‘Emprego formal’ foi o principal motivo dos auxílios emergenciais negados a candidatos de Campos,

Entre os 115 candidatos que solicitaram e tiveram o benefício negado, a maioria é empresário, tem emprego formal e renda acima de R$ 28 mil, alguns com mais de R$ 100 mil em bens; nove deles ainda podem receber o auxílio. (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Se 306 candidatos a vereador ou prefeito de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, conseguiram embolsar o auxílio emergencial, como mostrou o G1 na sexta-feira (30), outros 115 não tiveram o mesmo êxito. Mas a sorte de 15 deles é que a vida financeira não é lá das piores, já que suas declarações de bens variam de R$ 100 mil a mais de R$ 600 mil.

Ainda assim, nove candidatos não desistiram e ainda podem ser agraciados pelos R$ 600 concedidos pelo Ministério da Cidadania a pessoas em crise financeira por conta da pandemia. Outros seis possíveis representantes do povo, embora não tenham conseguido o benefício, têm o alívio de possuir de R$ 5 mil a R$ 10 mil em dinheiro, conforme declaração apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Entre os que tentaram (ou ainda tentam) o benefício, a maioria é empresário (10) e comerciante (8), mas há ainda advogado (2), economista (1) e publicitário (1). Os principais motivos do Ministério da Cidadania ter recusado o pedido de auxílio emergencial foram por conta de emprego formal e renda acima de R$ 28 mil (47), ou por já constarem em programas de assistência e benefícios previdenciários (30).

De R$ 100 mil a mais de R$ 600 mil

Entre os 15 candidatos que tentaram e não conseguiram receber o auxílio, constam declarações de bens que variam de R$ 100 mil a R$ 620 mil. São eles:

Rosimeire de Jesus dos Santos Lopes, a Meire Baiana, do PSL. Patrimônio de R$ 620 mil. Auxílio negado por ter renda superior a R$ 28 mil.

Walfredes Pereira Lopes, do PSL. Patrimônio de R$ 400 mil. Teve três parcelas creditadas (maio, julho e agosto), uma ainda em análise e outra cancelada por ter renda familiar mensal acima do permitido.

Luciano Silva dos Santos, o Luciano Marrom, do Republicanos. Patrimônio de R$ 353 mil. Auxílio negado por ter emprego formal e renda familiar mensal acima do permitido.

Eliete Araújo do Rosário Pereira, a Eliete Rosário, do PSDB. Patrimônio de R$ 300 mil. Auxílio negado por já possuir benefício previdenciário ou assistencial.

Francisco de Assis Pereira Rangel, o Chico Lanches, do PSDB. Patrimônio de R$ 270 mil. Auxílio negado por ter renda superior a R$ 28 mil.

Jefferson da Silva Francisco, do PSL. Patrimônio de R$ 250 mil. Auxílio negado por já possuir benefício previdenciário ou assistencial.

Felliphe Oliveira Barbosa, do PSDB. Patrimônio de R$ 211 mil, incluindo poupança de R$ 20 mil. Dois auxílios concedidos, dois previstos e um cancelado por ter patrimônio incompatível com a renda permitida.

Derley Martins Nunes, do Cidadania. Patrimônio de R$ 180 mil, além de R$ 5 mil em espécie. Auxílio negado por ter emprego formal e renda familiar mensal acima do permitido.

Paulo Roberto Pereira Gomes, do Avante. Patrimônio de R$ 163 mil. Auxílio negado por ter emprego formal e renda familiar mensal acima do permitido.

Amaro Siqueira Reis Júnior, o Pastor da Van, do Solidariedade. Patrimônio de R$ 152 mil. Auxílio negado por ter emprego formal.

Fábio José Neto Siqueira, o Fábio Hyena, do Cidadania. Patrimônio de R$ 150 mil, além de R$ 5 mil em espécie. Auxílio negado por ter emprego formal e renda acima do permitido.

Luciana Mothé do Nascimento, do Solidariedade. Patrimônio de R$ 150 mil. Auxílio negado por ter emprego formal.

Noêmio Ribeiro Sampaio, o Léo da Ambulância, do PC do B. Patrimônio de R$ 115 mil. Auxílio negado por já possuir benefício previdenciário ou assistencial.

Juliana Pacheco Matias, Juliana A Doméstica, do Pode. Patrimônio de R$ 100 mil. Auxílio negado por ter emprego formal.

Cassiano Ricardo Manhães, Cassiano Kakaw, do Pode. Patrimônio de R$ 100 mil. Auxílio negado por ter emprego formal e renda acima do permitido.

O PSDB, partido dos candidatos Felliphe Oliveira Barbosa, Chico Lanches e Eliete Rosário, respondeu em nota que “dado o sigilo fiscal pessoal de cada candidato, o partido não tem acesso e desconhece os fatos descritos”.

Jefferson da Silva Francisco, do PSL, disse que pediu o auxílio por estar desempregado. “Quero que alguém me prove de onde saiu esse patrimônio em meu nome de R$ 250 mil, quem me dera”. A informação consta na autodeclaração de bens feita por todos os candidatos junto ao TSE.

O G1 aguarda a manifestação dos demais candidatos citados na reportagem. Todos foram procurados a partir dos contatos cadastrados no TSE.

Dinheiro em espécie, apesar do auxílio

Outros seis candidatos que tentaram obter o auxílio emergencial, declararam ao TSE terem entre R$ 5 mil e R$ 10 mil em espécie. São eles:

Dalmir da Silva Barreto, do PTB. Declarou R$ 10 mil em espécie. Auxílio negado devido a dados inconsistentes no cadastro.
Kaio dos Santos, do Cidadania. Declarou R$ 5 mil em espécie. Auxílio negado por ter emprego formal.
Derley Martins Nunes, do Cidadania. Declarou R$ 5 mil em espécie. Auxílio negado por ter emprego formal e renda familiar mensal acima do permitido.
Carlos Márcio Crispim Rangel, o Marcinho Crispim, do Cidadania. Declarou R$ 5 mil em espécie. Auxílio negado por ter renda familiar mensal superior ao permitido.
Fábio José Neto Siqueira, o Fábio Hyena, do Cidadania. Declarou R$ 5 mil em espécie. Auxílio negado por ter emprego formal e renda acima do permitido.
Rodrigo Conceição Amaro, o Rodrigo Custodópolis, do Cidadania. Declarou R$ 5 mil em espécie. Auxílio negado por ter emprego formal e por já possuir benefício previdenciário ou assistencial.
Rodrigo Custodópolis afirmou que está desempregado, admitiu que ainda recebe o seguro-desemprego, e afirmou que os R$ 5 mil em espécie referem-se à venda de um carro.

O G1 aguarda a manifestação dos demais candidatos citados na reportagem. Todos foram procurados a partir dos contatos cadastrados no TSE.

Ricos com auxílio em Campos
Na sexta-feira (30) o G1 mostrou que mais da metade dos candidatos de Campos pediram auxílio emergencial, no total de 814, incluindo aqueles cujo registro está sub judice. Um relatório feito pelo Tribunal da União (TCU) identificou que, em todo o Brasil, 10.688 candidatos com patrimônio acima de R$ 300 mil conseguiram o auxílio, e outros 1.315 têm bens avaliados em mais de R$ 1 milhão.

Em Campos, dois candidatos com mais de R$ 1 milhão em bens receberam o benefício. Odvan Gomes da Silva, do MDB, ex-jogador do Vasco e da Seleção Brasileira, tem quase R$ 1,6 milhão. Ele recebeu quatro parcelas do auxílio emergencial, a última em 7 de outubro. Mas, procurado pela reportagem do G1, Odvan disse que não sabia de nada.

“Como a gente tem um nome, é uma pessoa conhecida mundialmente, as pessoas podem ter usado, como várias vezes no Rio também aconteceram essas coisas, mas enfim, eu estou tranquilo. Porque é a coisa mais fácil, né: pega Odvan e põe na internet, (qualquer um) tem todos os meus dados. Não estava sabendo de nada, você é a primeira pessoa que está me informando disso”, afirmou.

Já o comerciante Alexandre Almeida de Souza, o Alexandre Biscoito, do MDB, com patrimônio de R$ 1.155 milhão, recebeu cinco parcelas mais uma extensão. Em nota, o candidato confirmou que recebeu o auxílio.

“Eu estava registrado em uma empresa e, após a queda nas vendas, fui desligado. Recebi meu seguro-desemprego, e logo após veio a pandemia. Sem vínculos empregatícios, entrei, sim, com o pedido de auxílio emergencial. Com relação ao patrimônio declarado, eles foram adquiridos ao longo dos meus 29 anos de trabalho, em parceria com a minha esposa, e alguns ainda não estão quitados”, argumentou.

O TCU enviou o relatório ao Ministério Público Eleitoral, e determinou ao Ministério da Cidadania que faça uma revisão desses benefícios e informe quais medidas serão tomadas. Já o Ministério da Cidadania disse, em nota, que já cancelou mais de 1.200 benefícios irregulares de pessoas com patrimônio acima de R$ 300 mil.

Ainda entre os que receberam o benefício, estão 7 candidatos com mais de R$ 300 mil, e outros 16 tinham entre R$ 5 mil e 50 mil em espécie, conforme reportagem publicada pelo G1.

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