Pastor, irmão e bispo: número de candidatos que se apresentam com identidade religiosa bate recorde

Com quase mil concorrentes ao Legislativo e ao Executivo que se apresentam usando termos como “pastor”, “bispo” e “padre”, a eleição de 2022 terá o recorde de candidaturas com identidade religiosa neste século.

Levantamento do GLOBO com base em dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até o início desta semana identificou 902 candidatos que declararam como ocupação “sacerdote ou membro de ordem ou seita religiosa” ou que exibem associações a alguma religião em seus nomes de urna, cerca de 25% a mais do que em 2018.

Os números apontam para uma maior concentração dessas candidaturas em partidos do Centrão, como Republicanos e PL, e em outras siglas mais próximas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), como o PTB. Já entre os partidos associados à esquerda, com exceção do PDT, que teve um salto de candidaturas religiosas puxado pela maior presença de nomes ligados a religiões de matriz africana, todos apresentam patamares iguais ou inferiores de candidatos com este perfil na comparação com 2018.

Com isso, as siglas deste campo figuram entre as que menos lançaram esse tipo de candidatura em 2022 — cenário inverso ao de 2002, na primeira eleição do ex-presidente Lula, quando PT e PSB figuraram entre os cinco partidos com mais candidatos identificados com religiões.

Avanço de pastores

Em 2018, de acordo com levantamento do economista Bruno Carazza, autor do livro “Dinheiro, eleições e poder: as engrenagens do sistema político brasileiro”, houve 736 candidaturas com identidade religiosa. O número, o maior à época desde 2002, segundo os dados compilados por Carazza, inclui também candidatos que já haviam exibido ocupação ou identidade religiosa em pleitos anteriores.

O deputado federal Marco Feliciano (PL-SP), por exemplo, concorreu em 2010 sem “pastor” junto ao nome, palavra incluída posteriormente nas eleições de 2014 e 2018. Neste ano, Feliciano voltou a se registrar na Justiça Eleitoral com o termo.

Usando o mesmo método, O GLOBO identificou 67 candidatos que, embora não apresentem hoje ocupação ou referências religiosas, trazem esse histórico de campanhas anteriores. São os casos dos deputados federais Jefferson Campos (PL-SP), pastor da Igreja Quadrangular, e Abílio Santana (PSC-BA), da Assembleia de Deus.

De acordo com o levantamento do GLOBO, o aumento de candidaturas religiosas neste ano é impulsionado pela maior presença de pastores e pastoras: são 476 candidatos que levaram esta denominação para a urna, 22% a mais do que o registrado em 2018. O Republicanos, sigla com mais pastores candidatos — 44, contra 42 do PTB, segundo colocado — é também pela primeira vez o partido com mais casos de identificação religiosa na urna: 89.

O PSC, que vinha liderando desde 2006 essa lista, hoje empata com o PTB em segundo, com 64 candidaturas. A sigla é presidida pelo pastor Everaldo Pereira, único presidenciável desde 2002 a concorrer usando um termo de associação religiosa em seu nome, e candidato a deputado federal neste ano.

O PTB, por sua vez, quintuplicou o número de candidatos com esse perfil, em paralelo à aproximação do presidente de honra da sigla, o ex-deputado Roberto Jefferson, com o bolsonarismo. Jefferson, embora esteja inelegível devido a uma condenação pelo mensalão, registrou-se candidato à Presidência tendo como vice uma liderança católica, o padre Kelmon Souza.

O PL também ampliou a presença de candidaturas religiosas a reboque da filiação de Bolsonaro, que apresenta entre eleitores evangélicos seu melhor desempenho nas pesquisas divulgadas por Ipec e Datafolha nesta semana. Nomes como Feliciano e o também deputado federal Sóstenes Cavalcante, ligado ao pastor Silas Malafaia, ingressaram na sigla para acompanhar o presidente.

— Há um envolvimento cada vez maior na política de lideranças religiosas, não só evangélicas. Isso se aprofundou com uma inclinação para partidos do Centrão e mais à direita. É possível que tenhamos um Congresso bastante conservador, seja pelo aumento dessa bancada religiosa ou porque esses candidatos podem puxar outros nomes dessas siglas — avalia Carazza.

PT estacionado

Os números mostram um avanço também das candidaturas de cantores gospel ou católicos que passaram a adotar esta identificação nas urnas. Neste ano, serão 26. Além de candidaturas com bagagem eleitoral, como a da cantora Mara Lima (Republicanos), que já teve dois mandatos como deputada estadual no Paraná, há movimentos como o das cantoras gospel Georgete Rocha (Podemos) e Beatriz (PP), postulantes a uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) pela primeira vez.

No campo da esquerda, o PDT do presidenciável Ciro Gomes encabeça o número de candidaturas religiosas, com 28 — seis delas usam termos como “mãe”, “pai” e “Ogum”, em referência a religiões de matriz africana. O PT aparece com 14, mesmo número que teve em 2002.

Entre os candidatos com identidade religiosa que manifestam apoio ao ex-presidente Lula estão nomes filiados a outros partidos, como o pastor Henrique Vieira (PSOL), candidato a deputado federal pelo Rio, e o pastor Paulo Marcelo Schallenberger (Solidariedade), que concorre a uma vaga na Câmara por São Paulo.

 

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