Corpo de vítima de covid doado para ciência foi usado em evento com ingresso de US$ 500

O corpo de David Saunders, um homem de 98 anos morador do estado norte-americano de Lousiana que faleceu por covid-19 em agosto deste ano, foi doado por sua esposa para pesquisas médicas. No entanto, o destino dado ao seu corpo foi diferente do que a família esperava.

Segundo informações do Yahoo, o corpo foi usado em uma demonstração em um hotel cuja ingresso para assistir à dissecação do cadáver custou até US$ 500 (cerca de R$ 2.700) por pessoa. Algumas pessoas, inclusive, colocaram luvas para se aproximar do corpo e tocá-lo.

“Minha impressão foi que seria estritamente para fins de ciência médica, e não que o corpo dele seria exposto”, disse a viúva Elise Saunders. Ela chamou o evento de “mórbido” e contou que tomou conhecimento dele por relatos da mídia. Ela ficou em choque.

O caso veio à público por conta de um vídeo divulgado pela rede de televisão King 5 News, de Seattle (EUA). Nele, é possível ver a dissecação de um cadáver que teria sido feita para um público pagante em um hotel de Portland, no Oregon.

“Quinhentos dólares por cabeça para as pessoas assistirem —isso não é ciência”, disse Elsie Saunders.

O evento, que aconteceu no dia 17 de outubro, foi divulgado como uma aula de “laboratório de cadáveres”, “levada até você” por uma empresa chamada Death Science (“ciência da morte”, em tradução livre) e uma segunda organização, a Oddities and Curiosities Expo (“exposição de bizarrices e curiosidades”, em tradução livre).

Segundo representante da Death Science, os ingressos foram disponibilizados para o público geral. No total, setenta pessoas compareceram a um suposto workshop onde “os participantes puderam observar uma dissecação anatômica de um cadáver humano completo”, segundo o representante.

Segundo o fundador da empresa, Jeremy Ciliberto, seu objetivo foi “criar uma experiência educativa para indivíduos interessados em aprender mais sobre a anatomia humana”.

“Compreendemos que o evento tenha causado aflição indevida à família e pedimos desculpas por isso”, disse apenas.

O Departamento de Justiça do Oregon e a promotoria pública do condado de Multnomah concluíram que, mesmo que a dissecação possa ter violado leis cíveis, não há “leis criminais que se apliquem diretamente a tais circunstâncias”.

Já Kimberly DiLeo, a médica legista chefe do condado de Multnomah, contou que o cérebro e os órgãos foram removidos durante o que descreveu como um “evento pay-per-view público”.

“Foi absolutamente imoral e antiético”, ela disse. Ela disse também que as autoridades do condado estão investigando se o evento infringiu leis.

Doação do corpo

Elise Saunders conta que após a morte de seu marido ela tentou doar seu corpo à escola de medicina da Universidade Louisiana State, mas disse que não foi aceito porque David morrera de uma doença infecto-contagiosa.

Em seguida, ela foi a uma funerária de Baton Rouge, na Louisiana, que indicou o laboratório Med Ed Labs, no estado de Nevada. O laboratório afirma fornecer cadáveres a organizações militares, governamentais, comerciais e sem fins lucrativos.

“Em momento algum me disseram que iam revender o corpo de meu marido”, disse Saunders, em referência aos documentos que firmou com a Med Ed Labs. “Sob circunstância alguma eu teria concordado em ter o corpo de meu marido exposto publicamente.”

Em declaração postada na última sexta-feira (5), o laboratório disse que “não sabia que pessoas pagariam para assistir a um evento incluindo um de nossos doadores”.

 

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