‘Me confundiram duas vezes com uma foragida na mesma festa’, diz jovem alvo de reconhecimento facial

Auxiliar administrativa Taislaine Santos foi abordada em Aracaju (SE) por erro de identificação do sistema

Vivi para contar: 'Me confundiram duas vezes com uma foragida na mesma festa', diz jovem alvo de reconhecimento facial

Taislaine Santos foi registrada por um sistema de reconhecimento facial — Foto: Reprodução

“No dia 4 de novembro, fui a uma festa carnavalesca com duas amigas em Aracaju. Por volta de 16h30m, fui abordada por três rapazes, me perguntando meu nome, meu RG e o CPF. No momento, não estava com meus documentos. Eles pediram para a gente se afastar um pouco e ir para o outro lado da rua.

Como eu sabia tudo de cabeça, falei nome da mãe, documentos, onde morava. Questionei porque estavam me interrogando. Disseram que eram policiais civis à paisana, e que eu tinha sido identificada pela câmera de reconhecimento facial como possível suspeita foragida da Justiça.

Fiquei nervosa e chorei. Um deles pegou na minha mão, pediu que eu me acalmasse, olhou a foto e até me mostrou. ‘Realmente não é você, não’, me disse. Então voltei para a festa com as minhas amigas.

Mais tarde, umas 18h30m, quando já estava acomodando o trio da Ivete Sangalo, passei ao lado de um carro da PM e alguns me abordaram de forma totalmente diferente. Não perguntaram nome nem meu documento. Jogaram meu copo no chão, pegaram meu celular, prenderam minhas mãos para trás, segurando com bastante força. Eu dizia ‘não fiz nada’. Um PM falou ‘você sabe o que você fez, né?’. Neste momento, urinei.

Me colocaram no camburão. Toda encolhida, coagida, todo mundo me olhando, eu pedindo para que alguém filmasse. Mas ninguém me ajudou. Me levaram até uma tenda, onde tinham outros policiais. Cheguei chorando, desesperada.

Perguntaram todos os meus dados e perceberam que eu não era a pessoa que imaginavam. Nunca fiz nada de errado na vida. Chegaram para mim e disseram que poderia estar acontecendo um erro. Perguntaram se eu queria voltar para o evento, porque já tinham comunicado no grupo da polícia que não me abordassem mais. Disse que queria ir para a casa. Uma viatura da PM me levou. Não pediram desculpa em momento nenhum. Disseram que foi um erro, mas não pediram desculpas.

Quando cheguei em casa, chorando, meu primo me orientou a fazer um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima. Chegando lá, não consegui, porque não prestam B.O. contra a PM. Pediram que fosse à corregedoria.

Vou entrar com processo contra o Estado. Quis expor a situação porque muita gente já foi humilhada publicamente e isso não pode ficar imune. Existe, sim, erro neste sistema, eles precisam aprimorar.

Depois da repercussão, o governador me pediu desculpas pessoalmente. Ele, o responsável pelo evento, o secretário de Segurança Pública, os chefes da PM. O próprio secretário disse que vai verificar o sistema e reciclar os policiais, para que a abordagem seja mais humanizada. Uma das coisas que me deixou preocupada é que ele disse que podem me reconhecer de novo. Estou impossibilitada de sair. Posso ser abordada a qualquer momento, mesmo eles sabendo que não sou a pessoa que estão procurando.

Estou apreensiva. Desde que aconteceu, não quis voltar para festa nenhuma. Não me sinto segura. Nem para sair do estado, viajar. Vou começar agora acompanhamento psicológico, porque vira e mexe fico revivendo, lembrando”.

Com informações do Jornal O GLOBO.

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