*BBC
Os cientistas estão desenvolvendo uma pílula anticoncepcional masculina há quase meio século, diz reportagem da BBC.
Mas, apesar da notícia animadora, a venda sem receita médica do contraceptivo não estará disponível tão cedo.
A falta de financiamento e o suposto desinteresse dos homens explicam por que a pílula ainda não foi produzida em grande escala. Em vez disso, ainda se espera de uma maneira geral que as mulheres assumam a responsabilidade de não engravidar.
Pesquisas sugerem, no entanto, que muitos homens tomariam a pílula anticoncepcional se ela estivesse disponível.
Um terço dos britânicos sexualmente ativos diz que cogitaria usar um método contraceptivo hormonal, como a pílula ou implante. Trata-se da mesma porcentagem de mulheres britânicas que tomam atualmente o medicamento.
Oito em cada dez pessoas entrevistadas na pesquisa afirmam que a contracepção deveria ser uma responsabilidade compartilhada.
Enquanto isso, 77% dos americanos sexualmente ativos com idade entre 18 e 44 anos estão “muito ou de alguma forma” interessados em experimentar um contraceptivo masculino, que não seja camisinha ou vasectomia.
Será então que a aceitação do público, juntamente com o relaxamento dos papéis de gênero, poderia transformar a pílula masculina em realidade?
Por que ainda não existe uma pílula masculina?
Levou apenas uma década para a pílula feminina estar amplamente disponível após ser criada.
Então, por que está demorando tanto para a pílula masculina, que foi testada pela primeira vez na década de 1970, ser comercializada?
Alguns cientistas afirmam que a ciência do desenvolvimento de anticoncepcionais masculinos é mais complicada que a de contraceptivos femininos.
A pílula masculina funciona interrompendo a produção de esperma, mas o nível de hormônio necessário para fazer isso pode causar efeitos colaterais.
Também há fatores sociais e econômicos em jogo.
O campo da ciência e da medicina reprodutiva se concentrou principalmente no corpo das mulheres, negligenciando os homens. Por exemplo, praticamente todo mundo sabe o que um ginecologista faz, mas relativamente pouca gente já ouviu falar do andrologista, médico especializado no sistema reprodutor masculino.
A pesquisa sobre a pílula anticoncepcional masculina não só começou depois da feminina, como também foi atrasada pela falta de financiamento.
Isso acontece em parte porque as empresas farmacêuticas, órgãos reguladores e os próprios homens parecem ser menos tolerantes aos possíveis efeitos colaterais.
Embora certos sintomas sejam considerados aceitáveis no caso dos contraceptivos femininos, uma vez que são comparados com o risco de uma gravidez, eles são frequentemente vistos como motivo para não usar contraceptivos masculinos, já que a base de comparação são jovens saudáveis.
Além disso, os efeitos colaterais comuns da pílula feminina — como ganho de peso, alterações de humor e redução da libido — são vistos com frequência como sinônimo de perda da virilidade para homens.
As pesquisas sobre a “clean sheets pill” (pílula dos lençóis limpos), contraceptivo masculino que impede a liberação de sêmen durante o orgasmo, estagnaram por razões semelhantes — uma vez que a ejaculação é vista como um componente importante da sexualidade masculina.
Até que ponto as mulheres vão confiar nos homens em relação à contracepção é outro fator que costuma ser mencionado como obstáculo.
Pesquisas feitas há várias décadas indicam, no entanto, que mulheres em relacionamentos duradouros tendem a confiar em seus parceiros homens — mas relutam quando se trata de sexo casual.