Tradicional escola de balé corre risco de fechar após dona ser vítima de quadrilha PIX e perder mais de R$ 100 mil em SP

Com 53 anos de existência, uma tradicional escola de balé em Santos, no litoral de São Paulo, corre o risco de fechar as portas após a dona do estabelecimento ser vítima de uma quadrilha PIX e sofrer um prejuízo de mais de R$ 100 mil.

Ao g1, a diretora e proprietária da escola, Lúcia Millás, de 72 anos, disse que ficou impressionada com a rapidez da quadrilha. As transferências também foram realizadas via TED.

“Estava em São Paulo, indo para um lugar onde eu não sabia direito o caminho, e resolvi colocar no GPS, só que não gosto de usar aquele suporte, sabe? Mas, a minha amiga que estava comigo insistiu e colocou no suporte. Andamos duas quadras, paramos no sinal, um lugar movimentado, às 9h30, na Rua Vergueiro. De repente, estou olhando no retrovisor do lado do passageiro e vejo uma mão dando um soco e quebrando o vidro”, relembra.

Na sequência, o suspeito pegou o celular do suporte e roubou. Lúcia conta que o filho, que estava no banco de trás, levantou e queria correr atrás do ladrão, mas ela pediu para que ele não fizesse isso.

“Depois de muito custo, minha sobrinha conseguiu falar com a gerente [do banco], mas quando ela bloqueou a conta da escola, eles já tinham levado tudo. Fizemos todos os boletins de ocorrência, conversamos com todos os gerentes. A rapidez [dos criminosos], a maneira como agem é absurda”.

Lúcia afirma que os criminosos transferiram dinheiro de uma conta dela para outra, também dela, para despistar as transações. “Eles conseguiram entrar em três contas, uma jurídica e duas físicas. Imagina o meu desespero, né?”, lamenta.

De acordo com a dona da escola, que leva o nome dela, além de pegarem dinheiro usando o cheque especial das contas físicas, os criminosos subtraíram valores referentes às taxas de exames para teste em uma escola internacional, e também para as apresentações de fim de ano, que os pais já tinham pago, fora as mensalidades, recursos e cheque especial.

“O pior de tudo foi escutar do gerente do banco que ele sabe que não fui eu, mas que eles não podem fazer nada, porque os bancos todos estão sofrendo esses ataques, e que foram contra o Banco Central, que obrigou eles a ter PIX, todas essas facilidades, e que eles não vão reconhecer”, diz.

Segundo o boletim de ocorrência, o roubo aconteceu em 5 de outubro, no bairro Liberdade, na capital paulista. “Começamos a divulgar agora porque era uma fase muito complicada, de fim de ano, muita coisa para ser resolvida, fora correr atrás de tudo isso, falar com advogado, todos os processos que teriam que ser feitos. Estamos processando o banco”.

Dificuldade

Após o dinheiro para a realização do espetáculo de fim de ano ser roubado na ação, Lúcia explica que a apresentação ocorreu graças à ajuda de amigos.

“Todo mundo que trabalha para a gente durante o espetáculo, para fazer o processo de iluminação, cenário, de filmagem, nós só vamos pagar ano que vem. Aceitaram não receber nada e levar o espetáculo adiante. As taxas dos exames também, nossa gerente falou para resolver ano que vem, para minha sorte, mas isso tem que ser pago, né?”.

O roubo e todo o prejuízo fizeram com que Lúcia pensasse em fechar a escola de dança. “Mas, me dá muita tristeza fechar dessa forma, foram muitos anos de luta. A escola tem 53 anos, iniciei em 1969, pensando em juntar dinheiro para estudar fora do Brasil, me aperfeiçoar mais, acabei me apaixonando e ficando. Fui estudar fora, mas depois de algum tempo”, lembra.

“A escola tem mais ou menos 15 funcionários, desde a limpeza até a segurança, que trabalham para a gente, mais as professoras, fora aqueles que fazem os trabalhos sazonais, que vão perder a gente se fecharmos”, lamentou.

A pandemia afetou diversos setores, e com a escola não foi diferente. “As pessoas estavam com muita dificuldade, e mesmo assim, acho que conseguimos muito. Meus funcionários são maravilhosos, todos tiverem salários reduzidos, eu também, não precisamos mandar ninguém embora, porque todos colaboraram, todo mundo se ajuda, a gente quer continuar junto”.

Esperança

Uma campanha para arrecadar doações à escola está sendo realizada, e Lúcia espera, em primeiro lugar, conseguir angariar fundos para poder bancar os compromissos financeiros da escola.

“Principalmente porque agora, fim de ano, é uma época muito difícil, porque a escola para, e para de entrar recursos, também. Não é como um colégio que cobra 13 mensalidades. É uma fase muito difícil, quando a gente tem que cumprir todos os compromissos de 13º, férias e tudo mais”.

Segundo Lúcia, as pessoas têm mandado mensagens maravilhosas e colaborado com a escola. “Eu não vou dizer que espero conseguir todo o dinheiro [de volta], aquilo que vier será bem-vindo, e vamos tentar [manter] com o que vier. O mais importante, para mim, é perceber a solidariedade das pessoas”.

Questionada sobre o futuro, a empresária afirma que espera conseguir viver em um país mais “decente”. “Que a gente consiga fazer com que, mesmo que seja utópico, que a gente possa ter liberdade de ir e vir, sabe? De poder confiar de novo nos outros. Não precisar de vidro blindado, carro blindado, não precisar andar com os vidros fechados. Ter esse tipo de tranquilidade, isso é o mais importante para todos nós”, conclui.

Posicionamentos

Em nota, o Itaú Unibanco informou que suspeitas de golpes comunicadas por clientes são avaliadas de forma minuciosa e individualiza, e que, no caso em questão, a cliente contestou uma única transação que foi transferida do Itaú, via TED, para uma conta de sua mesma titularidade em outra instituição financeira.

O banco destaca que, ao serem vítimas de roubo de celular, os clientes devem contatar imediatamente o banco para bloqueio temporário de senhas, produtos ou serviços, e registrar boletim de ocorrência, de modo que as autoridades competentes possam tomar as medidas necessárias.

O Itaú orienta, ainda, que os clientes sempre utilizem o bloqueio de tela do celular, não deixem senhas anotadas no bloco de notas, e-mails ou mensagens, e nem usem a opção ‘salvar senhas’ nos navegadores de internet, além de cadastrar senhas diferentes para acesso ao banco e outras contas em aplicativos ou sites.

O Banco Central, também em nota, informou que, se a pessoa foi vítima de fraude, está no âmbito das medidas de segurança do PIX. Caso a instituição do suposto estelionatário já tenha suspeitado da fraude, ela pode acionar o bloqueio cautelar. Caso não tenha ocorrido, poderá ser feito o bloqueio no âmbito do Mecanismo Especial de Devolução.

Ainda de acordo com o Banco Central, a orientação é que o usuário faça o boletim de ocorrência e registre a reclamação junto à sua instituição financeira, que avaliará o caso e acionará o Mecanismo Especial de Devolução. A instituição do estelionatário efetuará o bloqueio, e então ambas as instituições têm sete dias para apurarem o caso. Sendo fraude, a instituição da vítima fará a solicitação de devolução, e os recursos serão devolvidos.

Caso o problema não seja resolvido, o cliente pode registrar uma reclamação, em até 45 dias corridos da ocorrência, junto ao Banco Central, no link disponibilizado pela instituição.

A reportagem também entrou em contato com o Sicredi, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

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