Como a guerra da Rússia pode derrubar a economia europeia

O risco de estagflação causa medo nos corações dos economistas – e formuladores de políticas monetárias – em todo o mundo. A Europa pode estar caminhando para algo ainda pior.

As sanções ocidentais impostas após a invasão da Ucrânia pela Rússia fizeram com que os preços globais da energia disparassem e a confiança do consumidor despencasse na Europa. A Rússia está sendo cortada dos mercados financeiros ocidentais.

Economistas esperam que a economia da Europa sofra como resultado. Os analistas do Barclays reduziram sua previsão de crescimento da zona do euro para este ano em 1,7 pontos percentuais, para 2,4%. Espera-se que o consumo privado, o investimento e as exportações cresçam a um ritmo mais lento em todo o continente.

Ao mesmo tempo, os preços da energia e de outras commodities, como trigo e metais, estão subindo rapidamente. O Barclays elevou sua previsão de inflação para a zona do euro em 2022 em 1,9 pontos percentuais, para 5,6%.

Em outras palavras, a guerra está alimentando a estagflação, que descreve um período de alta inflação e fraco crescimento econômico. O melhor exemplo recente é a década de 1970, quando um choque no fornecimento de energia atingiu as economias desenvolvidas.

A estagflação é um pesadelo para os formuladores de políticas monetárias, que têm poucas boas opções para conter os preços descontrolados sem prejudicar a economia. Nos Estados Unidos, na década de 1970, o presidente do Federal Reserve, Paul Volcker, acabou sendo forçado a aumentar as taxas de juros a níveis sem precedentes para controlar a inflação.

De volta ao presente, a Europa pode estar enfrentando agora algo pior do que a estagflação: uma possível recessão com inflação descontrolada.

O Barclays disse que, mesmo após os grandes rebaixamentos em suas previsões, a economia pode se tornar pior do que o esperado. A situação é altamente incerta, alertou o banco.
Qual é o pior cenário para a economia da Europa?

Uma proibição completa das importações de energia da Rússia elevaria os preços do petróleo Brent para US$ 160 por barril e levaria a zona do euro à terceira recessão desde o início da pandemia de coronavírus, segundo a Capital Economics.

“Um colapso no comércio de energia russo precipitaria o racionamento de energia em partes da Europa, o que, por sua vez, romperia as cadeias de suprimentos e poderia aumentar a pressão inflacionária globalmente”, disse a economista Caroline Bain.

“Os preços mais altos da energia também aumentariam os preços das commodities agrícolas e metais industriais”, acrescentou.

A Rússia, que precisa de receita de energia para financiar os gastos do governo e manter sua economia à tona, alertou o Ocidente sobre a proibição das importações de petróleo.

“É absolutamente claro que uma rejeição do petróleo russo levaria a consequências catastróficas para o mercado global”, disse o vice-primeiro-ministro russo Alexander Novak na televisão estatal, segundo a Reuters.

“O aumento nos preços seria imprevisível. Seria US$ 300 por barril, se não mais“, acrescentou Novak, que também atuou como ministro da Energia.

Autoridades dos EUA já estão discutindo a proibição de importações. Os líderes da UE deixaram claro nesta semana que o bloco ainda não pode se juntar aos Estados Unidos, por causa do impacto que teria em famílias e empresas.

Mas nada disso é uma boa notícia para os bancos centrais – especialmente o BCE, que se reúne na próxima quinta-feira (10).

“Achamos que o conflito manterá o BCE em espera e pode até exigir uma postura mais acomodatícia, já que o BCE fará o que for preciso (e o que custar) para evitar que essa guerra se transforme em uma crise econômica e financeira”, escreveram analistas do Barclays.

Isso provavelmente não significará aumentos nas taxas de juros antes de março de 2023 e nenhum compromisso de acabar com a flexibilização quantitativa. O Barclays também espera que o banco central mantenha todas as opções na mesa quando se trata de manter a estabilidade.
Gasolina nos EUA bate recorde: US$ 4,17 o galão

Os motoristas norte-americanos nunca pagaram tanto pela gasolina. O preço de um galão de gás regular agora é de US$ 4,17, de acordo com a Associação Automobilística Americana (AAA).

Isso quebra o recorde anterior de US$ 4,11 por galão, de julho de 2008.

À medida que a Rússia continua sua ofensiva militar na Ucrânia, os preços do gás estão subindo mais rápido do que desde que o furacão Katrina atingiu plataformas de petróleo e refinarias ao longo da costa do Golfo dos EUA em 2005.

A média de US$ 4,17 significa que o preço subiu 55 centavos por galão apenas na última semana, e 63 centavos, ou 18%, desde 24 de fevereiro, dia em que as forças russas invadiram a Ucrânia.

Os picos de preço do gás não vão parar tão cedo, disse Tom Kloza, chefe global de análise de energia do OPIS.

“Acho que chegaremos a US$ 4,50 o galão antes de dar a volta por cima”, disse Kloza. “O risco é o quão ruim isso fica, quanto tempo isso vai durar. Até US$ 5 o galão em todo o país é possível. Eu não teria previsto isso antes do início da guerra.”

Grande firewall da Rússia?

A internet da Rússia há muito se espalha entre o Oriente e o Ocidente.

Os cidadãos russos, ao contrário de seus colegas chineses, conseguiram acessar plataformas de tecnologia dos EUA, como Facebook, Twitter e Google, embora tenham sido submetidos a censura e restrições – a característica definidora do modelo de internet da China.

Mas a invasão da Ucrânia pela Rússia, que tem isolado cada vez mais o país nos últimos dias, também pode ser a sentença de morte para sua presença na rede mundial.

O clima: O governo russo disse na última sexta-feira que decidiu bloquear o Facebook, citando as medidas da rede social nos últimos dias para impor restrições aos meios de comunicação controlados pela Rússia.

Embora o Facebook não seja de forma alguma a maior plataforma do país, bloqueá-lo pode ser um movimento simbólico para indicar que o governo do presidente Vladimir Putin está preparado para perseguir grandes nomes globais se eles não seguirem a linha do partido.

Instagram e WhatsApp, que são mais populares na Rússia e também de propriedade da empresa-mãe do Facebook, Meta, ainda não foram bloqueados.

O principal regulador de telecomunicações do país, Rozkomnadzor, já está exercendo pressão sobre o Google sobre o que chama de informações “falsas”, e também restringiu o Twitter.

Outras plataformas estão optando por interromper as operações por conta própria.

Ser cortado da Rússia pode não representar uma ameaça existencial para as plataformas de tecnologia ocidentais, algumas das quais contam com uma audiência de bilhões. Mas esses movimentos têm grandes implicações para a capacidade dos russos de acessar informações e se expressar livremente.

Em um nível mais fundamental, também poderia acelerar ainda mais a fratura da internet global como a conhecemos.

As informações são da CNN.

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