Witzel chama Flávio Bolsonaro de ‘mimado’ e senador rebate: ‘Arregão’

O ex-governador do Rio Wilson Witzel usou o depoimento da CPI da Covid, ontem, como palco para se defender das acusações que o levaram a sofrer impeachment e para atacar o presidente Jair Bolsonaro, a quem responsabilizou pelas mortes na pandemia. O ex-governador alegou ser vítima de “perseguição política” — o que, segundo ele, teria começado após a prisão dos assassinos da vereadora Marielle Franco (PSOL).

Witzel afirmou também que teve “praticamente zero” cooperação do Ministério da Saúde para o combate à pandemia da Covid-19 e que o “presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria”. Ele deixou a sessão antes de concluir o depoimento, por volta das 14h, fazendo uso do habeas corpus concedido a ele pelo Supremo Tribunal Federal, e protagonizou um bate-boca com o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, Jair Bolsonaro, que se estendeu para além da comissão, nas redes sociais.

— O nível cooperação do Mistério da Saúde foi praticamente zero — disse Witzel, que depois alegou que foi cassado por ter investigado morte de Marielle: — Tudo começou porque mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle. Quando foram presos os dois executores, a perseguição contra mim foi inexorável.

Witzel perdeu o cargo após um processo de impeachment por crime de responsabilidade em esquema de corrupção na área da Saúde. Ele foi alvo de investigações da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República, que detectaram um esquema de desvios de verba em sua gestão na pandemia.

Com base nas provas, a PGR apresentou três denúncias de corrupção ao Superior Tribunal de Justiça contra o ex-governador.

A investigação apontou, por exemplo, que o escritório de advocacia da mulher dele, Helena Witzel, recebeu pagamentos de fornecedoras do setor de saúde. Segundo denúncias, os repasses eram pagamentos de propina destinada a Witzel.
Um dos principais problemas na gestão dele foi a instalação de hospitais de campanha. Alguns foram fechados sem terem atendido a população. Na CPI, Witzel atribuiu os problemas a uma sabotagem de deputados estaduais, que estariam divulgando informações erradas sobre os gastos do governo com as unidades. Witzel responsabilizou o presidente Jair Bolsonaro pelas mortes na pandemia:

— Como em um país o presidente não dialoga com o governador? O presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria. O único responsável pelos 450 mil mortos tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado aqui, no Tribunal Penal Internacional pelos atos que praticou.

Após Witzel dizer que houve perseguição política contra ele, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) o interrompeu e sugeriu que a acusação era grave, gerando bate-boca.

— O que o depoente está dizendo aqui agora é que há um conluio de ministros do STJ para persegui-lo. Isso é muito grave — disse Flávio.

Pouco depois, Witzel, que chegou a chamar Flávio de “mimado”, disse que não são os ministros que precisam ser investigados e sugeriu uma reunião “reservada” só com integrantes da CPI. Flávio não é membro da comissão, mas foi à sessão.

— Nesta reunião eu faço questão de apresentar elementos para iniciar uma investigação de pessoas que estão desvirtuando (…) e nós vamos descobrir quem está patrocinando investigação contra governador, que o resultado é um só: 490 mil mortes no país — disse.

Mais tarde, Flávio foi ao Twitter onde anunciou: “Como o ex-governador do Rio Wilson ‘arregão’ Witzel fugiu da CPI, farei uma Live agora, no Facebook e Instagram, às 15h50, para tratar do tema”.

O bate-boca

O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), perguntou se Witzel se ele sentia intimidado com a presença de Flávio. O ex-governador disse que não, mas os dois começaram a discutir. Flávio também se desentendeu com alguns senadores, como o próprio Renan.

— Não tem nenhum problema estar na presença do senador Flávio Bolsonaro. Conheço desde garoto. Conheço sua família, seu pai de longa data. A minha questão aqui não é pessoal, é institucional em defesa da democracia — disse Witzel.

Flávio, que não é integrante da CPI, mas participa da sessão desta quarta-feira, ironizou:

— Que lindo discurso.

— Se fosse um pouquinho mais educado e menos minado, teria mais respeito. O senhor me respeite! — rebateu Witzel.

— Respeito não tem a ver com idade — respondeu Flávio.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), teve que intervir:

— Ninguém é criança aqui. Repeito mútuo, todos merecemos.

Governistas questionam o direito de a bancada feminina fazer perguntas sem integrar a CPI e geram bate-boca Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado – 05/05/2021Ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta sustentou discurso de que seguiu sempre orientações ténicas à frente da pasta Foto: Jefferson Rudy / Agência O Globo – 05/05/2021

Após uma discussão entre os dois, Calheiros e o vice-presidente da comissão Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmaram que havia um “clima intimidatório claro” de Flávio contra o ex-governador. Mas Witzel respondeu:

— Não vai me intimidar, não.

Witzel e Flávio continuaram se desentendendo.

— Vai esperar eu falar, rapaz? — perguntou o ex-governador.

— Aqui não é o que você quer, não! — disse Flávio.

Além de Renan, o vice-presidente a CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), avaliou estar ocorrendo intimidação:

— Há um claro ato aqui de intimidação ao depoente.

Renan e Flávio também bateram boca, como já tinha ocorrido em outras sessões da CPI.

— Seu pai parece que não te deu educação — disse o relator.

— Diferente da sua, graças a Deus — respondeu o filho do presidente Jair Bolsonaro.

Flávio justificava as constantes interrupções que fazia no depoimento dizendo que seu nome estava sendo citado. Omar Aziz criticou a postura dele.

— O meu nome é a toda hora tocado, de forma maldosa, até pelo presidente da República, que me chama sem me conhecer, sem ter nenhuma conversa com ele, faz acusações. Mas eu não trouxe isso à CPI — disse Aziz.

Flávio reclamou que havia um conchavo entre um investigado no STF, Renan, e outro investigado por desvios na Saúde, Witzel. E voltou a atacar o ex-governador, para quem fez campanha em 2018, mas depois se tornou adversário.

— Ele foi eleito mentindo, enganando a população do Rio de Janeiro. E se revelou sentado na cadeira — disse Flávio, acrescentando: — O senhor foi cassado. Quer fazer o que aqui nessa CPI? Há um conluio de toda a República?

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