Bruna Linzmeyer fala de Pantanal e da cultura sapatão: “amor transformador”

Bruna Liznmeyer sofreu lesbofobia durante quatro anos num consultório de psicanálise. Não foi tão explícito como aconteceu com uma de suas amigas, que ouviu da terapeuta: “Você não precisa de um caminhão, mas de um caminhoneiro”. Só que escutar da analista frases como “você não é lésbica” e “isso é uma fase” foi, ao poucos, minando a autoconfiança da atriz de 28 anos.

— Quando eu vi, eu não dançava mais, não bebia, não amava. Parei até de escrever. Ela me fez duvidar de mim, da minha escolha, do meu desejo — conta Bruna, em entrevista por drone na série do GLOBO, “Entrevista na janela”

Falar sobre essa experiência tem sido uma forma de ajudar outras mulheres. Bruna, que atualmente namora a DJ e artista visual Marta Supernova, se tornou uma voz importante no empoderamento LGBTQIAP+. Em suas redes, acolhe, encoraja e, sobretudo, colabora na construção do que chama de “cultura sapatão”.

Na entrevista abaixo a atriz, que está rodando o remake de “Pantanal” afirma que “ser sapatão é um pertencimento emocional, um lugar no mundo”. Ela também releva o que sentiu quando se descorbiu lésbica (“foi uma farra dentro de mim”) e o principal xingamento com o qual é atacada (“me chamam de anormal”).

Atriz posa na sacada do seu apartamento durante entrevista (Foto: O Globo)

Como será a sua “Madeleine”, papel que foi de Ingra Liberato na primeira versão de Pantanal?

Madeleine é o tipo de personagem que olho e falo: “Que bosta de vida, que merda que ela foi parar aí com as próprias atitudes”. Ela é capturada pela estrutura patriarcal e de classe, mas, ao mesmo tempo, está sempre buscando algo. Só que não encontra e vai se decepcionando. Não está disposta a ceder e vai endurecendo. É alguém que não se aconchega no abraço.

Você se tornou uma voz importante do empoderamento LGBTQIAP+. O que as pessoas que lutam para viver a sexualidade com liberdade têm precisado ouvir?

São tantas respostas… Somos muitas e diferentes, depende de onde a gente mora, da cor da nossa pele, das escolhas de cada um. A gente tem construído uma cultura lésbica. Ser sapatão não é só sobre amar ou fazer sexo com mulheres, mas sobre uma identificação histórica cultural, sobre um pertencimento que só é possível quando a gente encontra esse coletivo. Isso sempre vai ser importante, porque sozinha é muito difícil.

O que seria essa cultura sapatão?

Existem conversas e maneiras de perceber o mundo que só as sapatonas têm. Quais são as piadas das quais só a gente ri? Como vemos o mundo? Como nossa vivência pode ser interessante para o mundo no momento que não tem um homem aqui, para além da nossa sexualização, de duas mulheres se beijando? Ser sapatão não é só uma orientação, é também uma identidade. Para além de sexo e romance é uma identificação cultural, um pertencimento emocional, um lugar no mundo.

 

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