Tapa de Will Smith parece ter acertado comediantes do Brasil

É preciso entender que a liberdade de expressão termina onde começa a dor de alguém

Will Smith deu um tapa em Chris Rock no Oscar 2022 (Reprodução)

Qual o limite do humor? Entre comediantes, essa pergunta é sempre alvo de chacota como a questão chave de qualquer entrevista. Isso porque o assunto incomoda, faz pensar e tira qualquer humorista da zona de conforto blindada de problematizações.

O tapa de Will Smith fez brotar comediante dos bueiros do Twitter e ressuscitou até a turma do “CQC”. Sabe por quê? Doeu neles. Parece que a carapuça da piada de mau gosto de Chris Rock serviu como uma luva e o receio da reação proporcional chegar ao palcos do Brasil foi claro. E o que fazer para evitar que o episódio do Oscar aconteça por aqui?

Antes de refletir sobre isso, vamos relembrar o que aconteceu. Chris Rock fez uma piada com o visual careca de Jada Pinkett Smith ao compará-la com a protagonista de “G.I. Jane”, vivida por Demi Moore em 1997, sem cabelos. O detalhe é que a atriz foi diagnosticada com alopecia, doença autoimune que causa queda capilar, e o comentário a deixou extremamente desconfortável.

Sem pensar duas vezes ao ver sua esposa constrangida, Will Smith foi em direção ao apresentador e estapeou seu rosto no meio de uma cerimônia mundial. Na sequência, ainda mandou Chris Rock tirar o nome de sua amada da boca.

Há quem critique a violência usada por Smith no auge de sua indignação e repudie a brincadeira infeliz feita por Rock, há quem apoie a atitude impulsiva do ator porque, às vezes, um comentário ofensivo pode ser mais humilhante do que um tapa na cara, mas também há quem defenda o direito de Chris Rock ter feito a piada e aí mora o problema.

“O melhor argumento é: “Gente, mas a piada foi de mal gosto”. Bacana… vai lá ver o Patati Patatá que o episódio de amanhã tá show”, escreveu Rafinha Bastos no Twitter. “Chris Rock fez PIADA. Todos riram. Clima leve”, publicou Danilo Gentili ao comparar o efeito de uma piada (sem medir o que foi dito) com o de uma agressão.

Em pleno 2022, não deveríamos testemunhar nomes de grande influência na comédia brasileira se posicionarem a favor do que venha a ferir a moral de alguém. A questão não é se o tapa foi justificável e nem sobre o tipo de humor escolhido, mas que existe uma forma de comédia que não se tolera mais: a do desrespeito.

E há em quem se espelhe no Brasil como alguém que decidiu aprender a não errar mais quando percebeu que a graça não estava mais na ausência de respeito. Tatá Werneck é um nome a ser reconhecido como humorista do século XXI adequada às evoluções sociais do presente.

Depois de ser criticada por uma piada transfóbica no palco do “Lady Night”, a apresentadora contratou Ana Flor, uma mulher trans e acadêmica e mestranda em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), para avaliar seu roteiro antes de ir ao ar. E não! Isso não é censura. É preciso entender que a liberdade de expressão termina onde começa a dor de alguém.

“Quero que divirta, mas não que seja essa parada descompromissada com tudo. De repente, você tá lá e faz uma piada e, quando vê, tá sendo gordofóbica. Não quero essa coisa [da desculpa] ‘O humor acima de tudo’. Não penso assim…Mais. O mundo mudou para gente que tava viajando, porque já era errado. Sempre foi doloroso para quem estava sendo discriminado com essa carapuça do humor”, chegou a declarar Tatá para a jornalista Mônica Bérgamo.

O fato é que o escândalo envolvido por Will Smith e Chris Rock pode servir de régua moral para os humoristas brasileiros. Medo de violência não é a melhor forma de implantar o respeito, mas não há dúvidas que a reação exacerbada do ator fez uma pequena confusão na mente daqueles que vivem do riso. O que resta é ter esperança de que eles repensem na forma como querem tirar sarro das situações.

As informações são do Yahoo.

Sair da versão mobile