Apresentador Ratinho se recusa a falar “todes”; entenda o que é a linguagem neutra

Um vídeo do apresentador Ratinho exaltado com a linguagem neutra viralizou nos últimos dias. Na gravação, ele conta como estava se recuperando de uma cirurgia que havia feito e, em seguida, se dirige a “todos e todas do Brasil”.

A pessoa que estava gravando o alerta sobre a necessidade de falar “todes”: “Chefe, tem que falar ‘todes’”. O apresentador responde, visivelmente incomodado: “Todes? (…) Agora tem que falar todes? Eu sou obrigado a falar todes?”.

Sua funcionária aconselha a regravar o vídeo, mas ele se recusa, proferindo uma série de xingamentos.

Mas, afinal, o que é a linguagem neutra e por que ela causa tantas discussões?

Em conversa com a CNN, Henrique Leroy, professor da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que há duas perspectivas para se enxergar a linguagem neutra – do ponto de vista gramatical/estrutural e a partir da subjetividade.

Linguagem Neutra x Linguagem Inclusiva

“Quando eu falo do ponto de vista gramatical mais tradicional, a linguagem neutra é uma variedade da língua que não marca o gênero feminino nem o masculino”, esclareceu o doutor em perspectiva crítica das linguagens. “Não uso nem ‘ela’ nem ‘ele’, usaria o ‘elu’ para ir além do binarismo”, acrescentou.

Por outro lado, quando se parte da subjetividade levando em conta o “corpo” ou a pessoa que está falando, dá-se lugar a uma linguagem inclusiva mais empática.

Para o professor, usar a linguagem neutra tem que ser uma questão de “empatia ao diferente” e não uma imposição “Nada é correto ou incorreto, só ver se é adequado para aquele ambiente específico”, afirmou Leroy.

Se eu considero aquele sujeito que é diferente do padrão, e que não corresponde ao feminino ou masculino, eu mostro um respeito pela diversidade

Henrique Leroy, professor da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Quais são os traços na escrita?

Em entrevista à CNN Rádio, o linguista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Luiz Carlos Schwindt explica que o que costuma acontecer é utilizar o “e” no conjunto das palavras que fazem oposição ao “o” e ao “a”.

Por exemplo, usar “menine” para indicar um terceiro gênero que, além de incluir meninos e meninas, também vai contemplar os não-binários. Schwindt acrescenta que somente na escrita há ainda o uso de “x” ou “@” ao invés das vogais, por exemplo.

Leroy também explica que é possível usar as variações do pronome “elu”: “A caneta é delu”; “Elu é bonite”.

O futuro da linguagem

Para o professor da UFMG, a gramática foi um instrumento de colonização “assim como o armamentismo, como a economia e a política”. Leroy entende que a força colonizadora foi forte o suficiente a ponto de levar as pessoas a terem dificuldade de aceitar o que é “diferente”: “Por isso que incomoda tanto e às vezes causa aversão”.

No entanto, mudanças estruturais requerem tempo e, para o professor, há toda uma “conjuntura social, cultura, étnico-racial, política e econômica” que tem que ser levada em conta.

“A gramática tradicional não dá conta da diversidade do mundo. É preciso começar a pensar criticamente e é o pensamento que liberta”, finalizou.

Sair da versão mobile