O que ainda falta para a Covid virar endemia no Brasil

Uma ampla cobertura vacinal para a população associada a um sistema robusto de monitoramento da pandemia foi a receita para que alguns países europeus abandonassem as medidas de restrição contra a Covid-19 e passassem a um novo cenário: o de endemia.

Julio Croda, médico infectologista e pesquisador da Fiocruz, explica que uma doença é considerada endêmica quando ela é comum em certas regiões, tem um número de mortes esperado e apresenta períodos de surto. Dessa maneira, é possível prever o impacto do vírus e estar pronto para contê-lo em caso de circulação.

O pesquisador Vitor Mori, membro do Observatório COVID-19BR, diz que países europeus, como a Dinamarca e o Reino Unido, organizaram um sistema amplo e eficaz de monitoramento para aumentar a capacidade de previsibilidade da doença. Em termos práticos, isso significa testagem, sequenciamento genético do vírus e controle de contatos.

Cenário no Brasil

A epidemiologista Lígia Kerr, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), lembra que uma endemia não pode ser decretada por canetada. “Depende de circunstâncias como o comportamento da doença na população, a taxa de imunização e a circulação de variantes”, aponta.

De acordo com ela, atualmente no Brasil, os indicadores – número de casos e óbitos – ainda precisam melhorar. “Nós estamos vivendo um momento que é de muito cuidado. Temos que avaliar sempre o comportamento dessa doença. A máscara e a vacinação ainda são as nossas maiores ajudas”, afirma.

Imaginar essa mudança de pandemia para endemia no Brasil seria possível com mais gente sendo vacinada, incluindo a aplicação de doses de reforço e a imunização de crianças. Segundo Kerr, a conjuntura do país hoje é a melhor que já tivemos, mas não significa que as coisas estão resolvidas.

“Não podemos relaxar, mas temos de acompanhar o que está acontecendo no mundo. Tudo o que acontece na Europa, em geral, poucos meses depois, está aqui. Temos que considerar a experiência internacional”, comenta.

Os pontos fortes

Diferentemente de outras nações, o Brasil conta com um sistema de saúde bastante capilarizado. Isso garante que as vacinas cheguem a locais afastados dos grandes centros urbanos, facilitando o amplo acesso à proteção.

Kerr diz que o uso correto desse sistema e seu fortalecimento são importantes para imaginar o controle da pandemia no país. “O SUS chega aos cantos mais difíceis do Brasil, isso é uma vantagem para conseguirmos vacinar e interromper a circulação do vírus”, comenta.

Risco de novas variantes

Uma endemia, entretanto, não significará que as coisas estarão resolvidas. Kerr ressalta que os surtos podem ser causados por novas variantes que, não necessariamente, serão mais leves. Por isso, flexibilizar em um momento inadequado pode ser ruim para a condução da pandemia.

Segundo Kerr, a Delta só não fez um “estrago grande” no Brasil porque tínhamos acabado de passar pela Gama e começamos a evoluir nossa cobertura vacinal. Esse cenário gerou certa proteção imunológica contra a cepa.

No caso da Ômicron, embora a maioria dos infectados tenha sentido apenas sintomas leves, a nova variante matou muita gente. “Atingimos patamares quase parecidos com o pico da Gama”, analisa a epidemiologista.

De acordo com a especialista, ainda temos grupos sociais que não tomaram a vacina e a aplicação das doses de reforço ainda não é satisfatória. A situação atrapalha o enfrentamento direto à variante Ômicron e afasta o cenário de endemia no país.

As informações são do Portal Metrópoles.

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