Jogadoras da seleção de vôlei passam calor no Japão para esconder tatuagens

Desenhos no corpo são tratados como tabu no Japão por conta da ligação com a máfia local. Jogadoras como Thaisa e Pri Daroit, porém, sofrem ao ter de esconder seus desenhos

Carol brinca com "proibidas" Thaisa, Pri Daroit e Naiane — Foto: Reprodução

A cena é uma repetição de outras tantas nas dezenas de viagens de Thaisa ao Japão. Desta vez, porém, o desabafo ganhou os holofotes das redes sociais. Na foto postada, a bicampeã olímpica aparece toda coberta em meio a uma academia, sob o forte calor de Tóquio e com uma expressão nada feliz.

– Calor da “bexiga”, mas tenho que cobrir o corpo por conta das tatuagens!

A reclamação da bicampeã olímpica ganhou as redes sociais e despertou a curiosidade dos fãs em meio à preparação do Brasil para a estreia no Pré-Olímpico feminino de vôlei, na madrugada deste sábado, às 4h (horário de Brasília). Na capital japonesa, a seleção encara a Argentina no primeiro passo em busca de uma vaga para os Jogos de Paris. A TV Globo e o sportv2 transmitem a partida ao vivo.

Thaisa já viajou com a seleção algumas vezes para o Japão. No país asiático, não há uma regra geral que proíba tatuagens, ao contrário do que o desabafo indica. Sempre foi, porém, um tabu. Em alguns locais públicos, como academias e piscinas, há o veto a quem exiba suas tattoos por aí. É um traço cultural do país que remete à maior organização criminosa da história do Japão.

A Yakuza é conhecida como a máfia japonesa. Retratada em centenas de filmes de Hollywood, a organização é real e gera temor na sociedade do país até hoje, ainda que já não tenha tanto poder aparente.

As tatuagens sempre fizeram parte da atmosfera da Yakuza. Os desenhos no corpo eram uma forma de protesto. Durante o período Edo da história do Japão, os criminosos eram marcados na pele com o número de registro da prisão. Assim, tinham dificuldades na ressocialização. A Yakuza, porém, usou as tatuagens como forma de se impor.

A sociedade japonesa, então, passou a repelir quem usasse tatuagens. Traço comum no mundo ocidental, as tattoos até ganharam espaço pelas ruas de Tóquio nos últimos anos. Alguns vetos, porém, persistem.

– Eu não sabia exatamente o porquê, mas eles não veem com bons olhos as tatuagens. Não são todos. Mas em uma academia, por exemplo, que frequenta todos os tipos de pessoas, eles têm de proibir a entrada de pessoas muito tatuadas. Se for pequenininha, tudo bem. Mas eu tenho muitas tatuagens e preciso cobrir. Fui, brincadeiras à parte, de burca (risos). Porque tem de cobrir. Eu já tinha visto alguma coisa, mas não sabia. Já sabia que era uma máfia daqui, mas não sabia que era por isso – disse Thaisa.

Não foi só Thaisa. Naiane e Pri Daroit, outras das tatuadas da seleção, também precisaram enfrentar o calor sob alguns pedaços de panos a mais. Assim como Thaisa, as duas se adaptaram à questão.

– Eu me considero uma pessoa muito adaptável (risos). Tem de respeitar, já que eles não gostam. A gente fica com calor na academia, mas é a cultura deles e tem de respeitar, ficar numa boa. Quando eu vim para o Japão, na primeira vez, era muito nova. Mas a tatuagem não era bem-vista. Tatuagem não era algo ligado a pessoas boas. Isso foi mudando ao longo dos anos. Mas eles realmente têm uma cultura muito forte em relação a respeito.

– Eu brinquei com as meninas: “Vai, vai querendo fazer tatuagem grande. Agora passa calor”. É muito quente. Mas está bom. Pelo menos emagrece – brincou Pri.

O Pré-Olímpico conta com três grupos, com oito seleções em cada. As duas melhores seleções de cada chave garantem um lugar em Paris. No caminho do Brasil, cinco candidatos a zebra e dois rivais à altura. Nova potência no cenário mundial, a Turquia se apresenta como maior desafio, mas as donas da casa também estão firmes na briga.

Com informações do GE.

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