Instituto conclui que presidente argentino não cometeu discriminação em frase sobre brasileiros terem saído da selva

O Instituto Nacional contra a Discriminação, Xenofobia e Racismo (Inadi) da Argentina concluiu nesta quarta-feira que a frase do presidente Alberto Fernández sobre a origem de brasileiros, mexicanos e argentinos não pode ser considerada um ato de discriminação.

“Deste modo, as declarações proferidas no âmbito da visita do primeiro-ministro espanhol não refletem as ações do governo Alberto Fernández, que, longe de promover a discriminação e a invisibilidade dos povos indígenas, é um governo que promoveu intensamente a igualdade de grupos historicamente vulneráveis”, disse o Inadi.

Em 9 de junho, durante uma visita do premier Pedro Sánchez a Buenos Aires, Fernández disse que “os mexicanos vieram dos índios, os brasileiros vieram da selva, mas nós argentinos chegamos em barcos da Europa”.

A frase repercutiu negativamente em vários países, com respostas do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e de líderes mexicanos, a ponto de o próprio Fernández enviar uma carta ao Inadi para saber se suas declarações configuravam um ato de discriminação.

Na ocasião, o presidente argentino cometeu ainda um erro ao atribuir ao escritor, Prêmio Nobel da Literatura e diplomata mexicano Octavio Paz a frase que o inspirou. A Paz é atribuído o seguinte comentário: “Os mexicanos são descendentes de aztecas, os peruanos dos incas e os argentinos dos barcos”.

No entanto, depois foi esclarecido que a frase vem literalmente de uma música do cantor argentino Litto Nebbia, de quem o presidente é fã declarado e que teria se inspirado no comentário de Octavio Paz. A música se chama “Llegamos de los barcos” e diz exatamente o que foi expressado por Fernández: “Os brasileiros saem da selva, os mexicanos dos índios e nós, os argentinos, chegamos nos barcos”.

O texto de seis páginas do Inadi assinado por sua diretora, Victoria Donda, e pelo diretor de Assistência às Vítimas, Emiliano Demian Zayat, argumenta que, em outro fragmento de seu discurso, Fernández diz: “Na América Latina, e os argentinos pontualmente, somos, acima de tudo, americolatinistas. Acreditamos na América Latina e em nosso continente, na unidade de nosso continente. Mas, sobretudo, também sou um europeu, sou alguém que acredita na Europa”.

O trecho, segundo a análise do Inadi, antecede a polêmica frase de Fernández. O presidente argentino teria então continuado: “Octavio Paz escreveu uma vez que os mexicanos vieram dos índios, os brasileiros vieram da selva e os argentinos vieram dos barcos, e eram barcos que vinham de lá, da Europa, e foi assim que construímos nossa sociedade”.

Em uma carta de duas páginas ao instituto, Fernández pediu desculpas por sua frase no dia seguinte ao ocorrido, dizendo:: “Para aqueles que se ofenderam com minhas palavras, peço que me desculpem. Mas, observando que foi interpretada por alguns de uma forma que contradiz minhas ações e nossas decisões de governo, permito-me colocar essas reflexões à sua consideração para os fins que você considere adequados”.

As informações são de O Globo.

Sair da versão mobile