Distorcida e ‘meio louca’, a selfie 0.5 é a nova fronteira nas redes sociais

Julia Herzig, uma jovem de 22 anos de Larchmont, Nova York, tem “uma obsessão”: tirar um novo tipo de selfie, fora dos padrões. Em algumas dessas selfies, a testa de Herzig se projeta em metade da foto. Seus olhos estão cortados, olhando para algo além. Seu nariz se projeta e sua boca está invisível. E ela diz que essas imagens são melhores quando têm “uma vibe meio assustadora”.

Herzig começou a tirar essas fotos — chamadas de “selfie 0.5”, ou “point five selfies” em inglês — quando migrou para um iPhone 12 Pro, no ano passado, e descobriu que sua câmera traseira tem uma lente grande angular que poderia fazer ela e seus amigos parecerem “distorcidos, meio loucos”. Mas o que parecia uma piada para Herzig ganhou o Instagram. Alguns meses atrás, ela se deparou com um feed cheio de “selfies 0.5” na rede social.

— De repente, todo mundo estava tirando “selfies 0.5” — disse ela.

Antítese da 3×4

Onde quer que a Geração Z se reúna hoje em dia, uma “selfie 0.5” quase sempre será tirada, capturando o momento com certa aleatoriedade. As “selfies 0.5” estão aparecendo no Instagram, proliferando em bate-papos em grupo, tornando-se o assunto das festas e muitas vezes sendo usadas para narrar a vida cotidiana.

Diferentemente de uma selfie tradicional, para a qual as pessoas podem se preparar e posar sem pressa, a “selfie 0.5” (assim chamada porque os usuários adotam o recurso “0,5x” na câmera do smartphone para usar o modo grande angular) tornou-se popular porque é difícil de ser superada. Como a lente está embutida na câmera traseira dos telefones, as pessoas não podem se ver na mesma hora em que fazem uma “selfie 0.5”, o que propicia imagens aleatórias caprichadas na distorção.

— Você realmente não sabe como vai ficar, então só precisa confiar no processo e esperar que algo de bom saia daí — disse Callie Booth, acrescentando que uma boa “selfie 0.5” é a “antítese” de uma clássica “3×4”.

O problema é que tirar uma “selfie 0,5” é difícil. A câmera traseira dificulta os ângulos. Para encaixar todo mundo no mesmo quadro, é preciso esticar os braços o máximo possível. Para maximizar um rosto distorcido, é preciso colocar o telefone perpendicular à testa, bem na linha do cabelo.

E, como o telefone está virado, é preciso pressionar o botão de volume para tirar a foto, tomando cuidado para não confundi-lo com o botão liga/desliga. E nada é visível até que a selfie seja tirada.

Lentes grande angular e nesta versão ultra não são novas. Patenteadas pela primeira vez em 1862, são frequentemente usadas para capturar mais de uma cena com seu campo de visão mais amplo, particularmente em fotografia de arquitetura, paisagem e rua.

Popularizadas por celebridades como Ellen DeGeneres, Kim Kardashian e Paris Hilton, selfies são uma inovação moderna (embora até isso às vezes seja contestado). Em 2013, o Oxford adicionou “selfie” ao seu dicionário on-line e a classificou como “Palavra do ano”.

Já a “selfie 0.5” nasceu da convergência da lente grande angular com a selfie, possibilitada quando as lentes ultragrande angular foram adicionadas ao iPhone 11, da Apple, e ao Galaxy S10, da Samsung, em 2019, e aos modelos mais recentes.

Por causa da grande angular, o que se aproxima da lente parece maior na foto, enquanto o que está distante parece menor. Essa mudança distorce o que está sendo fotografado de uma maneira que é bem-vinda, por exemplo, na fotografia arquitetônica, mas tradicionalmente desencorajada em retratos.

— A grande angular para fotos de retratos sempre foi diferente porque apenas a tornava mais distorcida — diz Alessandro Uribe-Rheinbolt, fotógrafo de Detroit.

Uribe-Rheinbolt disse que trouxe a grande angular de seu trabalho — onde os clientes pediram a aparência de uma “selfie 0.5” — para sua vida pessoal, usando-a para capturar amigos e a rotina diária.

— Dá uma aparência mais casual. Há muito mais criatividade com a maneira como você inclina e aproxima o que está fotografando — afirma.

Nada sério

Uma “selfie 0.5” não editada é mais divertida do que uma frontal. Postá-la no Instagram, com aqueles olhos tão esbugalhados, é apenas uma brincadeira mesmo, fazendo parecer que os fotógrafos não levam a si mesmos — e as mídias sociais — tão a sério.

— Você está reconhecendo que está tirando uma foto apenas para tirar uma foto — disse Hannah Kaplon, 22, de Sacramento, Califórnia. — Está tentando tornar o Instagram casual novamente.

As informações são do Jornal O GLOBO.

Sair da versão mobile