Entrega do prêmio Camões a Chico Buarque corrige ‘um dos maiores absurdos’ contra a cultura brasileira, diz Lula

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Chico Buarque recebe diploma do prêmio Camões assinado por Lula e pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa — Foto: TV Brasil/Reprodução

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (24) que a entrega do prêmio Camões ao cantor e compositor Chico Buarque, com quatro anos de atraso, corrige “um dos maiores absurdos” contra a cultura brasileira.

Chico foi escolhido pela comissão julgadora do prêmio em 2019, mas o procedimento não foi concluído porque o então presidente brasileiro Jair Bolsonaro não quis assinar a documentação necessária.

“Hoje, para mim, é uma satisfação corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos tempos. Digo isso porque esse prêmio deveria ter sido entregue em 2019 e não foi. Todos nós sabemos por quê”, declarou Lula.
O diploma do Camões foi assinado nesta segunda em cerimônia em Sintra (Portugal) por Lula e pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e entregue a Chico Buarque em seguida.

O governo de Portugal chegou a indicar que Chico receberia o prêmio em abril de 2020, com ou sem a assinatura de Bolsonaro. A pandemia da Covid-19 e as políticas de isolamento social, no entanto, adiaram a entrega a Chico e aos vencedores das edições de 2020 a 2022.

A entrega nesta segunda acontece na véspera do aniversário de 49 anos da Revolução dos Cravos, movimento que pôs fim a uma ditadura de quase 50 anos em Portugal. A revolução é citada por Chico Buarque na música “Tanto mar”, de 1978, e foi lembrada pelo presidente português no discurso.

Lula afirmou a ‘negação’ das artes é um dos instrumentos usados por ditaduras, a exemplo do que ocorreu no Brasil e em Portugal no século passado. Para o presidente, o prêmio é uma resposta à censura.

“Não podemos esquecer que o obscurantismo e a negação das artes também foram uma marca do totalitarismo e das ditaduras que censuraram o próprio Chico no Brasil e em Portugal. Esse prêmio é uma resposta do talento contra o censura, do engenho contra a força bruta'” disse.

Discurso de Chico

Em seu discurso, Chico Buarque afirmou que “vale a pena” esperar quatro anos para receber o diploma do premio, mesmo que a espera, com uma pandemia e um “governo funesto” no meio, deram a impressão de que se passou uma “eternidade”.

Chico afirmou que recebe o prêmio como um “desagravo” aos artistas brasileiros e saudou o fato de Bolsonaro não ter assinado o diploma.

“Quatro anos, com uma pandemia no meio, davam às vezes a impressão de que um tempo bem mais longo havia transcorrido. No que se refere ao meu país, quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade, porque foram um tempo em que o tempo parecia andar para trás”, disse Chico.

“Hoje porém, nesta tarde de celebração, reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para a assinatura do nosso presidente Lula”, prosseguiu.

“Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados, ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo”, concluiu Chico.

O prêmio Camões

O Camões é considerado a principal premiação para literatura em língua portuguesa. Entre os brasileiros que já foram laureados, estão Raduan Nassar (2016), Ferreira Gullar (2010), Lygia Fagundes Telles (2005) e Jorge Amado (1994).

Além de Chico Buarque, ainda devem receber o prêmio o escritor português Vitor Manuel de Aguiar e Silva (escolhido em 2020), a moçambicana Paulina Chiziane (2021) e o brasileiro Silviano Santiago (2022).

Com informações do g1.

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