Com guerra na Faixa de Gaza, Natal é cancelado em Belém

Decorações que antes adornavam os bairros foram removidas, e desfiles e celebrações religiosas foram cancelados; além disso, a tradicional árvore de Natal da Praça da Manjedoura estáausente

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Igreja da Natividade, em Belém, na Cisjordânia 09/12/2023REUTERS/Lucy Marks

Os sinos das igrejas ecoam pelas ruas labirínticas de Belém. Com a aproximação do Natal, a cidade na Cisjordânia ocupada por Israel deveria estar repleta de visitantes. Mas este ano está quase deserta.

Os líderes locais tomaram a decisão no mês passado de reduzir as festividades em solidariedade à população palestina, enquanto eram travados intensos combates entre Israel e o Hamas na devastada Faixa de Gaza.

Mais de 20 mil palestinos foram mortos durante a ofensiva aérea e terrestre de Israel, de acordo com o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas em Gaza, e quase 85% da população total do território foi deslocada.

A guerra foi desencadeada pelo ataque do Hamas, em 7 de outubro, no sul de Israel, no qual ao menos 1.200 pessoas foram mortas e mais de 240 foram feitas reféns.

Muitos em Belém têm laços com Gaza através de entes queridos e amigos, e um sentimento de tristeza recaiu sobre a cidade reverenciada pelos cristãos como o local de nascimento de Jesus Cristo.

Sem árvore de Natal

As decorações que antes adornavam os bairros foram removidas. Os desfiles e celebrações religiosas foram cancelados. No centro da cidade, a tradicional enorme árvore de Natal da Praça da Manjedoura está visivelmente ausente.

Viajar para Belém, cerca de oito quilômetros a sul de Jerusalém, normalmente não é uma viagem fácil. A barreira construída por Israel na Cisjordânia restringe a circulação, assim como os vários postos de controle que entram e saem da cidade. A situação só piorou desde o ataque do Hamas.

Desde 7 de outubro, Israel restringiu a circulação em Belém e outras cidades palestinas na Cisjordânia, com postos de controle militares que permitem o acesso e saída, afetando os palestinos que tentam chegar ao trabalho.

O território ocupado também sofreu um aumento da violência, com ao menos 300 palestinos mortos em ataques israelenses, segundo o Ministério da Saúde palestino.

“Meu filho me perguntou por que não há árvore de Natal este ano, não sei como explicar”, disse Ali Thabet.

Ele e a sua família vivem em Al Shawawra, uma aldeia palestina perto de Belém, e os visitam todos os anos no Natal, “porque a nossa relação com os nossos irmãos cristãos é uma relação forte.

Thabet explica: “Nós nos juntamos a eles em suas celebrações, e eles também se juntam a nós em nossas celebrações. Mas a temporada de férias deste ano é muito ruim”.

Hotéis, lojas e restaurantes fechados

Caminhando pelas ruas de paralelepípedos, o impacto do conflito é evidente.

As empresas contavam com um período festivo movimentado, depois de sofrerem com as dificuldades e restrições da pandemia do coronavírus. Mas sem as habituais multidões de turistas e fiéis, muitos dos hotéis, lojas e restaurantes fecharam.

A economia de Belém depende dos peregrinos e do turismo, explica Rony Tabash, proprietário de terceira geração de uma loja. O empresário fica do lado de fora da sua loja, à espera de clientes que nunca chegarão.

Lembranças e esculturas em madeira de oliveira do presépio estão nas prateleiras juntando poeira. A loja de Tabash é uma das poucas que permanece aberta, no desejo de apoiar os artesãos qualificados que confeccionam delicadamente suas mercadorias.

Tabash traz seu pai com ele à loja todos os dias para tirá-lo de casa. O avô abriu a vendinha em 1927, e este local, juntamente com a praça e a sua famosa igreja, tornaram-se “parte do nosso coração”.

“Nunca vimos o Natal assim. Há três meses, honestamente, não temos uma venda. Não quero manter meu pai em casa. Não quero perder a esperança”, continua.

Até a Igreja da Natividade, que se tornou o primeiro Patrimônio Mundial nos territórios palestinos em 2012, está praticamente vazia.

Em um ano normal, enormes filas serpenteavam o estacionamento, com peregrinos à espera para entrar na gruta, considerada desde o século II como o local exato do nascimento de Cristo. Uma estrela prateada de 14 pontas incrustada no chão de mármore marca o local preciso onde Jesus teria nascido.

No século IV, o imperador Constantino fundou uma igreja no local, que foi destruída no ano 529, apenas para ser substituída por estruturas maiores, que hoje constituem a base da igreja.

No interior, normalmente seria apenas espaço para ficar em pé. Mas, este ano, os combates em Gaza mudaram tudo. Agora você pode praticamente ouvir um alfinete cair.

“Nunca vi algo assim”, diz o padre Spiridon Sammour, sacerdote ortodoxo grego da Igreja da Natividade.

“Natal é alegria, amor e paz. Não temos paz. Não temos alegria”, lamenta.

“Está fora de nossas mãos e oramos pelos líderes que tomarão as decisões [em todo] o mundo para que Deus os ajude, dê-lhes sua luz para fazer a paz aqui e em todo o mundo.

*Kareem El Damanhoury, Eyad Kourdi e Sugam Pokharel, da CNN, contribuíram para esta reportagem

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