‘Princesa cristã’ e trabalho voluntário em hospital: saiba quem são os presos por sequestro e abuso de criança de 12 anos

Analista de TI e blogueira publicavam rotina de 'boas ações' nas redes sociais

Daniel Moraes Bittar e mulher têm prisão preventiva decretada pelo sequestro de menina de 12 anos

Conforme investigação da polícia, os suspeitos têm um relacionamento há dois anos e teriam morado juntos entre janeiro e fevereiro (Foto: Reprodução)

Presos por sequestro e abuso sexual de uma criança de 12 anos, em Brasília,, Daniel Moraes Bittar e Gesiely de Sousa Vieira gostavam de expor rotinas de “boas ações” nas redes sociais. Enquanto ela fazia diversas publicações de cunho religioso, Bittar postava mensagens de causas sociais, inclusive contra a pedofilia, exibia seu gosto por literatura e realizava até trabalho voluntário em hospital.

Daniel Bittar, de 42 anos, é pai de uma menina, analista de TI e trabalhava no Banco de Brasília (BRB) como servidor concursado desde 2015. Depois da prisão em flagrante, ele foi demitido por justa causa. Ele já vive no apartamento onde o crime aconteceu, na Asa Norte, há alguns anos e era considerado um homem discreto pelos vizinhos.

Nas redes sociais, suas principais publicações eram sobre causas sociais ou literatura. Na página do Facebook é possível que nos últimos anos ele publicou diversas mensagens políticas e sociais. Em outubro do ano passado, ele fez até uma postagem contra a pedofilia: “Pintou um clima? Não. Pedofilia é crime, denuncie”, numa referência à polêmica da época, quando foi divulgado um vídeo do então presidente Jair Bolsonaro dizendo que teria “pintado um clima” entre ele e crianças venezuelanas.

Em 2016, Bittar publicou outra mensagem contra o crime que ele próprio cometeu: “homens contra a cultura do estupro”. Publicações em apoio à causa LGBTQIA+ e à campanha do presidente Lula também podem ser encontradas no seu perfil.

Já no Instagram, o principal tema de Bittar era a literatura. Em algumas publicações, mostrava capa de livros que leu, como Áurica, Matéria Escura, Maldosas e A Garota das Laranjas. Ele próprio também já escreveu ao menos dois livros: Segredos de Verão e Quando o amor bate à porta. O segundo narra a história de uma mulher e uma criança de 6 anos que se unem após uma nevasca, por meio de um violino, para superarem o inverno e as tristezas.

Sua última postagem no Instagram, há três semanas, foi uma foto com a namorada, durante um jantar. Outra atividade realizada por Bittar era um trabalho voluntário em um hospital, para alegrar crianças internadas. A informação foi publicada pelo Correio Braziliense, após confirmação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

‘Princesa cristã”

Gesiely de Sousa Vieira, conhecida como Geisy, é mãe de dois filhos.

Segundo a polícia, ela foi cúmplice do crime e ajudou Bittar a raptar a criança de 12 anos, a dopando com clorofórmio. Segundo a PCDF, Bittar costumava enviar dinheiro a ela, em troca de fotos nuas.

Nas redes sociais, ela se define como blogueira e cristã. A sua conta do Instagram é fechada, mas no Facebook é possível encontrar diversas publicações de cunho religioso. Entretanto, ela também publicava fotos com roupas íntimas, além de vários memes, piadas e mensagens com referências a mãe solo.

Em uma das publicações, a imagem trazia a frase “Princesa Cristã”. Segundo o portal Metrópoles, ela possui ainda uma conta uma plataforma digital de conteúdos adultos. De acordo com a polícia, houve uma demora na identificação de Geisy devido ao excesso de filtros que ela usava em suas fotos.

O crime

Daniel Bittar foi preso em flagrante na última quarta (28), em seu apartamento, em Brasília, onde estava mantendo em cárcere privado uma criança de 12 anos. De acordo com a polícia, ele a raptou na saída da escola, com ajuda de Geizy, para estuprá-la.

No apartamento, os policiais encontraram a garota seminua na cama, algemada, e com escoriações no corpo. No local, ainda havia máquinas de choque, câmeras, objetos sexuais e material pornográfico. Estufa usada para produção de maconha e um galão com clorofórmio também foram encontrados. Há, ainda, a suspeita de que Daniel tenha registrado cenas do estupro em um vídeo. Os dispositivos eletrônicos localizados foram apreendidos e vão passar por perícia.

Segundo a polícia, o autor premeditou o crime e monitorava a escola onde a criança estuda, usando inclusive binóculos para localizar possíveis alvos. A menina de 12 anos teria sido escolhida por não estar acompanhada por pais ou responsáveis.

Encontrada pela polícia no apartamento de um analista de TI, na região da Asa Norte, em Brasília, a adolescente de 12 anos caminhava para a escola quando foi abordada por duas pessoas em um carro preto, por volta das 12h30 da última quarta-feira. O homem, identificado como Daniel Moraes Bittar, de 42 anos, e sua cúmplice, Geisy Souza, de 22, agarram a menina e a colocaram no veículo. Após a notificação de desaparecimento e investigações da polícia, os dois foram presos, e a menina libertada.

Depois de ser colocada à força no carro dirigido por Daniel, no Jardim Ingá, em Luziânia, no estado de Goiás, a adolescente diz ter sido levada para uma mata. Segundo a vítima, Geisy colocou um pano com produto químico — clorofórmio, de acordo com a polícia — em seu rosto, para dopá-la antes de ser levada até a casa do suspeito, onde chegou desacordada, dentro de uma mala e com os pés algemados.

A polícia foi notificada do desaparecimento da adolescente no início da tarde de quarta-feira, e chegou até o apartamento do criminoso por volta das 23h30 do mesmo dia. O trabalho de investigação começou com o deslocamento de agentes para o local onde ela foi vista pela última vez, próximo à escola onde estuda, com a informação de que ela teria entrado no tal “carro preto”.

Lá, os policiais descobriram, por meio de testemunhas, que um casal teria agarrado a adolescente e a colocado no veículo. Os investigadores solicitaram, então, imagens de câmeras de segurança das redondezas. Nas gravações, conseguiram identificar a numeração da placa do carro. Assim, chegaram à identidade do proprietário e, posteriormente, ao endereço dele.

A menina foi localizada por policiais do Grupo Tático Operacional do 3º Batalhão em cima da cama de Daniel, ainda com os pés algemados, e apresentava várias escoriações pelo corpo. Aos agentes, ela contou que ele usou uma faca para rendê-la. Além de Daniel, a mulher apontada como cúmplice do crime também foi presa por agentes da Polícia Militar de Goiás, em Luziânia, nesta quinta-feira.

Além disso, máquinas de choque, câmeras, objetos sexuais e material pornográfico estão entre os itens apreendidos pela polícia no apartamento do analista de TI. Uma estufa usada para produção de maconha e um galão com clorofórmio também foram encontrados no imóvel.

‘Sugar daddy’

O analista de TI Daniel Moraes Bittar, de 42 anos, preso por sequestrar e estuprar uma adolescente de 12 anos no Distrito Federal, matinha relação de “sugar daddy” com Geisy Souza, apontada como sua cúmplice no crime e presa nesta quinta-feira. Na relação, ele ofereceria dinheiro em troca de encontros com ela. Nesta sexta-feira, a prisão em flagrante dos dois foi convertida em preventiva.

A mulher detida por suspeita de ser cúmplice de Daniel disse à polícia que foi coagida a ajudar o homem. Identificada nas redes sociais como Geisy Souza, de 22 anos, foi presa no Entorno do Distrito Federal e foi levada para a 2ª DP, em Brasília.

— Ela diz que também foi ameaçada, que também foi vítima, mas totalmente infundadas as alegações dela. Se fosse vítima, no momento que foi liberada, deveria ter entrado em contato com a polícia informando que outra pessoa era mantida refém — disse o tenente coronel Arantes, da Polícia Militar de Goiás, que participou da operação.

A identidade da suspeita foi confirmada ao GLOBO por fontes envolvidas nas investigações. Ainda segundo as autoridades, Geisy Souza e Daniel Bittar se conheciam há dois anos. Nas redes sociais, ela se descreve como blogueira e anuncia uma conta em um site de conteúdos adultos. A mulher não tem passagens policiais.

Com informações do Jornal O GLOBO.

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