Presidente do BC diz não saber quando queda dos juros vai acontecer

Governo Lula pressiona por queda dos juros para acelerar crescimento; BC aponta risco de inflação. Selic está em 13,75% ao ano, maior patamar desde 2016 e maior juro real do mundo.

presidente do bc fala sobre queda de juros

Presidente do Banco Central, Campos Neto, participa de audiência no Senado — Foto: Pedro França/Agência Senado

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (24) que não sabe dizer quando a taxa básica de juros vai cair.

Atualmente em 13,75% ao ano, a Selic está no maior patamar em mais de seis anos. O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pressiona, publicamente, por uma queda nessa taxa para acelerar o crescimento da economia, enquanto o Banco Central aponta risco de inflação.

“Eu não tenho capacidade [de dizer quando o juro vai cair], até porque eu sou um voto dos nove, de dizer quando isso vai acontecer. Mas eu acho que a gente tem explicado que é um processo técnico, que tem o seu tempo e que as coisas têm caminhado no caminho certo”, declarou.

Durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, Campos Neto lembrou que as decisões sobre a taxa de juros são tomadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) – colegiado formado por ele e pelos diretores do Banco Central.

De acordo com pesquisa realizada pelo Banco Central na semana passada com mais de 100 instituições financeiras, a expectativa dos economistas é de que a taxa Selic comece a cair somente em meados de setembro deste ano – quando a taxa passaria para 13,50% ao ano.

Críticas de Lula

O presidente do Banco Central também comentou as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele tem sido alvo de críticas pelo atual patamar da taxa de juros e seu reflexo no crescimento do país e no emprego.

“Acho que o presidente [Lula] tem direito de falar sobre os juros, em nenhum momento reclamei sobre isso. Minha função é explicar de forma técnica como o BC vê isso. O Banco Central não é culpado pelas mazelas que o país passa, o BC é ator, esta no mesmo barco que o governo sempre. E tem de buscar harmonia com o governo e buscar achar solução para os problemas do país”, declarou Campos Neto.

Com autonomia fixada por lei, o Banco Central será comandado até 2024 por Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Decisões sobre juros

Questionado por senadores, Campos Neto afirmou que o BC presta atenção, nas decisões sobre a taxa de juros, para as contas públicas (aumentos de gastos tendem a pressionar a inflação, por exemplo), além da inflação atual e das expectativas para os preços nos próximos anos.

O presidente do BC afirmou, novamente, que o chamado “arcabouço fiscal”, ou seja, a proposta do governo de uma nova regra para as contas públicas, no lugar do teto de gastos (que limitava a maior parte dos gastos à inflação do ano anterior), foi um “movimento na direção certa”.

“A gente entende que o arcabouço remove o risco de ter uma trajetória de alta grande na dívida. Mas que não tem relação mecânica [com o processo de corte de juros pelo Banco Central]”, afirmou ele.

Como os juros são definidos

Para definir o nível dos juros, o Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central pode reduzir o juro básico da economia.

Neste momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para tentar atingir a meta de inflação do próximo ano, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.

A meta de inflação do próximo ano é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Na ata da última reunião do Copom, quando os juros foram mantidos estáveis em 13,75% ao ano, o maior nível em mais de seis anos, o BC avaliou que a inflação ao consumidor continua elevada.
Na ata de sua última reunião, o Copom avaliou que a desaceleração da atividade econômica em curso “é necessária para garantir a convergência da inflação para suas metas, particularmente após período prolongado de inflação acima das metas”.

O Copom informou também que o processo de redução da inflação “demanda serenidade e paciência na condução da política monetária [definição dos juros] para garantir a convergência da inflação para suas metas”.

Credibilidade para baixar os juros

Campos Neto afirmou, ainda, que gostaria de baixar os juros, mas acrescentou que, para que o país continue crescendo com inflação baixa, isso tem de ser feito de forma técnica.

“O BC quer cair os juros, BC gosta de trabalhar com os juros baixo, BC gosta de ter a economia crescendo de forma sustentada com inflação baixa. Houve períodos no passado com juros reais altas, e o resto [do mundo] baixo, mas não é o que está acontecendo agora”, declarou.
Ele explicou que eventuais cortes de juros têm de ser feitos no momento certo e com credibilidade para que se sustentem na economia. E afirmou que não adianta o BC baixar os juros de forma artificial, pois a taxa futura, cobrada pelo mercado financeiro, iria subir – gerando elevação das taxas bancárias.

“Escuto que se abaixar a Selic, melhoram as condições de crédito. Não. Vai melhorar e se eu tiver credibilidade com o que faço na Selic. Eu controlo os juros de um dia [Selic], e todo o resto da curva de juros é determinada pelo preço que as pessoas querem emprestar ao governo. Se eu não tiver credibilidade, posso baixar os juros curtos e os juros longos subirem”, explicou ele.

Com informações do g1.

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