Especialistas criticam liberação de bares e restaurantes no Rio de Janeiro

Infectologistas e pesquisadores fizeram críticas à flexibilização determinada pela prefeitura do Rio de Janeiro, que derrubou a restrição de horário para música ao vivo em bares e restaurantes e diminuiu o distanciamento entre as mesas. Para eles, a capital não apresenta melhora que justifique arrefecer o combate à Covid-19.

Pelo segundo dia seguido após a publicação do decreto com as novas regras, a CNN flagrou aglomerações em bares e restaurantes. Entre a noite de sábado (29) e a madrugada deste domingo (30), dezenas de pessoas se reuniram sem máscara na avenida Mem de Sá, no Centro; na rua Dias Ferreira, no Leblon, zona sul; e na avenida Olegário Maciel, na Barra da Tijuca, zona oeste.

Para a médica infectologista Tania Vergara, a decisão da administração municipal é “precipitada e inadequada”. “Continuamos com uma média móvel de mortes alta. O máximo que se pode dizer é que estamos em estabilidade, mas não em decréscimo. Ainda temos uma vacinação muito baixa. Não consigo entender porque a gente está tão relaxado neste momento”, avaliou.

Já para Diego Xavier, pesquisador da Fiocruz, “o Rio está pagando para ver” ao flexibilizar tais medidas que, segundo ele, não são prioridade no momento. O pesquisador também questionou a real capacidade de se fiscalizar os locais para garantir que esteja havendo distanciamento e uso de máscaras.

Ainda levantou dúvidas sobre qual é o processo de testagem e rastreio de casos que a prefeitura tem feito após as medidas de reabertura.

“Se não fazemos esse processo de fiscalização e de rastreio de casos de forma significativa, tudo o que podemos esperar são medidas num momento em que há o aumento da taxa de ocupação de leitos de UTI. Não se controla uma pandemia utilizando indicadores de ocupação de leitos para atendimento de casos graves”, ponderou.

Já para Celso Ramos, outro infectologista ouvido pela CNN, apesar da confiança no trabalho técnico do secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, é difícil compreender o relaxamento.

“Não vi melhora. Não atingimos um nível de vacinação que seja razoável, não somos Nova Iorque, não somos Reino Unido. Não sei porque estão liberando essas coisas”, afirmou.

Celso também criticou a redução do distanciamento entre as mesas. Antes, o limite mínimo estabelecido era de 2 metros. Com o novo decreto, passou a ser de 1,5 metro. O médico ironizou a medida e indagou se, agora, o vírus se prolifera a uma distância menor do que antes.

Após mais de um ano de pandemia, ele fez um desabafo: “essa pandemia mostrou e está mostrando nossa fragilidade como país, como sociedade, como gestores, políticos, médicos. Têm médicos postulando uso de medicamentos que não são eficazes, médicos dando atestado falso pras pessoas furarem a fila. É tudo muito absurdo.”

A flexibilização das restrições na cidade do Rio foi divulgada na última sexta-feira (28). Apesar de prorrogar algumas das medidas já vigentes em decreto anterior, como a proibição do funcionamento de boates, danceterias e salões de dança, a prefeitura decidiu por liberar as rodas de samba e não mais limitar horário para música ao vivo, que antes só era permitido até às 23h, além de reduzir o distanciamento entre mesas. O novo decreto também deixou de mencionar a proibição de acesso a ônibus fretados na cidade.

Secretaria de Saúde diz que mudanças são ‘tímidas’
Diante do anúncio, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, foi questionado e apontou que as mudanças ainda são “tímidas”. “A gente acredita que não é o momento de flexibilizar totalmente, apesar de entender o quanto é difícil as pessoas cumprirem essas medidas de distanciamento social. Ainda é o momento de se proteger, ainda é o momento de evitar exposição desnecessária”, defendeu.

O secretário municipal de Saúde também chamou a atenção para a importância da máscara. A capital fluminense soma mais de dez mil multas pelo não uso do equipamento de proteção. “A gente espera que essas multas diminuam, que as pessoas comecem a entender o momento que a gente vive”, apontou na coletiva em que apresentou o boletim epidemiológico da cidade.

Já a Secretaria Municipal de Ordem Pública, responsável pela fiscalização, informou que tem mantido equipes em pontos com incidência de denúncias de aglomerações.

As informações são da CNN.

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