas de baralho, ela teria sofrido violência psicológica e doméstica, além de ameaças, por parte do motorista José Marcos Chaves Ribeiro, segundo a família.

— A Regina está muito abalada com isso tudo. Uma mulher que recebeu 500 milhões de dólares de herança e chegou a ter em uma conta de 15 mil reais… Isso era um lanche. De repente, ela ficou sem nada — disse O’hara, nesta sexta-feira.

Regina tem união estável com Ribeiro, mas nega qualquer envolvimento emocional com ele. Ela afirma que ele teria pego dinheiro de sua poupança e joias preciosas de seus cofres. Nesta quinta-feira, a desembargadora Valéria Dacheux, da 6ª Câmara de Direito Privado, manteve a tutela provisória da socialite com o marido, revogando a medida protetiva que estabelecia que ele ficasse a 250 metros de distância da esposa. Nesta sexta-feira, ao voltar para casa, ela não o encontrou. O sobrinho disse ter ficado horrorizado com a decisão da desembargadora.

— Ela como mulher não está vendo o absurdo que é isso? Ela sofria violência física e psicológica, assédio moral. Das mais jovens às mais idosas, a Justiça não respeita as mulheres. Essa liminar é absurda, uma mulher que deu um parecer que desfavorece a classe feminina. Em todas as idades as mulheres não têm segurança no jurídico, é um absurdo — indignou-se Álvaro O’hara.

O sobrinho alega que era barrado na portaria do prédio e, ao longo dos últimos dez anos, foi perdendo o contato com a tia. Ele conta que o motorista se aproximou da família com um discurso de que era uma pessoa humilde, precisava de uma oportunidade e que passava necessidades.

— Ela tratava ele muito bem, confiava a ponto de ele ir ao banco para ela. Com o tempo, conquistou sua confiança. Um dia eu chamei atenção dela porque o motorista foi quem pegou o cartão e pagou a conta num restaurante. Ele já sabia até as senhas dela; ali eu vi que as coisas estavam ficando estranhas — afirma O’hara. — Quando a questionei, ela respondeu que não via problemas por ser um cartão de despesas domésticas.

Segundo divulgou o blog Segredos do Crime, da colunista Vera Araújo, um laudo assinado por perito judicial atestou que é “possível” a socialite Regina Gonçalves ser “suscetível à manipulação e à implementação de falsas memórias”. O documento foi anexado, no último dia 15, ao processo que tramita na Justiça.

No fim do ano passado, segundo o processo, Ribeiro alegou que percebeu que a esposa passou a demonstrar sinais de demência. Outro laudo, dessa vez, de um psiquiatra particular, atestou que ela “desenvolveu rapidamente debilidade compatível com quadro demencial avançado”, no caso Alzheimer. Com déficit cognitivo grave, o marido conseguiu que ela fosse interditada no início deste ano.

Entenda o caso

Na quinta-feira, a Justiça concedeu duas decisões antagônicas sobre a tutela da socialite Regina Gonçalves. A desembargadora Valéria Dacheux, da 6ª Câmara de Direito Privado, manteve a tutela provisória de Regina com o marido, José Marcos Chaves Ribeiro, revogando a medida protetiva de que ele ficasse a 250 metros de distância da esposa. Já em primeiro grau, a juíza substituta Claudia Leonor Jourdan Gomes Bobsin, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, determinou a volta da socialite ao edifício Chopin com o curador, no caso, seu sobrinho. Prevaleceu a decisão de segunda instância: Regina teria que retornar com o companheiro.

A queda de braço entre a família de Regina e seu companheiro existe desde 2016, mas só este ano foi que a batalha judicial entre as duas partes se acirrou. No dia 2 de janeiro, Ribeiro alegou que Regina teve um surto e foi à casa do irmão, em Copacabana, de onde não mais retornou. Uma ação foi movida pela família da socialite contra o marido por violência psicológica e doméstica sofrida por ela, além da ameaça. O caso só veio à tona na semana passada, quando vizinhos de Regina, moradores do luxuoso Chopin, onde a socialite tem dois apartamentos, fizeram um movimento pelas redes sociais, no qual denunciavam o sumiço dela.

Decisão favorável ao companheiro

A decisão da desembargadora Valéria Dacheux foi concedida às 10h40. Apesar de o sistema ser eletrônico, até a noite de quinta-feira, a informação não constava nas movimentações da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, exibidas no site do Tribunal de Justiça. O próximo passo, agora, será a magistrada de primeiro grau modificar a sua decisão por conta do resultado do recurso favorável a Ribeiro. A juíza de primeiro grau reiterou que, “diante da repercussão” do caso, o processo continue em sigilo.

Na decisão de segundo grau, a desembargadora determinou ainda que Regina deverá ter acompanhamento de uma cuidadora, escolhida com a aprovação dos familiares, para garantir a transparência quanto à saúde e bem-estar da idosa. Caberá ao juízo de primeira instância fixar a visitação dos familiares, mesmo que de forma assistida, para evitar alegações de que a socialite está em cárcere privado. O que originou o processo foi justamente a denúncia feita pela família de que Regina sofria violência doméstica, acusando Ribeiro de mantê-la trancada no apartamento do Chopin.

A magistrada destaca ainda, num dos trechos, que a decisão não é imutável caso surjam novos fatos capazes de mudar a tutela. Mas no cenário atual, segundo a ordem judicial, os cuidados de Regina ficarão a cargo do marido.

O empresário João Chamarelli, que disse estar autorizado pela família de Regina a dar entrevistas sobre o caso, afirmou que a socialite fora vítima de um golpe de Ribeiro. Segundo ele, Ribeiro era motorista da socialite e a mantinha em suposto cárcere privado, mas ela teria conseguido escapar, após um descuido dele. Chamarelli disse que o caso foi registrado na polícia e, como o inquérito corre em segredo de justiça, ele não poderia falar mais do que lhe fora autorizado. Ao ser consultado sobre a decisão da Justiça desta quinta-feira, ele alegou a validade da ordem judicial de primeira instância em favor da família de Regina.

Já o advogado de Ribeiro, Bruno Saccani, argumentou que, como o processo está em sigilo, não poderá comentar sobre a decisão dada pelo Tribunal de Justiça, mas ressaltou que a determinação em segundo grau, obviamente, prevalece sobre a primeira.

A idosa é carinhosamente chamada de dona Regina no Chopin, onde mora antes mesmo de ficar viúva de Nestor Gonçalves, em 4 de março de 1994. O casal não teve filhos, portanto, Regina herdou dois apartamentos no Chopin, mansões em São Conrado, uma fazenda em Angra dos Reis e outros bens. E é esse patrimônio que indiretamente está na disputa quando o assunto é quem vai ficar cuidando dela.

As informações são do Jornal O GLOBO.

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