Funerais ecológicos: entenda a compostagem humana

entenda a compostagem humana

(Divulgação Recompose)

À medida que a vida avança, a decisão sobre o destino do corpo após a morte se torna inevitável. No Brasil, tradições como enterro e cremação dominam o cenário funerário. No entanto, nos Estados Unidos, um método inovador de tratamento dos restos humanos está ganhando espaço: a compostagem humana, uma alternativa de funeral ecológico.

Como exemplo de um local que oferece esse tipo de serviço está a Recompose, localizada em Seattle (EUA), que foi a primeira empresa de compostagem humana do mundo. A organização criou uma espécie de cápsula que age na compostagem do corpo humano.

A compostagem humana é um procedimento relativamente recente que acelera o processo de decomposição de corpos, transformando os restos humanos em matéria orgânica rica em nutrientes, podendo ser utilizado como adubo, segundo explicou Ivan Miziara, chefe do Departamento de Medicina Legal, Bioética, Medicina do Trabalho, Medicina Física e Reabilitação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em entrevista à Rádio USP.

De acordo com ele, para garantir a segurança do adubo resultante, o corpo é colocado em um recipiente com materiais como alfafa, palha e lascas de madeira e submetido a temperaturas extremamente altas, teoricamente destruindo qualquer germe que possa causar doenças.

Essa prática tem surgido como uma alternativa ecológica ao enterro e à cremação, que podem apresentar problemas ambientais, como a emissão de gases prejudiciais e a contaminação do solo.

Impacto ambiental dos cemitérios

Ao Terra, a geógrafa Francisleile Lima, que pesquisa o impacto ambiental dos cemitérios urbanos e rurais, destacou as questões socioambientais que envolvem a relação dos cemitérios e sepultamento de cadáveres. De acordo com ela, o impacto ambiental desses espaços no Brasil é resultado de décadas de procedimentos inadequados no enterro de corpos, que levaram muitos cemitérios urbanos a se tornarem áreas contaminadas.

Além disso, conforme explica a geógrafa, a urbanização acelerada e desordenada levou cemitérios antes afastados das cidades a se estabelecerem em meio às áreas urbanas.

“Em um relatório publicado pela Organização Mundial da Saúde [OMS], foi apontado o impacto que os cemitérios podem causar ao meio ambiente, por meio do aumento da concentração de substâncias orgânicas e inorgânicas nas águas subterrâneas e a eventual presença de microrganismos patogênicos. O risco de contaminação microbiológica com a construção de cemitérios em meio urbano é presumível”, explica ela.

Ainda de acordo com a geógrafa, a água subterrânea é mais afetada pela contaminação por vírus e bactérias. “Nascentes naturais ou poços rasos conectados ao aquífero contaminado podem transmitir doenças de veiculação hídrica como tétano, gangrena gasosa, toxi-infecção alimentar, tuberculose, febre tifoide, febre paratifoide, vírus da hepatite A, dentre outros”, acrescenta.

Conforme explica, a população carente e de baixa renda está mais propícia a ser infectada por essas doenças, já que geralmente vive em regiões onde não existe acesso à rede pública de água potável e possui sistema imunológico natural baixo.

Segundo a pesquisadora, a decomposição dos corpos nos cemitérios também gera compostos orgânicos que aumentam a atividade de micro-organismos no solo, agravando o risco de contaminação e proliferação de vírus no ambiente das necrópoles.

E a cremação?

Conforme explica Francisleile, a cremação, embora seja uma alternativa mais ecológica, enfrenta desafios culturais e religiosos no Brasil.

“No que diz respeito aos impactos ambientais decorrentes do processo de cremação, pode-se considerar que o referido processo produz apenas emissões atmosféricas. Se a combustão for bem controlada e o equipamento for eficiente, as emissões da substância são quase nulas e existem em pequenas quantidades na forma de gases de combustão, como o dióxido de carbono”, destaca.

Francisleile explica ainda que a gestão de resíduos sólidos gerados nos cemitérios também é uma questão crítica para a saúde pública. Resíduos como restos de roupas de cadáveres, caixões e flores podem se tornar agentes contaminadores. A implementação de medidas e regulamentações, como filtros biológicos, pastilhas bacterianas e mantas absorventes, é fundamental para reduzir o impacto ambiental e proteger a saúde pública.

Por esses fatores, ela ressalta a importância de novas práticas funerárias, como a compostagem humana, que pode ser uma alternativa mais sustentável e econômica. No entanto, segundo explica, essa prática enfrenta desafios culturais e econômicos e exige políticas públicas para se tornar mais viável no Brasil.

Com informações do Terra.

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