Irã tem mais de cem mortos nos protestos e aiatolá volta a culpar “inimigos”

O guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, voltou a acusar nesta quarta-feira (12) “inimigos” por estarem “envolvidos nos distúrbios” que abalam o país. O líder iraniano se refere aos protestos desencadeados há quase um mês pela morte da jovem Mahsa Amini, após ela ter sido presa pela polícia de costumes por supostamente desrespeitar o uso do véu islâmico. Novas manifestações foram convocadas para denunciar a sangrenta repressão do regime xiita ultraconservador.

Pelo menos 108 pessoas foram mortas no Irã na repressão aos protestos pela morte de Amini. Além disso, a organização de Direitos Humanos Iran Human Rights (IHR) acusa as forças de segurança iranianas de terem matado cerca de outras 93 pessoas, em confrontos em Zahedan, na província de Sistão-Baluchistão (sudeste). Neste incidente, a violência foi desencadeada durante manifestações contra o suposto estupro de uma jovem por um policial. As vítimas serão lembradas nesta quarta-feira, assim como Mahsa Amini.

O principal palco dos protestos no Irã, no entanto, tem sido Sanandaj, a capital do Curdistão, província do noroeste do Irã de onde Amini era originária. “Seja a voz de Sanandaj”, diz um folheto distribuído por ativistas e postado nas redes sociais. As manifestações têm sido severamente reprimidas, segundo ONGs que acusam as autoridades de bombardear alguns bairros.

“A comunidade internacional deve evitar novos assassinatos no Curdistão dando uma resposta imediata”, afirmou nesta quarta-feira Mahmood Amiry-Moghaddam, diretor da ONG Iran Human Rights (IHR), alertando contra “uma iminente repressão sangrenta” em Sanandaj.

Curda iraniana de 22 anos, Mahsa Amini morreu três dias depois de ter sido presa pela polícia moral de Teerã, por supostamente violar o rígido código vestimentar da República Islâmica. Ela estava na capital para visitar familiares, acompanhada de um irmão. As autoridades iranianas disseram que a jovem morreu de uma doença cerebral e não de “espancamento”, segundo um relatório médico, rejeitado pelo pai da vítima.

Repressão contra crianças

Adolescentes também se juntaram ao movimento de protesto no Irã. As meninas têm retirado os seus véus, desafiando a polícia. O Unicef alertou, na segunda-feira (10), estar “muito preocupado” com relatos de “crianças e adolescentes mortos, feridos e presos” no Irã.

A Sociedade Iraniana para a Proteção dos Direitos da Criança denunciou a “violência” praticada contra elas. Pelo menos 28 crianças teriam sido mortas na atual onda repressão, “a maioria na empobrecida província de Sistão-Baluchistão”, segundo o grupo com sede no Irã.

Analistas internacionais dizem que está cada vez mais difícil para o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, de 83 anos, controlar a revolta da população, por causa da extensão e da natureza multifacetada dos protestos, que variam de grandes manifestações de rua a atos individuais de desafio da autoridade.

Nesta quarta-feira, a Justiça iraniana informou o indiciamento de 125 pessoas presas durante os “recentes distúrbios”. Apesar das centenas de prisões e uma repressão mortal, o movimento pela morte de Amini, iniciado em 16 de setembro, já é o maior ocorrido no Irã desde 2019, quando a população saiu às ruas contra o aumento do preço da gasolina. E não parece perder força.

Em 3 de outubro, em sua primeira reação às manifestações, Khamenei acusou os Estados Unidos, Israel e seus “agentes” de fomentarem os protestos. “Hoje, todos confirmam o envolvimento dos inimigos nestes distúrbios de rua”, reafirmou o aiatolá, nesta quarta-feira, durante uma reunião com membros de um órgão estatal responsável por assessorar o guia supremo. “As ações do inimigo, como propaganda, tentativas de influenciar mentes, criar excitação, incentivar e até ensinar a fabricação de materiais incendiários, estão agora completamente claras”, disse ele, sem citar os nomes dos “inimigos” desta vez.

(Com informações da AFP)

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