Quem é o brasileiro que solda barragem anti-tanque para ajudar ucranianos a resistir

Aricio Teixeira Filho tem 41 anos, e mora há 14 deles em Kyiv

“Como muitos outros ucranianos, eu mesmo estou sem casa agora pela primeira vez; não existe qualquer perspectiva de planos a longo prazo, o plano agora é cada fazer o que chega de demanda para ser feito e resistir”, conta o brasileiro Aricio Teixeira Filho, de 41 anos, 14 deles em Kyiv, onde mora desde 2008.

Um problema burocrático com o passaporte durante uma viagem de bicicleta entre a Turquia e os países bálticos o levou a parar uns dias na capital ucraniana. Os dias se tornaram semanas, que o levaram a identificar a falta de albergues, ou hostels, na cidade, e assim o fotógrafo se tornou empresário no país então em paz.

Ao longo dos últimos 14 anos, Teixeira pode observar as turbulências vividas pela Ucrânia, iniciadas em 2013 com a onda de manifestações que ficaram conhecidas como Euromaidan, e culminaram na deposição do então presidente Viktor Yanukovych – hoje exilado na Rússia que o apoiava – e seguinte anexação da península da Criméia pela Rússia em 2014.

Naquele mesmo ano também explodiu a guerra separatista nas províncias de Luhansk e Donetsk, no leste do país, cujo reconhecimento de independência e proteção da população da etnia russa foram usados como justificativa para a invasão do país vizinho comandado por Vladimir Putin.

Antes mesmo da invasão de 2022, a guerra no leste já havia deixado 1,5 milhão de ucraniados deslocados pelo país. Um grupo deles se tornaram amigos do brasileiro, e motivo para ele não abandonar a Ucrânia:

“Desistir nunca foi uma opção, eu não me sentiria bem com tudo o que construí aqui e não estou falando de material, mas é toda uma história, amizades, companheiros, que não penso em abandonar; ninguém fez nada de errado e isso dá combustível para manter o trabalho voluntário”, diz ele.

O trabalho voluntário exercido por ele vai de operador logístico de itens necessários a tropas ucranianos e refugiados a soldador de barragens antitanques, passando pelo transporte de famílias inteiras entre as fronteiras da Ucrânia e Polônia. “Fazemos o que for necessário, todo dia”, comenta.

Mesmo em momentos de repouso, os olhos não saem do celular, onde um aplicativo ajuda a ligar as demandas de militares e refugiados, às ofertas de doações e possibilidades de compras. “Não da pra pensar em outra coisas… são semanas que mal durmo e quando acordamos o assunto e preocupação são um só”.

No dia anterior, ele voltava de Cracóvia, para onde levou duas famílias ucranianas – mulheres e crianças –, o que só lhe é permitido por causa da nacionalidade estrangeira. Todos os homens ucranianos de 18 a 60 anos estão proibidos de deixar o país por causa da mobilização total da lei marcial em vigor no país desde 24 de Fevereiro.

“Muita gente tem medo do aliciamento para o tráfico de pessoas ou mesmo tráfico sexual do lado de lá da fronteira, uma coisa infelizmente muito comum com mulheres do leste europeu, então muitos acabam me pedindo para levar as famílias diretamente por esse temor”, explica. Na Polônia aproveita para visitar a esposa, que deveria ter voltado à Ucrânia no mesmo dia da invasão, e reabastecer a van que usa como veículos de frete.

Lá também observa a tensão de poloneses e nacionais dos países Bálticos – todos vizinhos diretos da Rússia – com uma expansão da guerra para além da Ucrânia. Para ele, todos eles esperam que o pior não aconteça, mas uma vez que este pior estourou na nação vizinha, já não duvidam de mais nada.

Em Kyiv Teixeira é dono do hostel Kiev Central Station, com capacidade para 40 hóspedes, e no final do ano passado, poucos dias antes do início do deslocamento de tropas russas no entorno da Ucrânia, abriu um bar ao lado do Mosteiro de São Miguel das Cúpulas Douradas.

Ele se emociona ao lembrar da rotina. “Minha esposa e eu trabalhávamos todos os dias, das 11h às 3h da manhã, entre o hostel e o bar… é muito duro deixar o que construímos para trás e passar a pedir doações todos os dias, pedidos que muitas vezes nem são pra mim”. Sem fonte de renda, as reservas feitas vão garantindo o aluguel de um pequeno apartamento compartilhado em Lviv, onde concentra suas atividades atualmente, aguardando o momento de voltar a Kyiv.

Entre a esperança de retomar o trabalho que fazia em Kyiv e as ações incansáveis voluntárias, Teixeira reconhece sua situação: “Ninguém gosta de ser um refugiado, mas hoje é isso que sou, porque minha casa ficou para trás; mas espero que seja apenas uma fase”

As informações são do Yahoo.

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