PF mira empresários que defendem golpe caso Bolsonaro vença eleições

A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã desta terça-feira (23/08) uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão contra oito empresários bolsonaristas que defenderam, em conversas em grupos de aplicativo de mensagens, um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência, vença as eleições de outubro.

As ordens foram expedidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e miram endereços em cinco estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Ceará. Moraes determinou também que os empresários sejam ouvidos pela PF, que as contas bancárias e em redes sociais deles sejam bloqueadas e a quebra de sigilos bancários.

Entre os alvos estão Luciano Hang (Havan) José Isaac Peres (rede de shoppings Multiplan), Ivan Wrobel (Construtora W3), José Koury (Barra World Shopping), André Tissot (Grupo Serra), Meyer Nigri (Tecnisa), Marco Aurélio Raimundo (Mormaii) e Afrânio Barreira (Grupo Coco Bambu).

As conversas dos empresários no aplicativo WhatsApp foram reveladas pelo portal Metrópoles. Após a publicação das mensagens, advogados e entidades apresentaram ao STF um pedido para uma investigação no âmbito do inquérito das milícias digitais, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

O Estadão apurou que os celulares dos empresários foram apreendidos na operação. A PF estuda a possibilidade de pedir a prisão dos empresários dependendo do que as buscas revelarem, informou o portal G1. Investigadores querem ouvir os acusados ainda nesta terça-feira.

Um dia antes da ordem do STF para a PF cumprir mandados de busca e apreensão, o presidente Jair Bolsonaro chegou a chamar as mensagens de informação falsa. O pedido do Supremo foi feito na última sexta-feira e, na quinta-feira, o presidente disse a jornalistas, durante evento em São José dos Campos (SP): “Que empresários? Qual é o nome deles? Chega de fake news”.

Também nesta terça, mesmo dia em que a PF deflagrou a operação, Bolsonaro almoçou, em São Paulo, com representantes do setor privado. Além de empresários, estiveram presentes os ministros da Economia, Paulo Guedes, e das Comunicações, Fábio Faria, além do chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e de Tarcísio de Freitas, candidato ao governo de São Paulo pelo Republicanos. O encontro com empresários, no entanto, promovido pelo Grupo Esfera Brasil, já estava marcado desde o começo de agosto, apurou a Folha de S.Paulo.

O que dizem os empresários

Daniel Maia, advogado do empresário Afrânio Barreira, disse, segundo o site G1, que a operação é “fruto de perseguição política e denúncias falsas, as quais não têm nenhum fundamento”. Ele acrescentou que seu cliente está “absolutamente tranquilo e colaborando com a busca da verdade, a qual resultará no arquivamento da investigação”.

“Sigo tranquilo, pois estou ao lado da verdade e com a consciência limpa”, disse Luciano Hang, segundo sua defesa. “Desde que me tornei ativista político prego a democracia e a liberdade de pensamento e expressão, para que tenhamos um país mais justo e livre para todos os brasileiros”, prosseguiu. Hang também disse que foi vítima “da irresponsabilidade de um jornalismo raso, leviano e militante, que infelizmente está em parte das redações pelo Brasil”.

De acordo com o G1, a defesa de Ivan Wrobel disse que o cliente tem “histórico de vida completamente ligado à liberdade”. “Colaboraremos com o que for preciso para demonstrar que as acusações contra ele não condizem com a realidade dos fatos”.

Também de acordo com o G1, a assessoria de Luiz André Tissot disse que o empresário não vai comentar o assunto, enquanto a defesa de Marco Aurélio Raymundo alega que o cliente “desconhece o inteiro teor do inquérito, mas se colocou e segue à disposição de todas autoridades para esclarecimentos”.

Em nota enviada ao jornal Folha de S.Paulo, o empresário José Koury afirmou: “Não somos conspiradores nem a favor de nenhum golpe”. Segundo Koury, do Barra World Shopping, as mensagens de WhatsApp foram obtidas em um grupo privado e “deturpadas em seu sentido e contexto”.

Koury é o mesmo que, em conversadas reveladas pelo site Metrópoles, teria escrito preferir um golpe à volta do PT. Ele também teria sugerido pagar bônus a funcionários que votassem seguindo a orientação dos empresários.

Flávio e Eduardo Bolsonaro criticam operação
Pelo Twitter, o senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente da República, saiu em defesa dos investigados.

“É insano determinar busca e apreensão sobre empresários honestos, que geram milhares de empregos, alguns conhecidos de ministros do STF (que sabidamente jamais tramariam ‘golpe’ nenhum) por dizerem que preferem qualquer coisa ao ex-presidiário, numa conversa privada de WhatsApp”, escreveu. “Essa operação foi a favor ou contra a democracia?”, questionou.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), também filho do presidente, foi outro a criticar a determinação do STF, classificando-a como censura. “PF em casa devido a mensagens de zap?! Qual crime? É operação claramente para intimidar qualquer figura notória de se posicionar politicamente a favor de Bolsonaro ou contra a esquerda. Isto é um ataque à democracia em plena campanha eleitoral. Censura. Não há outra palavra!”, publicou no Twitter.

Também pelo Twitter, Margarida Salomão, prefeita de Juiz de Fora (MG) pelo PT, partido pelo qual foi deputada federal por três mandatos, correlacionou a sabatina de Bolsonaro no Jornal Nacionalcom a ação ordenada pelo STF.

Nas últimas pesquisas de intenções de voto, divulgadas na semana passada, Lula aparece em primeiro lugar na disputa ao Planalto, com chances de vencer no primeiro turno.

Na pesquisa Ipec, Lula aparece 12 pontos percentuais à frente de Jair Bolsonaro. De acordo com os dados, Lula tem 44% dos votos totais, contra 32% de Bolsonaro.

Já no levantamento do Datafolha, o ex-presidente petista aparece com 47% das intenções de voto totais, contra 32% de Bolsonaro.

 

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