Frio no sul, calor extremo no norte: entenda a dinâmica do clima no mundo

Nos últimos dias, várias cidades brasileiras tiveram os dias mais frios do ano. Em pontos de Santa Catarina, nevou por três dias consecutivos, algo que não acontecia há 20 anos, segundo o Centro de Informações de Recursos Ambientais e Hidrometeorologia do estado.

Em São Paulo, a última quarta-feira (30) teve a madrugada mais fria em três anos, com temperatura mínima de 5,7°C segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura. O Movimento Nacional da População de Rua calcula que ao menos 12 pessoas desabrigadas morreram desde o início do ano.

No outro hemisfério, o Canadá tem passado por dias de calor intenso, atingindo a temperatura mais alta da história na última quarta-feira, de 49,5°C. A máxima anterior havia sido em 1937, quando chegou a 45°C.

Até quarta, os serviços de emergência da província da Colúmbia Britânica registraram mais de 480 mortes –quando o normal, em um período de quatro dias, é de cerca de 130. Os legistas estão analisando se as temperaturas incomuns tiveram alguma influência.

O que motiva esses extremos? De acordo com especialistas, são dois fenômenos meteorológicos distintos, mas a falta de umidade e a ação humana podem ter contribuído em ambos os cenários.

Neve em Urupema, em Santa Catarina, onde termômetros chegaram a -7,5ºC (Foto: Divulgação)

Massa polar
O meteorologista e professor da USP Augusto Pereira explica que o frio no hemisfério sul vem de uma massa do polo antártico.

“Nessa época do ano, há um contraste térmico muito intenso entre o Equador e o polo antártico, que, durante o inverno, fica completamente no escuro. Isso faz com que haja um gradiente de pressão na direção da Antártica para o Equador e, dada a rotação da Terra, essas massas de ar se deslocam para cá”, disse.

“Quando chegam, a fronteira delas é chamada de frente fria, ondas produzidas pelo contraste térmico”, conta. “Essa frente fria foi em direção ao norte e chegou ao sul, sudeste, centro-oeste do país, causando temperaturas até 18 graus abaixo do normal”.

Ele conta que, apesar de serem fora do comum, essas massas de ar são normais para essa época do ano. O que causa preocupação é a falta de umidade, que pode facilitar queimadas, como as que ocorreram no ano passado, disse o professor.

“O resultado desse inverno mais intenso depois são as queimadas, porque o sistema faz com que o ar frio se desloque da Antártica para cá, e leva o nosso ar quente e úmido para lá. Cada vez que tem essas frentes frias, coisas de uma semana, há remoção de umidade da superfície da atmosfera.”

Domo de calor

Termômetro marca 109ºF, o equivalente a 42,7ºC, em Seattle, nos EUA
Foto: Jason Redmond/Reuters (28.jun.2021)

Pereira conta que essa superfície seca pode ter contribuído para as temperaturas atuais no Canadá e nos Estados Unidos.

“O inverno deles foi muito rigoroso”, lembra. “Agora no verão, com menos umidade, se gera um sistema de alta pressão. Eles são mais lentos, quando se instalam em dado local, se demoram para deslocar. Com muita radiação solar e baixa umidade, a temperatura bate recorde”, explica.

Esse sistema de alta pressão também é chamado de “domo de calor”, já que age como uma tampa na atmosfera, que prende o ar quente.

Ação humana
O professor diz que, apesar das temperaturas serem explicadas por esses fenômenos, “isso não quer dizer que não tenha efeito antrópico, ou seja, da ação homem”.

“Aqui em São Paulo o clima mudou muito por causa da metrópole. Em geral, é mais quente e mais seca por causa do uso e da ocupação do solo”
Augusto Pereira, professor da USP

Apesar disso, ele considera que a explicação principal para esses eventos seja a variabilidade climática das estações e que não é nada fora do comum.

O cientista da Universidade do Estado de Pensilvânia, Michael E. Mann, porém, acredita que a onda de calor esteja fortemente relacionada à mudança climática.

“Você esquenta o planeta, você verá uma incidência aumentada de extremos”, disse Mann à CNN Internacional.

Conforme a emissão de gases estufa para a atmosfera aumenta, mais energia é acrescentada ao sistema climático, explica a pesquisadora Kristie Ebi, da Universidade de Washington. Essa energia excedente aparece por meio de eventos climáticos extremos.

“As ondas de calor sempre ocorreram e sempre vão ocorrer, mas temos um padrão diferente de ondas de calor agora do que tínhamos há algumas décadas”, disse.

As informações são da CNN.

Sair da versão mobile