Covid pode mudar o olfato e transformar crianças em ‘comedoras exigentes’

A vacinação para as crianças de 5 a 11 começa a ser uma realidade no Brasil, depois de 3.185 casos diagnósticos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por covid-19 nessa faixa etária terem sido registrados até dezembro de 2021.

Para parte dessas crianças que se recuperaram, há chances delas experimentarem o olfato distorcido, a exemplo dos adultos. A diferença é que isso pode torná-las mais exigentes em relação aos alimentos que comerão, de acordo com especialistas no Reino Unido.

“Parosmia” – quando as pessoas experimentam distorções de cheiro estranhas e muitas vezes desagradáveis – é relativamente comum após uma infecção por covid. Em vez de cheirar um limão, por exemplo, alguém que sofre de parosmia pode cheirar repolho podre, ou chocolate pode cheirar gasolina, de acordo com os especialistas ouvidos pelo site americano CNBC.

Especialistas dizem que pode ser uma razão pela qual as crianças que se recuperaram do covid podem ter dificuldade em comer alimentos que antes amavam. “Para algumas crianças – e particularmente aquelas que já tiveram problemas com comida, ou com outras condições como autismo – pode ser muito difícil”, disse o principal especialista em olfato do Reino Unido, Carl Philpott.

Para os responsáveis pelas crianças que venham a perceber a situação, calma e algumas orientações são recomendadas. Um guia para ajudar pais e profissionais de saúde a reconhecer melhor o distúrbio e distingui-lo de um “comer exigente” foi divulgado pelo professor da Escola de Medicina de Norwich da Universidade de East Anglia, e a instituição de caridade Fifth Sense.

O que os pais podem tentar

À medida que novas variantes da covid surgiram, os sintomas associados a diferentes cepas mudaram, com as variantes delta e ômicron levando algumas pessoas a experimentar sintomas mais semelhantes a um resfriado.

Ainda assim, muitas pessoas relataram que seu olfato ou paladar permaneceu distorcido após uma infecção por covid. Isso pode ser devido à condição mais duradoura chamada “covid longa”, que ainda não é totalmente compreendida pelos cientistas.

Em suas orientações aos profissionais e pais, o professor Philpott e o Fifth Sense disseram que as crianças devem ser ouvidas e acreditadas. Eles também disseram que “os pais podem ajudar mantendo um diário para anotar os alimentos que são seguros e os que são desencadeantes”.

“Ouvimos alguns pais cujos filhos estão sofrendo problemas nutricionais e perderam peso, mas os médicos atribuem isso apenas à alimentação exigente. Estamos realmente interessados em compartilhar mais informações sobre esse problema com os profissionais de saúde, para que eles saibam que há um problema mais amplo aqui”, comenta o presidente e fundador da Fifth Sense, Duncan Boak.

O médico Philpott avalia que há vários gatilhos comuns para a parosmia, como o cheiro de carne cozida e cebola ou alho, além de café fresco.

“Os pais e profissionais de saúde devem incentivar as crianças a experimentar alimentos diferentes com sabores menos fortes, como macarrão, banana ou queijo suave – para ver com o que eles podem lidar ou desfrutar. Batidas de baunilha ou proteínas e vitaminas sem sabor podem ajudar as crianças a obter os nutrientes de que precisam sem o sabor”, disse ele.

Se tudo mais falhar, diz o especialista em olfato, as crianças podem usar “um clipe nasal macio ou segurar o nariz enquanto comem”. Isso vai ajudá-las a bloquear os sabores.

Como treinar o seu… olfato

Crianças e adultos devem considerar o “treinamento do olfato” – que surgiu como uma opção de tratamento simples e sem efeitos colaterais para várias causas de perda do olfato.

O treinamento do olfato envolve cheirar pelo menos quatro odores diferentes – por exemplo, eucalipto, limão, rosa, canela, chocolate, café ou lavanda – duas vezes ao dia, todos os dias, durante vários meses.

“As crianças devem usar cheiros com os quais estão familiarizadas e não são gatilhos de parosmia. Em crianças mais novas, isso pode não ser útil, mas em adolescentes isso pode ser algo que eles podem tolerar”, observa Philpott.

 

Sair da versão mobile