Entenda como funciona a mineração de criptomoedas e os efeitos no meio ambiente

Uma criptomoeda não tem forma física, existindo apenas no mundo digital. Se o dinheiro em papel é impresso por instituições como a Casa da Moeda, o processo de “confecção” de criptomoedas é chamado de mineração, e tem sido alvo recentemente de críticas devido aos seus impactos ambientais.

A mineração de criptomoedas está envolvida no chamado blockchain, sistema base para os criptoativos. O blockchain é formado por pedaços de códigos (os blocos), que ficam ligados entre si (a rede), o que deixa o sistema. É nesses blocos que ficam registradas informações, como os dados de transações de criptomoedas.

Alan de Genaro, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que o processo de mineração envolve “verificar se a informação apresentada em um desses blocos é verdadeira ou não”. Caso ela seja verdadeira, o bloco é incorporado à rede e ganha um código de criptografia.

Para acessar um bloco da rede, para, por exemplo, roubar informações, é preciso desvendar a criptografia de todos os blocos anteriores, daí a sua segurança.

“Os mineradores são validadores das informações, porque não tem um ente regulatório que diz que uma pessoa tem x dinheiro na conta, ou se pode transferir x dinheiro para outra pessoa”, diz o professor.

Feito o processo de validação das informações, as transações envolvendo criptomoedas podem ser realizadas. Como forma de pagamento pelo trabalho, o minerador recebe criptomoedas que estavam armazenadas, e que passam a circular no mercado.

Mineração e tecnologia

A validação de transações é o elemento que une os processos de mineração de todos os tipos de criptomoedas. Para garantir que a informação é verdadeira, o minerador precisa resolver um algoritmo, conhecido como algoritmo de consenso, que então mostra uma espécie de “marca d’água” que confirma a veracidade.

Apesar disso, a mineração pode variar dependendo da criptomoeda. Hoje, a maioria delas, incluindo o bitcoin e o ethereum, as duas maiores, trabalham com o chamado “proof of work”, ou “prova de trabalho”, em português.

“É um processo intensivo, computacional, que demanda computadores específicos para resolver o algoritmo, que em essência é de tentativa e erro. Quanto mais computadores estiverem realizando, mais fácil de encontrar a resposta”, diz Genaro.

Atualmente, o minerador que conseguir validar uma transação envolvendo bitcoin recebe, como recompensa, 6,25 bitcoins, sendo que 1 bitcoin vale em torno de US$ 43 mil de acordo com a cotação em 27 de setembro.

A quantidade, segundo Genaro, tem diminuído com o passar do tempo. A razão é que o bitcoin possui uma quantidade finita, de 21 milhões, e assim é preciso controlar o quanto desse recurso é colocado no mercado.

Marcella Ungaretti, pesquisadora da XP Investimentos, diz que, inicialmente, os algoritmos eram mais simples de resolver, então o processo não envolvia computadores superpotentes e podia ser feito individualmente.

Conforme a demanda pela criptomoeda aumentou, foi necessário tornar a mineração mais difícil. Hoje, os mineradores acabam sendo empresas que realizam apenas essa atividade. Em outros casos, pessoas podem se unir, formando os chamados pools (consórcios), para aumentar a capacidade operacional dos computadores e decifrar o algoritmo.

Realizar a mineração do bitcoin depende, portanto, de uma grande quantidade de máquinas, que por sua vez devem ter uma grande capacidade operacional, chamados por Genaro de “supercomputadores”. A combinação desses dois elementos cria um consumo elevado de energia.

O consumo de energia

Ungaretti afirma que o processo de mineração do bitcoin acaba sendo pouco eficiente hoje em dia. “A resolução desse algoritmo envolve uma série de mineradores competindo ao mesmo tempo, e o primeiro que confirma a transação é quem recebe a recompensa. Isso gera uma ineficiência no processo, porque consome muita energia para um ganho de um só”.

“O processo individual tem um consumo alto, e a principal preocupação, o fator que fez esse impacto ser grande é a fonte de energia que é utilizada. O mapeamento hoje mostra que o bitcoin é minerado principalmente na China, que usa o carvão, bem poluente, como principal fonte energética”, afirma.

A atração de mineradores para a China envolve, segundo Genaro, um custo barato de energia e para a compra de computadores, essenciais para que a mineração seja lucrativa. Dados da Universidade de Cambridge indicavam que, em 2020, 60% da mineração mundial ocorria no país.

Já em abril de 2021, o valor caiu para 46%, em meio ao aumento de medidas do governo para limitar o comércio e mineração das criptomoedas. Criticando o aspecto especulativo e os danos ambientais ligados ao setor, a China realizou uma série de regulações. Na sexta-feira (24), proibiu a mineração e a transferência dos ativos.

Além da China, o segundo país com mais mineradoras são os Estados Unidos, seguido da Rússia, Malásia e do Irã. O Brasil, segundo Genaro, tem uma participação pequena, porque o custo de energia para uma atividade tão intensiva quanto a mineração é muito alto.

O consumo de energia para a mineração varia dependendo do próprio volume de transações no mês que precisarão ser verificadas.

Levantamento da Universidade de Cambridge aponta que, em maio deste ano, o consumo anualizado na mineração de bitcoins chegou ao pico de 130 TWh (TeraWatts-hora), mas ele caiu desde então: em 26 de setembro, a média anualizada estava em 98 TWh.

Se todo o setor de mineração de bitcoins fosse um país, seria o 34º maior consumidor de energia. À frente de países como Filipinas e Finlândia, mas atrás de Suécia, Polônia, África do Sul, Brasil e outros. O maior consumidor é a China, com 6453 TWh por ano.

Efeitos no meio ambiente e críticas

Genaro afirma que o consumo de energia pela mineração “sem dúvidas é bastante”, mas que é importante comparar com outros setores da economia. A mineração de ouro, por exemplo, consome 131 TWh.

“Muita atenção é dada ao consumo do bitcoin porque ele tem como premissa a publicidade, por isso consegue contabilizar, existem setores que também são intensivos, incluindo no mercado financeiro, mas por serem informações privadas, não conseguimos calcular o consumo e impacto ambiental”, diz afirma.

Hoje, o consumo de energia para a mineração de bitcoin é equivalente a menos de 0,6% de todo o consumo mundial. “É de se esperar que o setor de criptomoedas cresça cada vez mais, então ao longo do tempo esse impacto vai aumentar conforme a moeda ganhe mais relevância”, diz Ungaretti.

Por isso, crescem as críticas e demandas de investidores para que as mineradoras usem fontes renováveis para a mineração, de baixo impacto ambiental e que correspondem a cerca de 40% da energia usada atualmente, e também de migração para países que oferecem essas fontes e tenham preocupações ambientais. O desafio para as empresas é encontrar localidades que oferecem energia mais barata.

Para Genaro, essas demandas devem se concentrar no nível dos investidores, ainda sem uma grande atuação de governos, com a China sendo uma exceção, não a regra. Um exemplo de críticas veio de Elon Musk, o bilionário dono das empresas Tesla e SpaceX.

As informações são da CNN.

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