Putin ataca Ucrânia e desmoraliza Bolsonaro uma semana após encontro em Moscou

Foi na semana passada, e não há uma década, que Jair Bolsonaro saiu sorridente de um encontro com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Moscou. Em uma declaração conjunta, o líder brasileiro disse compartilhar “valores comuns” com o autocrata, como “a crença em Deus e a defesa da família”.

Foi naquele momento, em 16 de fevereiro, que Bolsonaro afirmou ser solidário a todos os países que “querem e se empenham pela paz”.

Uma semana depois, a Ucrânia amanheceu sob bombardeios. E conterrâneos de Bolsonaro, ilhados no território atacado, pediam ajuda para deixar o país.

As páginas de História registrarão, no futuro próximo, o momento em que o capitão classificou a relação com Moscou como um casamento “bem mais” que perfeito, capturada, segundo ele, pela fisionomia do anfitrião.

Bolsonaro disse ainda que Putin é “uma pessoa que também busca a paz” e cravou haver “uma grande sinalização de que o caminho para a solução pacífica se apresenta no momento para Rússia e Ucrânia”.

Bolsonaro, mais preocupado em posar para o meme do que para a história, ainda flertou com uma brincadeira que correu nas redes sociais segundo a qual ele foi o responsável por desatar os nós do impasse entre as duas nações. Há quem realmente levou a sério quando ele disse, numa galhofa agora leviana, aos olhos da História, que “por coincidência ou não, parte das tropas deixaram a fronteira” após a visita.

A “solidariedade” manifestada pelo presidente brasileiro momentos antes do início da guerra é a imagem que fica da viagem da comitiva para a Rússia. Uma desmoralização completa no plano interno e internacional.

Para o público interno, fica a dúvida: Bolsonaro foi feito de bobo ou não é bom em leitura de fisionomia? Ou os dois?

Em dezembro, o Instituto Datafolha apurou que 60% dos brasileiros nunca acreditam no que seu presidente diz; 26% confiam só às vezes. As garantias de paz trazidas por ele na bagagem ajudam a explicar a desconfiança.

Mais de dez horas após o início dos ataques russos ao território ucraniano, prontamente repudiados por líderes globais e organismos multilaterais, o post mais recente de Bolsonaro no Twitter era sobre uma viagem de seu ministro da Infraestrutura, por acaso seu pré-candidato ao governo de São Paulo, Tarcisio de Freitas, para inaugurar uma estrada em São José do Rio Preto (RS).

No vácuo, seus prováveis adversários na corrida pela sucessão já haviam se posicionado sobre o conflito.

Em suas redes sociais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que “ninguém pode concordar com guerra, ataques militares de um país contra o outro”. Para ele, “a guerra só leva a destruição, desespero e fome” e “o ser humano tem que criar juízo e resolver suas divergências em uma mesa de negociação, não em campos de batalha”.

“A humanidade não precisa de guerra, precisa de emprego, de educação. Por isso que eu fico triste de estar aqui falando de guerra e não de paz, de amor, de desenvolvimento”, escreveu o petista.

Ciro Gomes (PDT) afirmou que no mundo atual não existe mais guerra distante e de consequências limitadas. “Precisamos nos preparar, portanto, para os reflexos do conflito entre Rússia e Ucrânia. Muito especialmente por termos um governo frágil, despreparado e perdido”.

O ex-governador do Ceará disse ainda que a sociedade e outros Poderes precisam estar alertas para fiscalizar um Executivo com “políticas interna e externa cheias de equívocos e desvarios”. “O desequilíbrio na ordem internacional pode gerar efeitos de um outro tipo de pandemia, em especial neste Brasil hoje tão vulnerável. Para ficar em um só aspecto preocupante, basta lembrar que o barril do petróleo já passou dos 100 dólares, o que vai nos atingir em cheio por termos uma política absurda de preços rigidamente atrelada ao mercado internacional.”

João Doria, pré-candidato do PSDB ao Planalto, é “condenável a invasão da Ucrânia pela Rússia”. “Guerra nunca é resposta a nada. Ninguém ganha quando a violência substitui o diálogo. Muitos acabam pagando pelas decisões de poucos. O que está em jogo são milhões de vidas humanas. Mais do que nunca o mundo precisa de paz”, disse o governador paulista.

Sergio Moro (Podemos) também se posicionou, ainda que laconicamente. Ele disse repudiar a “guerra e a violação da soberania da Ucrânia”. “A paz sempre deve prevalecer”, disse, em tom curto e raso.

Enquanto os adversários se manifestam, Bolsonaro passava vergonha. Será que ele ainda acredita que Putin é realmente uma “pessoa que também busca a paz”?

Bolsonaro é conhecido pela verborragia e pela capacidade de criar e vender mundos paralelos. Desta vez foi desmentido, aos olhos do mundo, pelo barulho dos tanques e das bombas.

As informações são do Yahoo.

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