Como é a fábrica de hits precoces, músicas que viralizam antes do lançamento

Artistas soltam prévias de canções que estão fora dos tocadores como forma de aumentar engajamento e medir potencial de sucesso das obras.

De Livinho a Rosalía, como é a fábrica de hits precoces, músicas que viralizam antes do lançamento

(Foto: Divulgação/Gabriela Schmidt/Tito/g1)

De volta à sua raiz funkeira após meses de imersão no trap, MC Livinho emplacou um dos maiores hits do momento quase duas semanas antes de a música ser oficialmente lançada, em 23 de junho.

Ao som de 130 bpm, o refrão de “Novidade na Área” viralizou no TikTok após o cantor publicar vídeos, de 30 segundos, em que o trecho aparece como trilha sonora.

A repercussão foi tão grande que o músico chegou a fazer uma publicação desmentindo boatos de que a obra havia sido retirada do ar. “Ela está apenas sendo processada para ser lançada pela distribuidora”, explicou ele, no dia anterior à chegada da versão completa aos tocadores.

Livinho afirma que, se não tivesse soltado a prévia, a faixa provavelmente teria demorado mais para encostar em “Tá Ok”, de Kevin o Chris e Dennis DJ, no Spotify e, então, disputar o topo das paradas.

Mas mais do que uma estratégia para a conquista de um sucesso veloz, a publicação de prévias serve como um termômetro do potencial de futuros lançamentos.

Likes como indicadores do futuro
Em tempos de músicas cada vez mais curtas, bastam alguns segundos de audição online —nem sempre atenta— para que ouvintes julguem canções como boas ou ruins, grudentas ou esquecíveis.

É dessa lógica que nasceu uma das atividades mais conhecidas do projeto americano Song House, que tem mais de 1,4 milhão de seguidores no TikTok. Nele, artistas independentes têm apenas 30 minutos para compor trechos musicais que, em seguida, são postados nas redes. O vídeo que viralizar garante ao compositor contrato numa gravadora.

“Podemos saber se uma música está indo bem com base na proporção de visualizações e curtidas”, afirma Jacob Fox, cofundador do Song House. “Se começa a ganhar popularidade, todos os compositores se reúnem novamente no dia seguinte para finalizá-la. O lançamento é na mesma semana.”

Fox define o modelo como “extremamente positivo” aos artistas, porque, ao seu ver, proporciona “um feedback imediato”. Segundo ele, a tática serve para saber se vale mais a pena investir na música ou abandoná-la.

A nova era do consumo musical

Para Andre Morrissy, diretor da GR6 Music, uma das principais produtoras de funk do Brasil, o raciocínio de analisar a repercussão de pequenos fragmentos sonoros está diretamente atrelado à maneira como as pessoas consomem música atualmente.

No caso do funk, por exemplo, artistas, produtoras e gravadoras do gênero buscam dialogar principalmente com a juventude, já que ela compõe a maior parte dos fãs do estilo. Daí surge a necessidade de se adaptar, afirma Morrissy.

“Se eu focar apenas no lançamento, talvez, a galera nem consuma o conteúdo inteiro, tenha preguiça de ouvir”, diz ele. “A prévia é muito importante. Com aqueles segundos, o músico já pode mostrar o que tem de forte na arte dele e captar os usuários.”

O diretor cita o caso de “Ballena”, do rapper Vulgo FK, para exemplificar o nível de relevância que alguns segundinhos podem causar.

Com ainda somente uma prévia disponível, a música hitou no TikTok e, naturalmente, fez seus admiradores caçarem por ela nos tocadores, já que muitos desconhecem o fato de se tratar apenas de um trecho.

Morrissy conta que, diante da procura, houve quem produzisse um looping do som para fazer um upload não oficial nas plataformas. “A gente já derrubou pelo menos duas vezes. Querem pegar carona no sucesso e ainda lucrar com isso.”

Virou regra na indústria?

Cada vez mais comum dentro e fora do país, a prática de soltar prévias surgiu nos últimos anos com a ascensão das plataformas digitais de música, mas ganhou fôlego em 2022.

Foi quando a SounOn, plataforma de marketing e distribuição musical no TikTok, passou a permitir que artistas vazassem trechos de seus próximos trabalhos.

Um dos maiores hits de Rosalía, “Despechá”, por exemplo, bombou na Espanha pouco depois de a cantora upar 35 segundos da faixa na plataforma.

Ao lado da espanhola, artistas como Anitta, Ludmilla, SZA, Jack Harlow, Lil Nas X e Taylor Swift também aderem ao recurso.

Além de servir como termômetro de fama, a ferramenta possibilita também uma grana precoce aos artistas.

Mesmo que a música não tenha sido lançada, o músico consegue lucrar com os royalties já no pré-lançamento. E enquanto a obra não chega às plataformas, ele pode alterá-la quantas vezes achar necessário.

Mas ainda que a estratégia tenha se tornado recorrente na indústria, não são todos os artistas que abrem sorrisos à ideia.

Para muitos, a prática não passa de uma nova imposição do setor e um risco à liberdade artística. São argumentos semelhantes a quem diz sofrer pressão para bolar desafios e dancinhas de TikTok, como afirmaram Halsey, Ed Sheeran e Florence and the Machine, no ano passado.

“O que a gente nunca pode deixar acontecer é a arte ficar para trás e focar apenas nos números”, diz Morrissy, da GR6, sobre as críticas à prática. Ele ressalta ainda que a liberdade individual dos músicos é o que deve nortear as estratégias de cada lançamento, seja lançando prévias, ou não.

Com informações do g1.

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