De saída da Rússia, abertura do McDonald’s marcou fim da URSS nos anos 90

A maior rede de fast-foods do mundo decidiu paralisar suas operações na Rússia devido à invasão do país à vizinha ucrânia.

A decisão do McDonald’s segue a de uma série de empresas que decidiram boicotar a economia russa. Pepsico, Apple, Meta, L’óreal, Zara são alguns exemplos de empresas que fecharam lojas ou operações desde a última semana.

A chegada da rede de restaurantes em janeiro de 1990 marcou o fim da União Soviética, que vinha em processo de abertura política e econômica ao ocidente desde a década de 80. A primeira loja da rede foi inaugurada na sisuda praça Pushkin, no centro de Moscou.

Fotografias da inauguração mostram as enormes filas que os russos fizeram para experimentar um pouco da cultura ocidental. No dia da inauguração, os principais registros falam em um número de 30 mil russos servidos.

Em um relato de 2014 no site Calvert Journal, o fotógrafo russo Mitya Kushelevich conta que aquela inauguração “representava a mudança que todos esperávamos”.

Na época, o bloco soviético vivia um colapso econômico, distante do auge do poder econômico das décadas passadas.

“Todos queriam experimentar, do zelador ao professor. (…) Não sabíamos o que era fast-food. Pensávamos que o McDonald’s era um restaurante normal que serve cozinha americana. Provavelmente tinha gosto de liberdade e queríamos provar”, conta Kushelevich.

Na época, Moscou “foi à loucura” e população esperou horas na fila para experimentar um pouco da cultura ocidental (Foto: Divulgação)

O fotógrafo conta que sua mãe só decidiu levá-lo para experimentar o McDonald’s no meio do ano, quando já era verão. Mesmo meses depois, as filas eram enormes. Kushelevich e a mãe esperaram oito horas sob o sol.

“Uma vez lá dentro, ficamos impressionados com o número de jovens atrás do enorme balcão, sorrindo, movendo-se como abelhas, servindo uma refeição após a outra. Não era nada como nossas velhinhas gordas em vestidos brancos sentadas na frente de prateleiras vazias, com pirâmides de comida enlatada empoeirada”.

O historiador Boris Egorov também fez um relato online no Russia Beyond que tem o mesmo tom de Kushelevich. O país não era acostumado com marcas, marketing e com a sabor intenso da comida de fast-food. E também não eram acostumados com a cultura pop e informal. Nas palavras dele, Moscou ficou “louca” com a inauguração.

“Para o cidadão soviético comum durante a perestroika, o McDonald’s oferecia um vislumbre de como era a vida (e comer fora) além da Cortina de Ferro. As pessoas da URSS ouviram tanto sobre a cultura ocidental sem poder chegar perto dela, então os cidadãos soviéticos realmente enlouqueceram quando os arcos dourados balançaram em Moscou”, conta Egorov.

Os jovens sorridentes por trás do balcão eram tão chocantes para a população russa, que Egorov conta que muitos clientes ficavam desconfiados. Além disso, as vagas de trabalho ali eram reservadas para estudantes de universidades de prestígio que falavam línguas estrangeiras.

“Essa nova força de trabalho era um nítido contraste com o típico setor de serviços soviético, conhecido por ser desdenhoso, carrancudo e frio”, diz Egorov.

O segundo restaurante só foi inaugurado dois anos depois, e contou até com a presença do presidente reformista Boris Yeltsin.

Na Rússia, a rede tem 850 lojas e 62 mil funcionários, e a decisão de pausar as operações foi anunciada pelo CEO da empresa, Chris Kempczinski, em um comunicado global.

“Nos mais de trinta anos em que o McDonald’s operou na Rússia, nos tornamos uma parte essencial das 850 comunidades em que operamos. Ao mesmo tempo, nossos valores significam que não podemos ignorar o sofrimento humano desnecessário que se desenrola na Ucrânia”, disse Kempczinski em um comunicado.

A invasão russa à Ucrânia começou no dia 24 de fevereiro. De lá para cá, o exército de Vladimir Putin tem tido dificuldades para no território do vizinho. A invasão russa levou a maior parte do ocidente a impor sanções contra a Rússia, que tem começado a afetar a economia do país.

As informações são da EXAME.

Sair da versão mobile