Felipe Ribeiro vive gay em ‘Maldivas’ após viver homofóbico em ‘Babilônia’

Ator carioca, de 30 anos, está de volta à ativa na nova série da Netflix

O ator Felipe Ribeiro, de 30 anos, define sua arte com facilidade. “Me dedico integralmente à profissão que é dar vida a vidas”, descreve o carioca, que após interpretar o homofóbico Fred na novela Babilônia (2015), da TV Globo, está de volta à ativa na pele do cabeleireiro gay Cauê, da série Maldivas, que estreou na Netflix no dia 15 de junho.

Ambientada em um condomínio da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, a trama é protagonizada por Bruna Marquezine, Manu Gavassi, Sheron Menezzes, Carol Castro, Vanessa Gerbelli e Natalia Klein, que ainda é criadora e roteirista da produção.

Na produção, os vizinhos do condomínio Maldivas fazem de tudo para manter as aparências. Liz (Bruna Marquezine), que acaba de chegar de Goiás, tenta desvendar os reais motivos por trás de um suspeito incêndio que matou sua mãe, Léia (Vanessa Gerbelli).

Atrás de respostas, ela tem de se esquivar da investigação policial e se infiltrar em um universo cheio de figuras peculiares, entre eles a síndica Milene (Manu Gavassi); Rayssa (Sheron Menezzes), uma ex-cantora de axé convertida em empresária de sucesso; Kat (Carol Castro), uma dona de casa e mãe de dois filhos que acoberta as falcatruas do marido; e Verônica (Natalia Klein), vizinha e melhor amiga de Léia.

Felipe vive Cauê, amante de Cauã (Samuel Melo), marido de Rayssa (Sheron Menezzes), em Maldivas. A parceria entre os atores em cena foi tanta que se estendeu para além da ficção após o fim das gravações da série. “Estávamos sempre trocando referências e conversamos muito sobre as cenas de beijo, tivemos muito respeito e confiança, entendendo claramente o limite das coisas. Foi ótimo porque, quando fomos para cena, não tínhamos questão nenhuma e fluiu tranquilamente. O Samuel virou um grande amigo, torço demais por ele e sei que ele torce por mim também. Quero muito que, se tiver uma segunda temporada, a gente consiga contar mais essa história, que ficou com gosto de quero mais”, afirma o ator, aos risos.

Leia, abaixo, o papo completo com Felipe:

Você atuou na novela Babilônia (2015) como o Fred, um personagem homofóbico e agora interpreta o Cauê, um cabeleireiro gay na série Maldivas, sua volta ao vídeo. O que é mais difícil de fazer?
Fazer o Fred em Babilônia foi mais complexo, porque o preconceito não tem fundamento apesar de ser fundamentado em alguma coisa. Mas é básico que cada um viva à sua maneira, com direitos iguais, cuidando de si, amando e sendo amado. Na construção do Fred, não conseguia achar um motivo plausível para ele agir daquela forma, acabei entendendo que ele queria pertencer. Os amigos dele agiam daquela forma, era um efeito manada. O Cauê é um personagem com infinitas possibilidades, dá muito mais liberdade.

Nesse tempo longe do vídeo, você participou do musical dos Dzi Croquettes. Eles foram fonte de inspiração para a composição do Cauê?
Sim! O Dzi foi uma escola, aprendi muito sobre estar em cena com eles. Trabalhávamos muito essa integração entre os pólos de masculino e feminino. Além do deboche, que o Cauê tem de sobra.

Você e o Samuel Melo são amantes em Maldivas. Como foi contracenar com ele? E as cenas mais picantes, são difíceis de fazer ou não?
O Samuel foi um grande parceiro de cena, esteve sempre disponível para trocar, construímos uma relação de muita confiança, até porque tínhamos poucas cenas para mostrar essa história. A gente teve um encontro com a Fátima Toledo, que preparou todo o elenco de Maldivas, mas também fizemos dois encontros por fora com a Fátima. Estávamos sempre trocando referências e conversamos muito sobre as cenas de beijo, tivemos muito respeito e confiança, entendendo claramente o limite das coisas. Foi ótimo porque, quando fomos para cena, não tínhamos questão nenhuma e fluiu tranquilamente. O Samuel virou um grande amigo, torço demais por ele e sei que ele torce por mim também. Quero muito que, se tiver segunda temporada, a gente consiga contar mais essa história, que ficou com gosto de quero mais (risos).

Você fala abertamente sobre a sua sexualidade?
Para mim é importantíssimo falar sobre sexualidade. Escrevo e pesquiso bastante sobre o assunto, acho que até por isso personagens com essa pauta acabam chegando para mim. A sexualidade é um pilar da sociedade, mas é tratada como tabu. O desejo não tem nome, não tem rótulo, ele é mais forte que tudo isso e, em muitas situações, por uma construção social, as pessoas acabam não vivendo plenamente. Não acho que isso aconteça só na relação homoafetiva, a estrutura patriarcal é muito forte e sempre tem personagens a serem exercidos quando, na verdade, o espectro da sexualidade vai além dos “papéis” estipulados.

Como você se definiria?
Eu me considero livre sexualmente, meu último relacionamento foi com um homem, mas sinto que tem algo de gente, pessoas, de química. A sexualidade é uma coisa mais comportamental do que fatídica. Mas, na infância, não fui o menino que esperavam e isso gerou traumas difíceis, principalmente em colégios. Eu não conseguia ir comprar meu lanche na cantina sem ser agredido verbalmente. Estudava em uma escola de freiras e ninguém sabia como lidar. Por muito tempo, fiquei sozinho me cobrando caber em alguma caixa e isso esbarra diretamente naquilo de você não viver plenamente, sempre com medo ou buscando aprovação externa.

Felipe Ribeiro e Samuel Melo em cena de Maldivas (Foto: Reprodução/Netflix)

A série foi filmada durante a pandemia. Quais foram os maiores perrengues?
O projeto foi extenso, tivemos duas paradas. Em dois, três meses de pausa, principalmente em contextos pandêmicos, a gente muda muito. Então, apesar de termos tido mais tempo, foram dois “quases” e sempre que a gente está começando um trabalho novo, a gente mergulha. Depois para. Além do fato de não ter visto o rosto de todas as pessoas, cria uma impessoalidade esse distanciamento obrigatório. Os protocolos eram rígidos e bem escalonados. E com o elenco, apesar de a gente se cruzar nos corredores, tivemos poucos momentos de interação. Mas na première estivemos juntos e foi muito divertido.

Falando em perrengues, como é se estabelecer no mercado hoje em dia? Desde que você começou a sua carreira, existe uma atividade paralela? Você consegue viver da profissão?
Eu comecei com o mercado “antigo”, depois fiquei quatro anos só fazendo teatro. Quando retomei, o audiovisual já tinha mudado, estava expandindo. De um lado é incrível a gente ter cada vez mais possibilidades, experimentar novas linguagens, personagens diferentes. Por outro, a gente está vivendo, sim, um momento de excesso de informações, o que também muda o jeito de consumir, coisa que a gente ainda está entendendo como funciona. Mas eu já fiz de tudo um pouco: já trabalhei no ateliê de um artista plástico catalogando obras, já fiz porta de festa, já dancei com um panetone em uma publicidade de Natal… Mas minha parada sempre foi com a arte. Fiz assistência de direção, figurino, operei luz em teatro e hoje em dia também escrevo e estou doido para dirigir. Na pandemia atendi algumas pessoas jogando tarô também (risos).

Como é o Felipe por trás das câmeras, no dia a dia?
O Felipe é um aprendiz, um cara que se dedica integralmente ao ofício e à profissão que é dar vida a vidas. Então, como tudo o que eu faço é vivo, mesmo que às vezes no automático, eu busco me observar e observar o mundo à minha volta. Eu amo estudar, comecei a fazer faculdade de filosofia on-line durante a pandemia também. Tenho três gatos e um cachorro, então estar com eles me dá um pouco de chão. Ficar com os meus amigos, falar no telefone (pasmem! Eu ainda ligo!), ir ao teatro, exposições e assistir filmes e séries também me recarregam. Estou no Rio por ora, morei quatro anos em São Paulo, e é uma cidade em que me sinto extremamente bem. Mas, nesse momento, mantenho minha disciplina de estudos e escrita, coisas que posso fazer em qualquer lugar. As ambições são muitas, mas prefiro deixar acontecer.

Vai haver outra temporada de Maldivas? Já tem outros projetos engatilhados?
Estou torcendo muito! Aprofundar a relação de Cauê e Cauã com Rayssa (Sheron Menezzes) é interessantíssimo, como o Cauã se assumiria publicamente… ou não. Além do mais, o Cauê pode trabalhar no SPA e render boas risadas. Nesse momento estou caminhando com projetos meus que vêm sendo trabalhados desde a pandemia, que foi um momento de grande imersão. Mas estou doido para estar no set de novo, criar personagem do zero é bom demais.

Junho é o mês de luta contra a homofobia. Você deu uma declaração falando que há ainda preconceito dentro do próprio meio LGBTQIA+. O que precisa melhorar?
Eu acho que o machismo está presente em absolutamente tudo. A criação do mundo veio disso, então todo mundo reproduz de alguma forma. Existem pequenas células dentro da comunidade que precisam se integrar, se ouvir e se enxergar mais, porque no fim das contas estamos todos lutando por questões básicas de respeito e direitos. Eu falei sobre isso no sentido de fazer um personagem que representa um estereótipo e, por isso, muitas vezes, ele pode ser visto mais como um animador de festa do que como alguém que pode ser verdadeiramente amado. Mas esse olhar e enxergar o outro sem “pré-conceitos” serve para a população inteira, porque é sobre julgamento – e eu não me excluo disso.

As informações são da QUEM.

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