Doença que mais afastou pessoas do trabalho em 2023 afeta mulheres

Mioma uterino causou o afastamento de mais de 21 mil trabalhadores nos primeiro meses do ano, segundo levantamento do Ministério da Previdência Social

Dor pélvica é um dos sintomas do mioma uterino (Foto: Pexels)

Dor pélvica é um dos sintomas do mioma uterino (Foto: Pexels)

Durante uns 5 anos anos, a terapeuta integrativa Flávia Giacinto, de 43 anos, faltou ao trabalho todos os meses. As ausências tinham datas pré-fixadas, entre o segundo e o quinto dia do ciclo menstrual. Cólicas que causavam desmaios e sangramentos intensos impediam que ela suportasse ficar em pé. A causa do sofrimento foi revelada durante exames para investigar suas tentativas frustradas de engravidar: mioma uterino.

Flávia passou por duas cirurgias para retirar os miomas. Na primeira, com medo de se queimar ainda mais na empresa e perder o emprego, não cumpriu os 15 dias de afastamento previstos no período pós-cirúrgico. “Eu operei na sexta e, na segunda, já estava de volta ao trabalho”, conta.

Não adiantou. Flávia foi mandada embora. Empregada em outra companhia, a terapeuta passou por uma segunda cirurgia mais extensa e precisou ficar um mês de molho.

Flávia faz parte do contingente de pessoas que precisou se afastar do trabalho por causa dessa doença ginecológica. O mioma é a enfermidade que mais tirou trabalhadores de seus postos no primeiro semestre de 2023. Segundo um levantamento do Ministério da Previdência Social, mais de 21 mil pessoas ficaram em casa por esse motivo.

A pesquisa considera somente afastamentos por mais de 15 dias e que, consequentemente, geraram um benefício ao segurado do INSS.

O que é mioma?

Os miomas uterinos, também conhecidos somente pelo primeiro nome, são os tumores benignos mais comuns entre as mulheres.

Mioma não é câncer e não evolui para uma condição cancerosa. O tumor tem origem na musculatura do útero, conhecida como miométrio. Ele se forma devido a uma alteração genética em uma única célula desse tecido, que perde a capacidade de controlar sua proliferação celular e forma nódulos.

O tumor benigno é uma condição hormônio-dependente e, por isso, mais comum durante o período reprodutivo da mulher.

“Ele é mais frequente em torno dos 40 anos. À medida que as mulheres entram na menopausa e os níveis hormonais diminuem, os miomas tendem a encolher”, explica a ginecologista Bianca Bernardo, especialista em reprodução humana da Nilo Frantz Medicina Reprodutiva e do Centro de Mioma.

Sintomas e diagnóstico

Segundo Bianca Bernardo, a maioria das pacientes com miomas é assintomática. Entre as que têm sintomas, os mais comuns incluem aumento do volume e duração do ciclo menstrual, sangramento irregular, dor pélvica e incômodo durante a relação sexual. Dependendo do tamanho, o tumor benigno pode comprimir órgãos vizinhos como a bexiga e o intestino, afetando a micção e a evacuação.

O diagnóstico é clínico, associado a exames de imagem, como ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética pélvica.

Tratamento clínico e cirúrgico

O tratamento depende da presença de sintomas e do tamanho e localização do tumor benigno. Para pacientes assintomáticas, o acompanhamento clínico pode ser suficiente. No entanto, se os sintomas são significativos, indicam-se anti-inflamatórios para dor e uso de anticoncepcionais para regular o fluxo menstrual.

Quando os sintomas são persistentes e o tratamento clínico não é eficaz, a cirurgia pode ser necessária. Existem diferentes tipos de procedimentos, desde a miomectomia, que retira os miomas mantendo o útero intacto, até procedimentos mais radicais, como a histerectomia, que remove o útero. O período de afastamento pós-cirúrgico varia de 15 a 30 dias, segundo a médica.

“Não existe uma maneira de prevenir o desenvolvimento de miomas, uma vez que sua formação está ligada a fatores genéticos e hormonais”
— Bianca Bernardo, ginecologista

A importância da informação

Na opinião de Flávia Giacinto, o conhecimento é o principal caminho para a compreensão da doença. “A maioria das mulheres não tem informação sobre o próprio ciclo menstrual e não identifica sintomas dos miomas uterinos”, afirma.

Depois de sofrer na pele com o desconhecimento sobre miomas, a terapeuta criou, em 2015, uma comunidade fechada no Facebook que serve de apoio para pessoas com a condição. Há dois anos, ela lançou o perfil @mulherescommiomas no Instagram. Juntas, as duas contas têm 35 mil seguidores.

“Eu trabalho para que as mulheres não tenham mais sintomas e possam, por exemplo, não ter que faltar no trabalho e perder o emprego por causa disso”, diz.

Com informações da Marie Claire.

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