Governo francês quer facilitar imigração; país precisa desesperadamente de trabalhadores

Governo Macron vai propor legalização rápida para imigrantes que forem trabalhar em setores mais afetados. Só na indústria hoteleira, há 250 mil vagas não preenchidas

A placa na vitrine da Red Rhino, uma popular churrascaria no centro de Paris, está pendurada há um mês: “Fechado até novo aviso devido à falta de pessoal”. O serviço de ônibus e trem foi reduzido em Lyon em meio à escassez de motoristas. No Vale do Loire, toneladas de vegetais não foram colhidas no verão, já que milhares de vagas de trabalho para colheita ficaram sem preencher.

A atividade econômica voltou a acelerar na França e em toda a Europa desde o fim das restrições provocadas pela Covid-19, ainda que a guerra na Ucrânia tenha freado um pouco o ímpeto da economia.

O resultado disso é que empregadores em vários setores da economia estão desesperados para contratar, com várias empresas sem conseguir preencher as vagas e não conseguindo operar na capacidade máxima.

Na segunda maior economia da Europa, a solução para a escassez de mão de obra em estudo pelo governo passa por dois caminhos – ambos politicamente inflamáveis.

O governo francês do presidente Emmanuel Macron está propondo uma legalização rápida para migrantes que vivem no país ilegalmente que desejam trabalhar em setores que enfrentam escassez de pessoal.

Como medida adicional, o governo quer rever o generoso sistema de seguro desemprego da França, com seus longos benefícios, em uma tentativa de fazer com que os desempregados voltem mais rapidamente ao mercado de trabalho.

Para milhares de empresas que formam a espinha dorsal da economia francesa, a abordagem de mão dupla tornou-se necessária para ajudar a aliviar os impactos do que parece ser uma mudança permanente na dinâmica do mercado de trabalho desde a pandemia: os trabalhadores europeus simplesmente não estão mais dispostos a atuar em longas jornadas e com salários relativamente baixos.

Funcionários do Hotel des Grands Boulevards, em Paris: para recrutar mais trabalhadores, a administração do hotel está tentando tornar os empregos mais atraentes — Foto: Violette French/The New York Times

Mais de meio milhão de pessoas na França pediram demissão nos primeiros três meses do ano, o nível mais alto em 15 anos, informou a agência de estatísticas do país.

– Nossa sociedade após a pandemia tem uma perspectiva diferente. As pessoas estão dizendo: eu não quero ter uma relação de sacrifício para trabalhar – disse Thierry Marx, chef francês com estrela Michelin que é presidente da UMIH, a influente associação comercial de restaurantes e hotéis da França.

‘Muitos trabalhadores desapareceram’

A escassez de mão de obra é maior na construção, transporte, enfermagem e agricultura, onde quase 400 mil empregos estão vagos somente na França.

A indústria hoteleira é particularmente afetada, com cerca de 250 mil vagas, principalmente em postos manuais, incluindo limpeza e garçons. Isso criou um aperto ainda maior em restaurantes e hotéis, já que o turismo voltou com força total na Europa após a pandemia.

No Hotel des Grands Boulevards, no bairro Sentier de Paris, o saguão fervilhava de visitantes recentemente. Mas Olivier Bon, co-fundador do Experimental Group, dono do hotel e de vários outros na Europa, disse que tem sido difícil recrutar pessoas, especialmente em empregos na cozinha ou serviço de mesa que exigem longas horas e salários limitados.

– Muitos trabalhadores desapareceram – é uma luta para encontrá-los – disse ele.

Para tornar o hotel e seu restaurante mais atraentes aos trabalhadores, a empresa agora oferece mais promoções internas. O grupo aumentou os salários modestamente, de acordo com uma nova escala salarial acordada pela indústria, e reduziu os longos intervalos na jornada de trabalho em seu restaurante, que acabavam estendendo o fim do turno dos funcionários para horários mais tardios. O restaurante agora interrompe o serviço às 22h45.

A França está apostando que a mão de obra imigrante pode ajudar a preencher as lacunas. Um projeto de lei que o Parlamento deve aprovar no ano que vem criaria autorizações de residência renováveis de um ano considerando as “habilidades sob demanda” para migrantes que vivem no país ilegalmente, que poderiam solicitar status legal mais rapidamente sem passar pelos empregadores.

Para quem solicita asilo, o projeto de lei também acabaria com a proibição de emprego durante os primeiros seis meses no país.

A França não está sozinha: a Alemanha está se preparando para mudar sua política de migração para atrair pessoas para o setor de saúde, tecnológico e para empregos de baixa qualificação, como serviços de bufê. A Holanda anunciou planos semelhantes para atrair mais imigrantes qualificados para esses tipos de funções.

Olivier Bon, do Experimental Group, que administra o Hotel des Grands Boulevards: “Muitos trabalhadores desapareceram” — Foto: Violette French/The New York Times

A poderosa indústria agrícola da França também apoiou a medida. Mais de 70 mil postos de colheita sazonais em fazendas não foram preenchidos neste verão, deixando toneladas de produtos sem colher, disse Christiane Lambert, presidente do principal sindicato agrícola da França.

As informações são do Jornal O GLOBO.

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