Entenda como Trump transformou banimento das redes sociais em negócio bilionário

donald trump banido das redes sociais

Donald Trump: ex-presidente disputa as eleições deste ano com Joe Biden (Joe Raedle/AFP)

Em janeiro de 2021, o então presidente dos EUA Donald Trump viveu uma situação inédita: foi o primeiro líder de um país a ser banido das principais redes sociais, como Twitter e Facebook. Em resposta, ele criou sua própria plataforma, que pode se tornar agora um negócio bilionário.

Trump era um fenômeno das redes sociais. Sua conta no Twitter tinha 88,7 milhões de seguidores e era parada obrigatória para quem quisesse saber em primeira mão dos rumos do governo dos EUA. Enquanto presidente, o republicano postava ali sobre suas ideias para novas medidas, respondia a críticas, iniciava polêmicas e atacava rivais. Não era raro que as postagens viessem até de madrugada.

Trump usou seu poder nas redes para tentar convencer o público de que houve fraude nas eleições de 2020, em que ele perdeu, sem apresentar provas. O avanço desse discurso teve como principal consequência a invasão do Congresso por seus apoiadores, em 6 de janeiro de 2021. Naquele dia, Trump levou algumas horas para postar uma mensagem para que seus apoiadores parassem e fossem embora.

Após o 6 de janeiro, o Twitter baniu sua conta, por incitação à violência. A Meta e o Google tomaram caminho similar, suspendendo o presidente de serviços como Facebook e YouTube logo depois.

Após o veto, Trump e seus apoiadores passaram a se concentrar em grupos e canais no Telegram, que não têm limite de usuários,e em redes menores, como Parler, Gettr e Rumble. Por ali, continuaram circulando mensagens como as que Trump postava, e até material mais pesado, com memes, fake news e histórias exageradas ou imprecisas.

O passo seguinte foi a criação da rede social própria, que ganhou o nome de Truth Social e foi lançada no começo de 2022 A plataforma começou simples, com poucos recursos técnicos, e imitava claramente o design do Twitter. Seu principal diferencial ali era a presença de Trump e suas postagens. Logo outros políticos e personalidades que o apoiam criaram contas lá.

Atualmente, Trump tem 6,7 milhões de seguidores na Truth Social, menos de 10% do que ele tinha no Twitter. Sua conta naquela rede social foi liberada depois que Elon Musk comprou a empresa e mudou o nome do negócio para X. No entanto, Trump não voltou a postar lá com regularidade.

Desde o começo, Trump tinha o plano de criar um ecossistema de mídia a partir da Truth Social, como uma plataforma de streaming de videos e um canal de notícias. Outra ideia era criar um serviço de armazenamento de dados na nuvem, para atender empresas. A rede social fazia parte de uma empresa chamada TMTG (Trump Media & Technology Group).

Ao longo dos anos, no entanto, a TMTG esgotou seu caixa. Segundo o New York Times, a empresa faturou apenas US$ 3,3 milhões em anúncios nos primeiros nove meses de 2023, e teve prejuízo de US$ 49 milhões.

Ações em bolsa

Nesta sexta, 22, foi anunciado que a TMTG irá se fundir com a DWAG (Digital World Acquisition Corporation). Com a manobra, o grupo poderá começar a negociar ações em bolsa, a partir de segunda-feira, 25. As ações da nova empresa serão vendidas com a sigla DJT, as iniciais de Trump.

O preço-base das ações da DWAG é de US$ 44. Assim, a nova empresa estrearia com valor de mercado de mais de US$ 5 bilhões. Como Trump é dono de 60% da empresa, ele teria um aumento de patrimônio de US$ 3 bilhões. Isso dobraria sua riqueza, avaliada pela Forbes, em outubro, em US$ 2,6 bilhões.

No entanto, esses possíveis ganhos ainda estão no papel, e há restrições para que Trump acesse o dinheiro. Pelo acordo de fusão, os acionistas majoritários não podem vender as ações por ao menos seis meses, e nem usá-las como garantia em empréstimos. Essas regras poderão ser mudadas se o conselho da empresa assim decidir.

Na fusão, a DWAG injetará US$ 300 milhões no negócio, o que dará fôlego para a Truth Social seguir operando. A DWAG é uma empresa de prateleira (shell company) que atraiu capital de mais de 400 mil investidores que são, em sua maioria, pessoas comuns que apoiam Trump. Neste modelo, chamado de SPAC (Empresa de propósito especial de aquisição), uma empresa é criada para reunir capital, fazer uma oferta inicial de ações e, só depois disso, se unir ou comprar um outro negócio e operá-lo.

O negócio quase foi barrado pela SEC, a comissão de valores mobiliários dos EUA, porque o órgão proíbe que SPACs discutam possíveis fusões em público antes de emitirem ações. A fusão com a TMTG foi liberada após o pagamento de uma multa de US$ 18 milhões.

Se o plano der certo, Trump poderá ter um grande ganho financeiro e conseguir mais tranquilidade para lidar com os pagamentos referentes ao mais de 90 processos na Justiça que enfrenta.

Na segunda-feira, vence o prazo para que ele pague uma multa de US$ 454 milhões, aplicada em um processo de fraude fiscal em Nova York. Se ele não pagar o valor ou conseguir um acordo, não poderá recorrer da sentença e corre risco de ter propriedades apreendidas pela Justiça.

Com informações da EXAME.

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