Mundo passa por crise de energia; veja situação do Brasil

Em discurso no Fórum Econômico de Davos, o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, disse que o mundo está no meio de sua primeira crise global de energia.

O executivo lembrou que nos anos 70 o mundo passou pela crise do petróleo e só do petróleo. Hoje, o planeta tem problemas com o gás natural, carvão e o próprio petróleo. Ou seja, um desafio muito maior.

A inflação global pegou os combustíveis em cheio. Para o Banco Mundial, a guerra na Ucrânia deve provocar o “maior choque de commodities” desde a década de 1970.

Após parecer que ia começar a se recuperar dos efeitos da pandemia, a economia mundial voltou a tomar um choque com a guerra na Ucrânia. A Rússia é um país-chave na questão de energia (o 2º maior produtor de gás natural do mundo e 3º maior quando falamos de petróleo).

A Europa é a quem mais deve sofrer com esses abalos, já que 40% de seu gás e 27% do Petróleo são fornecidos pelos russos. Com as sanções econômicas impostas pelo Ocidente, as negociações com Moscou ficaram congeladas.

Esse movimento, claro, teve impactos severos no mercado de energia no mundo todo.

Energia e petróleo com preços nas alturas

Segundo o Banco Mundial, no intervalo de quase dois anos, entre abril de 2020 e março deste ano, houve “o maior aumento de 23 meses nos preços da energia desde a subida do preço do petróleo em 1973”.

O preço do gás natural deve mais do que dobrar na Europa. Em 2023 e 2024 os valores deverão cair, mas ficarão pelo menos 15% mais caros do que em 2021.

Outro ponto acompanhado com atenção é o preço do barril do petróleo. Em 24 de fevereiro, primeiro dia da invasão russa, o barril custava US$ 101,29. Hoje está na casa dos US$ 120.

Até a segunda semana de maio, o preço da gasolina já havia subido quase 10% no Brasil. Analistas estimam que o preço praticado pela Petrobras ainda esteja defasado em 15%. A última vez que a Petrobras reajustou a gasolina foi no dia 11 de março.

Já o diesel, que sobe há cinco semanas seguidas, diz a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o que vem causando reclamações dos caminhoneiros, categoria identificada com o presidente Jair Bolsonaro, mas que nos últimos meses elevou o tom das críticas à política de preços praticada pelo governo.

“Em termos de Brasil estamos em uma temporada [na questão da energia] ruim. No ano passado, quase tivemos uma crise hídrica. Agora, os reservatórios melhoraram. As energias limpas estão crescendo. Em termos mundiais, muitos países são dependentes petróleo e carvão. Isso tende a piorar com a guerra na Ucrânia”, avalia Fabio Raia, professor de engenharia

Mecânica e Mecatrônica do Mackenzie.

Segundo dados de 2021 da Empresa de Pesquisa Energética, as fontes renováveis da matriz energética brasileira são biomassa de cana (19,1%), hidráulica (12,6%), lenha e carvão vegetal (8,9%) e outras renováveis (7,7%). Já as não renováveis são petróleo e derivados (33,1%), gás natural (11,8%), carvão mineral (4,9%), urânio (1,3%) e outras (0,6%).

A matriz elétrica é bem mais limpa, com 83% da energia vinda de fontes renováveis. Nesse caso, as hidrelétricas se destacam com 65%, seguidas por biomassa (9%) e eólica (quase 9%). A energia solar aparece com 1,7%.

Mesmo com esse quadro favorável de fontes renováveis, o Brasil precisa de cuidados para evitar crises energéticas. “É preciso fazer um gerenciamento de distribuição para evitar o desperdício e também é hora de pensar nas matrizes que não dependem do clima. A única hoje no mundo é a nuclear”, destaca Raia. No Brasil, a energia nuclear responde por apenas cerca de 1% da geração de eletricidade.

Na Europa, Alemanha e França tentam convencer outros membros da União Europeia a fazerem mais uso dessa matriz.

A energia solar é uma boa alternativa (o Brasil tem uma excelente incidência do Sol em seu território), mas a dependência de alguns elementos importados desse sistema trava o avanço.

Para o especialista, o Brasil está num bom caminho para a transição energética verde, mas a pandemia atrasou alguns processos. “Hoje temos o biogás, solar, eólica e nuclear. A pandemia atrasou algumas licenças, mas certamente vamos diversificar ainda mais nossa matriz. As hidrelétricas continuarão as mais importantes, mas irão perder um pouco do mercado [65% da nossa eletricidade hoje vem das hidrelétricas, segundo a EPE].

Crise do clima

Mesmo com essas boas projeções para uma matriz verde, a dependência das hidrelétricas para gerar energia é preocupante num cenário de crise climática onde podemos ter escassez de chuvas.

Até por causa desse quadro, cortes de energia não estão descartados. “Vai depender de nosso crescimento industrial e populacional. Se não fizermos manutenção nas redes, o consumo das empresas crescer demais e falharmos no gerenciamento na distribuição, haverá cortes. Com a energia solar, talvez a gente sofra menos”, aponta Raia, do Mackenzie.

O professor enfatiza que o uso da energia atômica precisa ser mais utilizado pelo Brasil. “Podemos, sim, fazer um comparativo do custo da energia hidrelétrica com a atômica. Se aumentarmos o volume do uso [da atômica], podemos ter uma energia até mais barata que a hidrelétrica de hoje. Nossas usinas hidrelétricas têm um custo alto e precisam de muito espaço. Precisamos utilizar mais a energia nuclear”, conclui Fábio Raia, professor de engenharia do Mackenzie.

As informações são do Yahoo.

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