O que se sabe sobre caso do cônsul alemão preso por suspeita de matar o marido

A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga as circunstâncias da morte do marido do cônsul alemão Uwe Herbert Hahn no apartamento em que o casal morava, no bairro de Ipanema. Segundo a delegada responsável pelo caso, Camila Lourenço, não há dúvidas sobre autoria do crime.

Walter Henry Maximillen Biot, de 52 anos, foi encontrado morto na noite de sexta-feira (5) na cobertura onde vivia. Policiais militares e bombeiros foram chamados inicialmente para socorrer uma vítima de mal súbito.

Segundo informações do diretor do Departamento Geral de Polícia da Capital, Antenor Lopes, no dia da morte, o cônsul alegou que o marido havia sofrido uma queda e batido a cabeça.

Observando que o corpo do belga apresentava múltiplas lesões, os policiais abordaram Herbert Hahn no Instituto Médico-Legal quando faria a liberação do corpo do marido e identificaram contradições em sua versão, decretando sua prisão em flagrante.

O cônsul, detido no presídio José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio, passou por audiência de custódia no último domingo (7) e teve sua prisão convertida em preventiva, por determinação do juiz Rafael de Almeida Rezende, da Central de Audiência de Custódia em Benfica.

A defesa do diplomata pediu o relaxamento da prisão, alegando que ele possui imunidade consular, mas a Justiça entendeu que o benefício não se aplica ao caso, por se tratar de um episódio fora do ambiente consular e sem qualquer relação com as funções exercidas por Uwe Hahn.

Além disso, o juiz entendeu que é importante manter o cônsul preso, a fim de evitar colocar em risco a colheita de provas e de assegurar que não haverá fuga.

Depoimento do cônsul

Segundo informações prestadas por Uwe Hahn à polícia, seu relacionamento com Henri Biot somava 23 anos. Há quatro, o casal morava no Brasil.

O diplomata contou que, em maio deste ano, ficou sabendo que deveria se mudar para o Haiti por conta do trabalho. Seu relato é de que o marido estava feliz com a novidade até cerca de um mês atrás, quando passou a consumir bebidas alcoólicas em excesso e medicamentos para dormir por estresse com a organização da mudança.

Hahn afirmou que no dia da morte, última sexta-feira (5), seu marido teve um surto repentino enquanto os dois estavam no sofá. Biot teria, segundo o cônsul, ido correndo em direção à varanda, onde caiu no chão.

“Não consigo te dizer o motivo dessa reação. Eu consigo te dizer que nos últimos dois dias ele teve algumas vezes ataques de pânico. Ele estava nervoso. Algumas vezes ele estava agindo diferente”, disse à delegada responsável pelo caso, Camila Lourenço.

A versão, no entanto, difere do que atesta o laudo de necropsia da vítima. Segundo o documento, havia diversas lesões no corpo da vítima decorrentes de ação contundente, sendo uma delas compatível com pisadura e a outra com o emprego de instrumento cilíndrico (supostamente um bastão de madeira)

Além disso, a perícia no local detectou manchas de sangue no imóvel, notadamente no quarto do casal e no banheiro, compatíveis com a dinâmica de morte violenta”, pontua o perito no laudo.

Cena do crime

Segundo a delegada Lourenço, o apartamento em que Biot foi encontrado morto estava bastante sujo, com fezes e sangue espalhados pelos cômodos.

“Havia um sofá com a lateral com uma mancha úmida sugerindo como se alguém tivesse apressadamente limpado a região na tentativa de ocultar algo. Em um segundo momento foi feita uma pesquisa com o reagente luminol. Os peritos identificaram sangue na fronha, no chão, em diversos pontos do imóvel, e no banheiro”, detalhou.

Em depoimento à polícia, a secretária do cônsul disse que lavou uma mancha de sangue no apartamento. De acordo com o depoimento, ao qual a CNN teve acesso, a brasileira de 50 anos, contou que Hahn mandou uma mensagem de texto para ela na madrugada de sábado, dizendo “Walter está morto. Teve um infarto”.

A funcionária teria ido até o local na manhã de sábado, quando Hahn lhe relatou que a vítima começou a passar mal, correu em direção à varanda e caiu. A mulher disse que, nesse momento, percebeu que o cachorro lambia uma mancha de sangue. Ela, então, pegou um balde e detergente e fez a limpeza superficial da área.

Investigação

Embora tenha afirmado que não há dúvidas sobre a responsabilidade do cônsul pela morte do marido, a delegada Camila Lourenço continua as investigações do caso. Segundo ela, um dos objetivos neste momento é obter mais informações sobre o relacionamento do casal para contextualizar o ocorrido.

“É preciso analisar o histórico do casal, o pano de fundo, pra saber se havia um caso de violência doméstica, se a vítima era agredida, daí a necessidade de ouvir testemunhas. São circunstâncias que vão interferir na dosimetria da pena. A gente vai refinar a investigação pra apurar as circunstâncias”, afirmou a delegada.

Os dados obtidos pela perícia indicam que o belga Walter Biot foi morto por espancamento e o seu corpo apresentava marcas de agressões recentes e antigas — de, ao menos, dois dias anteriores.

No local, a polícia apreendeu um bastão e uma mangueira de ar condicionado que podem ter sido usados para o espancamento.

Nesta segunda-feira (8), a delegada ouve a diarista que cuidava do apartamento do casal e um amigo da família.

Os investigadores aguardam ainda a quebra do sigilo dos celulares do cônsul e da vítima para analisar o conteúdo dos aparelhos.

Procurada  a Embaixada da Alemanha em Brasília informou que, juntamente ao Consulado Geral no Rio de Janeiro, está em estreito contato com as autoridades brasileiras, mas que não fornecerá detalhes sobre o caso ou o cônsul.

*Com informações de Bruna Carvalho, Fernanda Soares, Isabelle Saleme, Pauline Almeida, Rafaela Cascardo e Rayane Rocha, da CNN, no Rio de Janeiro

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